13 de jul. de 2011

Capítulo 1 - Mick (continuação 5)


Nikki: Eu penso que de alguma forma essa banda é repleta de disfunção. Nós somos cheios de andar para a beira da insanidade e desmoronar. Nós somos cheios de brigas. Nós somos cheios de drogas e overdoses. Nós somos cheios de ouvir que alguma coisa deu errado com outro membro da banda e a partir daí ele é o cara mau. Eu não sei se as outras bandas são assim.

Vince: Nós vestimos uma boneca para se parecer com o Wendy O. Williams dos Plasmatics, e durante o show eu cortei a cabeça dela fora com uma serra elétrica. Esse show foi na Pasadena Civic Center, antes de nós termos assinado com uma gravadora, e o equipamento, a pirofagia, as freiras sangrando na bateria, e todo o suporte deixou o nosso primeiro empresário sem dois mil dólares. Ele acabou ficando falido e quase louco pagando pelos nossos shows, nossa casa, e o aluguel de carros que nós amávamos destruir.

Mick: Não importa o que, eu sempre vou me sentir mais velhos do que os outros caras da banda. Quando eles disseram, "Deus, eu estou ficando cansado," na turnê do Feelgood, eu disse, "Agora vocês sabem como eu me senti na nossa primeira turnê." Mas, honestamente, eu não consigo pensar em uma coisa melhor para eu estar fazendo a não ser tocar, a não ser ir ao posto de gasolina e comprar cigarros.

Tommy: Eu criei esse puto monstro com a bateria. Todos mundo está sempre perguntando, "O que vem agora? Você se inclinou, você virou de ponta cabeça." E eu sempre me perguntava, "Merda, o que vem agora?" Daí, veio a mim: a próxima coisa fudida vai ser voar por cima da multidão na turê do Feelgood. Então, o que virá depois disso? Auto combustão? Eu não sei.

Tommy: A próxima vez que eu encontrar uma garota, eu irei pedir para sair com a sua mãe na mesma hora. Porque Heather Locklear, na primeira foto; Pamela Anderson na debaixo; e toda merda de garota que eu já tive algum tipo de relacionamento, eram todas iguais a sua mãe. Eu não consigo acreditar nisso, mas está sendo provado cada vez mais para mim.

Vince: Heidi foi a única mulher que eu conheci que conseguia ser um dos garotos, colocando dinheiro no fio dental das strippers, e fumando charuto com Mel Gibson no nosso último encontro antes de nos casarmos. Eu pedi para o Nikki se comportar no nosso casamento. Depois disso, Heidi e eu voltamos para nossa casa em Beverly Hills e adotamos dois pastores alemão que adoravam morder o Nikki.

Nikki: Eu levei minha esposa, Donna D'Errico, para um show em Austin, Texas, e ela vestiu essa blusa muito louca que dava pra ver tudo. Ninguém conseguia falar com ela, porque os deixavam nervosos. Eu vivia pedindo para ela ir falar com os membros de outras bandas só para ver eles se contorcerem.

12 de jul. de 2011

Capítulo 1 - Mick (continuação 4)

Tommy: Esse é o Mötley Crüe limpo, maus e secos pra caralho no Japão na turnê do Dr. Feelgood. A turnê inteira foi muito longa, nós estávamos prontos para um matar o outro no fim. Nós cortamos cerca de oito músicas do nosso último show, e antes do som dos pratos acabarem, nós já estavamos em um avião pra Los Angeles.

Vince: Estávamos todos drogados pra caralho em Estocolmo na turnê do Monsters of Rock em 1984, e eu não sei porque, mas nós estávamos com uma mania de mordermos uns aos outros. Nikki e eu mordemos a mão do Eddie Van Halen. Ele ainda conseguia tocar, mas ele estava puto. Mais tarde daquela noite, eu lembro de ver Nikki, parado no seu salto alto, levantando Malcolm Young do AC/DC pela garganta na parede do camarim .

Vince: Esse poderia ter sido qualquer dia na vida do Mötley Crüe. Nós tínhamos jatos, carretas, ônibus, helicópteros, e uma enorme equipe. Era um circo do rock n' roll com uma audiência insana. Nós estávamos primeiramente em Connecticut e eu tinha toda aquela manta em volta do meu pescoço. Eu me abaixei demais e aquelas garotas começaram a puxá-la até elas me derrubarem no meio do público. Nessa hora, os seguranças subiram no palco, e eu estava totalmente pelado se não fosse pelas minhas botas. Eu segurei meu pinto e sai correndo do palco.

