17 de abr. de 2010

(continuação 4) Capítulo 3 - Nikki

Angie me convenceu de mudar com um grupo de músicos atrás de uma floricultura do outro lado da Hollywood High School. Eles eram rock stars por todo lugar na casa: dormiam na banheira, nos degraus da frente, atrás das almofadas dos sofás. E de algum modo um deles queimou todo lugar uma tarde. Eu retornei da loja de discos e achei a casa em chamas, cercada por estudantes curiosos da escola. Com o meu baixo na mão – eu sempre carregava isso comigo caso alguém na casa roubasse ele – eu corri para dentro pra ver se eu poderia resgatar mais alguma coisa minha. Eu notei que ainda tinha um piano que tinha sido alugado por um cara que tinha deixado a cidade para visitar seus pais, então eu o arrastei para fora da casa, pelas esquinas, e por todo o caminho até a loja de música na Highland Avenue, onde eu o vendi por cem dólares.

Angie me deixou mudar com ela em Beachwood Canyon, onde eu vadiava por aí o dia inteiro ouvindo seus discos e pintando meu cabelo de cores diferentes enquanto ela conseguia dinheiro para nós trabalhando como secretária. Eu nunca pensei sobre o piano de novo até seis meses depois, quando dois policiais pararam e bateram na porta, procurando por um cara chamado Frank Ferrana que tinha roubado um piano. Eu disse pra eles que eu não conhecia ninguém com esse nome.

Quando Lizzie e eu não estávamos tentando montar nossa própria banda juntos, eu ia junto com Angie para Redondo Beach, onde ela ensaiava com sua banda. Eu os odiava porque eles curtiam Rush e tinham um monte de pedais de guitarra e falavam sobre hammer-ons e, o mais escandaloso de tudo, era que tinham cabelo enrolado. Se tivesse uma característica genética que automaticamente desqualificasse um homem de estar pronto para o rock, seria cabelo enrolado. Ninguém legal tem cabelo enrolado; pessoas como Richard Simmons, o cara da Greatest American Hero, e o cantor da REO Speedwagon tem cachos. As únicas exceções são Ian Hunter da Mott the Hoople, que seu cabelo é mais emaranhado do que ondulado, e Slash, mas seu cabelo é crespo e é legal.

Para mulheres, o equivalente de cabelo enrolado é ser estrábico. Se tivesse uma característica genética em mulheres que influenciavam elas a me odiarem, era ser estrábico. Eu sempre falhei com mulheres estrábicas, uma com quem aconteceu foi a companheira de quarto de Angie. Uma noite eu fiquei bêbado e tentei subir na sua cama, e ela disse para Angie tudo sobre isso no outro dia. Eu tentei convencer Angie que eu pensei que era ela na cama, mas ela me conhecia muito bem e me colocou pra fora da casa. Eu me mudei para uma favela infestada de drogas e prostitutas, e me concentrei em ficar em minha própria cama e ter minha banda junto com Lizzie.

Nós achamos um colar de cachorro de bronze gigantesco de um baterista chamado Dane Rage, um tecladista chamado John St. John, que carregava um órgão gigante de show pra show, e um cantor chamado Michael White, cuja pretensão de fama era que ele tinha gravado alguma coisa para um álbum tributo ao Led Zeppelin. Que, ali, deveria ter me avisado que não era o cara que eu estava procurando. A propósito, ele tinha cabelo enrolado. E era meio estrábico.

Nós vadiávamos por Hollywood de saltos alto e camiseta sem manga e tudo mais que nós pudéssemos exibir para chocar os fãs do Rush e dinossauros Led Zeppelin. Era 1979 e, quanto mais nós nos preocupávamos, o rock n’ roll morria. Nós curtíamos Mott the Hoople, New York Dolls, Sex Pistols, nós curtíamos tudo que ninguém mais curtia. Nas nossas mentes alcoólicas, nós éramos a banda mais fodida eternamente, e nossa confiança (e alcoolismo) atraia groupies fanáticas depois de uns shows na Starwood. Nós nos chamávamos London, mas o que nós realmente éramos era Mötley Crüe antes de Mötley Crüe.

A não ser por Michael White. Tudo que eu desprezava, ele adorava. Se eu gostava de Stones, ele gostava de Beatles. Se eu gostava de manteiga de amendoim cremosa, ele gostava com pedaços. Então nós o demitimos por ter cabelo enrolado, colocamos um anuncio no The Recycler, e encontramos Nigel Benjamin, que era um roqueiro de verdade em nossas mentes não apenas por que ele tinha cabelo liso, mas porque ele tocava na Mott the Hoople como substituto de Ian Hunter. Ele escrevia boas letras de músicas, e quando ele subiu no microfone ele gemeu. Ele realmente podia cantar, como ninguém que esteve na banda antes. Nós tínhamos um tecladista insano que tinha seu próprio Hammond, um baterista com uma grande pegada do Norte, e um vocalista britânico. Nós estávamos em chamas.

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