Nikki: Eu tinha escrito uma música sobre criticar as pessoas sem conhecer para o nosso álbum de 1984. Então nós tínhamos enormes suástica, que era usada como símbolos de paz em outras culturas, rodando na lateral do palco e eu dizia as pessoas para não julgar um livro pela capa. Ao mesmo tempo, eu estava tentando zoar com a mídia. Mas eles nos julgavam pela capa de qualquer jeito. Nossa gravadora destruiu quinhentas cópias do livreto do nosso álbum quando eles viram essa foto lá. Daí, eles editaram a foto para esconder a regalia da S.S.

25 de abr. de 2011

Capítulo 1 - Mick (continuação 3)

Tommy: Esse era o backstage depois de nosso primeiro show abrindo para o Ozzy Osbourne em 1984. Essa foi minha primeira experiência dessa grande merda, apenas olhando e vendo vinte mil pessoas do caralho todas as noites, especialmente considerando de onde nós viemos.

Mick: Essa foto e a debaixo, são fotos titadas da "blood session" que nós tiramos com Neil Zlozower. Isso parece com nosso primeiro show que nós fizemos em Edmonton em uma boate chamada Scandals para cem pessoas. Uma garrafa de cerveja acertou Nikki na mão enquanto ele esava tocando e começou a gotejar sangue na audiência. Alguma outra pessoa tentou atacar Tommy, mas nosso gerente, que esteve bebendo, pegou a cabeça do cara com sua mão e a bateu em seu joelho, destruindo o dente da frente do garoto.

Mick: Aqui sou eu e Nikki no Whisky A Go-Go em 1981. O banner atrás de nos é Nikki ou Tommy com o lençol sujo, que ainda tinha marcas de sangue das garotas que eles tinham dormido.


Nikki: A foto acima é do Girls, Girls, Girls, e a debaixo é um show clássico do Shout at the Devil. Quando todas as bandas tentaram copiar nosso visual, nós criamos um juntando Mad Max e Escape from New York. A turnê inteira do Shout at the Devil foi inspirada nesses dois filmes: uma única ombreira, a pintura de guerra embaixo dos olhos, as fileiras dos amplificadores contruídas com estacas, a bateria em cima de pedras, e a cidade destruída no pano de fundo.


Nikki: Nós queríamos fazer uma sessão de fotos com Mick Rock porque ele tinha fotografado todos os nossos ídolos. Essa foto foi uma das tiradas, Tommy e eu tínhamos cheirado 10cc de heroína cada um. Vince estava cheirado, e Mick estava tão bebado que apoiá-lo para que ele não escorregasse.

21 de abr. de 2011

Capítulo 1 - Mick (continuação 2)

Eu nunca prestei muita atenção em garotas. Eu conheci meu primeiro amor na casa do irmão do Garcia. Ela tinha catorze anos e um dos irmãos mais novos do Garcia – devia ter no mínimo uma dúzia de irmãos do Garcia correndo por aí – trouxe ela pra casa do ginásio – Nós começamos a sair, e eu percebi que estávamos namorando depois de um tempo.
Uma noite, eu a chamei para sair, e ela disse que seus pais estavam a fazendo ficar em casa com eles. Então eu fui jogar boliche com o Joe Abbey no lugar – e ela entrou no boliche com outro cara. Eu fiquei acabado. Eu perguntei a ela o que ela estava fazendo fora e ela gaguejou alguma coisa, porque ela estava bêbada. Enquanto eu sentir minha testosterona fluir no meu coração, fazendo meu sangue queimar, meus amigos me levaram pra fora do boliche e me colocaram no carro deles. Eu desisti das mulheres nesse dia. Todos os conceitos sobre mulher, namoros, e transar caíram no meu conceito, permitindo-me passar mais tempo praticando. Para o natal nesse ano, minha tia Annie, que sempre acreditou em mim mesmo quando os amigos e a família não acreditavam, me comprou uma Les Paul qualquer por noventa dólares. Daí em maio, uma criança me deu uma Stratocaster 1954

fig.2 Mick com o seu filho Les Paul


quando ele se formou porque ele nunca tinha tocado isso. Naquela época, eu não era mais um dos três melhores guitarristas na minha idade. Eu era o melhor.
Logo eu parei de tocar com o Garcia Brothers: aquilo começou a ficar assustador demais. Atividades de gangues continuavam envolvidas com as atividades da banda, e gangues rivais estavam vindo para começar brigas. Um dos Garcia Brothers mais tarde parou na prisão depois de acidentalmente matar uma garotinha em um passeio de carro – atirando e outro acabou tocando na banda de Richard Marx. Eu disse a vocês que eles eram maus.
Os irmãos costumavam trabalhar com um cantor chamado Antone, qual era provavelmente um dos melhores cantores negros que eu já tinha ouvido. Ele me despejou em uma banda de blues em Fresno que ele estava trabalhando que precisava de um guitarrista. Então eu empacotei minhas duas guitarras, peguei emprestado um amplificador de um amigo, e eles me pegaram e levaram para Fresno.
Eu estava animado primeiramente, porque era uma banda só de negros e eles me queriam para ensiná-los sobre ritmo e espírito. E sentei com eles o dia todo e mostrei e eles tudo o que eu sabia, e a noite eu dormi em uma mesa de bilhar na casa de clube deles. Mas eles ficaram frustrados quando eles não pareceram com John Lee Hooker depois de uma semana, embora eu continuasse dizendo a eles que manter a calma, relaxar e ser paciente é parte de onde o espírito vem. Enquanto eu os ensinava uma escala de blues na varanda, um homem velho e negro chegou em um Cadillac 1960 com uma extravagante guitarra na bando. Ele era tão grande que seus braços praticamente arrastaram no chão quando ele abriu a porta e saiu. “Isso é blues,” eu disse para os caras da banda. “Você está vivendo o blues.” Mas eles não conseguiram tocar aquilo não importava o quanto eles queriam. Eu estava tão decepcionado, e eu me senti velho demais por desperdiçar meu tempo assim. E acho que eu sempre me senti velho demais, mesmo aos dezessete anos.
Eu fui para Fresno sem dinheiro, esperando que logo nós estivéssemos conseguindo dinheiro fazendo shows. Mas não teve shows, e eu estava duro. Então eu pedi emprestados dez dólares para o baterista para comer. Depois de alguns dias, tudo o que eu ouvia era, “Você me deve dez dólares.” Eles estavam tendo aula de graça, e tudo o que eles conseguiam pensar era no dinheiro e avareza. Eu selecionava melancias no meu tempo de sobra para ganhar um extra para comer, mas eu não consegui o suficiente para pagar minha divida. Então a banda acabou antes deles sequer começarem. Eles me levaram para casa, apenas para que eles pudessem atacar minha tia Telma pedindo dez dólares quando ela abriu a porta. Avareza é um dos maiores obstáculos para o sucesso, logo após o egoísmo.
(Eu consegui pagar mais tarde minha tia Telma, que passou a ser uma das maiores fãs do Mötley Crüe. Ela gravou todos os clipes novos, escreveu para todas as revistas de metal, e, apesar de ser parcialmente surda, foi a todos os shows que ela podia. Quando seu marido morreu, de alguma forma, ela desapareceu.

21 de mar. de 2011

Capítulo 1 - Mick (continuação)

Aos catorze anos, eu entrei pra minha primeira banda, a Jades, uma banda cover de Beatles com algumas próprias que poderiam muito bem terem sido música dos Beatles. Eu comecei no baixo, mas logo eles substituíram seu guitarrista. Nosso primeiro show foi no American Legion Hall em Westminster, e nós conseguimos doze dólares para dividir entre nós quatro. Nós nunca fomos chamados de volta, entanto: ou nós éramos pesados demais ou muito ruins.

Eu tinha um amigo chamado Joe Abbey, um samoano que nunca abriu mão da guitarra surf e podia tocar tão bem que ele faria você cair de joelhos. Eu queria pegar emprestado seu amplificador e seu pedal, mas ele disse que eles pertenciam a Garcia Brothers. Ele me deu o telefone deles, e foi onde tudo realmente começou.

Eu entrei na casa deles, e achei três deles – Tony, Johnny, e Paulie. Eles eram grandes e miseráveis e lideravam uma gangue chamada Garcia Brothers. Tony era um guitarrista que teria seus irmãos espancados se alguém falasse que eles eram melhores que ele, Paulie era um baterista alto que era infeliz porque ele se sentia como se ele devesse tocar guitarra, e Johnny era um baixista que tinha sido levado para a autoridade quando ele tinha dezesseis anos por espancar dois policiais. Eles também tocavam com um não-irmão, Paul, um tocador de gaita que parecia Jesus. Eles eram rígidos, e eles não tocavam surf rock ou Beatles. Eles tocavam blues. Blues elétrico e pesado.

Os vizinhos dele os odiavam, porque eles sabiam que os irmãos estavam usando drogas e brigando. Por alguma razão, eram sempre pessoas cegas, surdas, ou aleijadas em volta dos irmãos, e eu imagino que isso era evidência que um dos dois tinha um lado suave e compassivo ou estavam correndo de algum tipo de mistério defraudado. Às 9 da noite, numa noite, os policiais nos prenderam por causa de queixa de barulho, e eu reconheci o que eles chamavam de condicional de verão basicamente apenas por tocar minha guitarra. (Isso talvez seja o porquê agora eu tenho aversão aos vizinhos que fazem queixas do barulho.) Nós formamos uma banda pretensiosamente chamada Sounds of Soul, e tocamos em clubes para menores de idade perto do Orange Country como o Sandbox.

Na escola, eu não ligava para nada a não ser para a música. Eu era um dos três melhores guitarristas lá: o melhor era Chuck Frayer, que podia solar como ninguém que eu já havia visto, fazendo bends e deixando-as no ar para sempre. Ele acabou sendo recrutado para a marinha durante o Vietnam, e a última vez que eu o vi foi no The Gong Show. Ele estava tocando a harmônica em um terno que o fazia parecer que tinha duas cabeças. E você pode apostar os lucros da sua mãe que ele foi o gongo.

Outro guitarrista bom era Larry Hansen, que acabou com os Gatlin Brothers. E o terceiro era eu. Escola era pura tortura, e tudo o que eu conseguia pensar a respeito era ir para a casa para praticar. Em inglês, nosso professor, Mr. Hickock, queria que escrevêssemos um trabalho interpretativo em um poema. Todas as outras crianças escreveram sobre Robert Frost e Ralph Waldo Emerson, mas eu apareci com “Pressed Rat and Warthog” da Cream. Quando Mr. Hickock devolveu os papéis, ele tinha escrito no meu: “F – que é uma grande incompreensão.” No outro dia, nós tivemos uma prova, e eu respondi uma questão por chamar o professor de antiquado, odiador de música esnobe, escrevendo “que é uma grande incompreensão” sob isso. Eu entreguei o papel, e quando ele leu aquilo, ele me mandou pro diretor, que me deu suspensão – que era uma grande incompreensão, ele disse, porque eu deveria ser expulso. Eu não liguei. Eu só queria ser ensinado por pessoas que soubessem algo sobre música. Mas agora eu penso que eu deveria ter prestado mais atenção nas aulas de inglês, porque quando eu falo com as pessoas, eu me preocupo que eu fale de forma inculta ou use as palavras erradas.

Quando eu voltei para a escola, um professor substituto de ciências me colocou pra fora por escrever acordes de guitarra no meu caderno ao invés de prestar atenção. Enquanto eu caminhava para fora da classe, eu virei para ele e gritei, “Eu sei onde você estaciona o seu carro! Eu sei onde você mora! É melhor você tomar cuidado!” Eu não acho que eu era aquele que assustava as pessoas – eu parecia o Duane Allman de cabelo vermelho com bigodinho. Mas o professor ficou tão assustado, que mandou policiais para minha casa.

Até então, eu estava morando em um chalé atrás da casa dos meus pais, o qual ficava ao lado de um riacho. Era um lugar que eu podia tocar minha guitarra a qualquer hora, ficar acordado até a hora que eu quisesse, e deixar amigos entrarem e beber um vinho. Quando os policiais viram o lugar, eles disseram que não era bom nem para um cachorro morar. Eles deram lição de moral nos meus pais e, apesar de eu ser permitido a voltar a escola, eu acho que eu parei de ir depois disso. Se escola até então fosse como as que temos hoje – com aulas de arte, apreciação musical, e computadores – eu teria ficado. Mas não tinha nada lá que me interessava.

PARTE SETE - ALGUNS DOS NOSSOS MELHORES AMIGOS SÃO TRAFICANTES DE DROGAS - Capítulo 1 - Mick


PARTE SETE

>>ALGUNS DOS NOSSOS MELHORES AMIGOS SÃO TRAFICANTES DE DROGAS<<

Capítulo 1

Mick

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Na qual o ex-trato de Bob Alan narra as travessuras da sua juventude há tempos atrás quando cowboys perambulavam pela terra e o controle de natalidade claramente ainda não tinha sido inventado.

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De volta aos meus tempos, cordas não eram feitas de arames. Era corda de verdade mais ou menos um quarto de uma polegada de extensão se você a abrisse. Era próximo ao barbante, na verdade, e nós usávamos isso para embrulhar o feno. Eu acho que nós também usávamos isso para enforcar meu irmão mais velho.

Meu irmão mais novo, Tim, e eu fizemos um laço de um pé e meio na corda e seguramos isso com um nó corrediço. Eu joguei o laço em cima do galho de um carvalho e amarramos a outra ponta da corda em volta do tronco. Tim achou uma caixa com cinco galões no galpão da minha avó e colocou isso abaixo da trava do nó corrediço. Eu chutei a caixa para longe dele, e nós observamos ele balançar.

Nós éramos os indianos: ele era o cowboy. Ele gritava e lutava enquanto ele se balançava no ar, e ele continuava tentando arrancar o nó a força com a sua mão. Quando nós ficamos entediados de ficar o vendo tentar respirar e gritar, Tim e eu entramos.

"Onde está Frank?" Tia Thelma perguntou. Tia Telma, que não devia ter mais do que cinco pés de altura, era a filha mais leal da minha avó e morou com ela até finalmente se casar com vinte e cinco anos.

"Ali fora." Tim apontou para o lado do jardim.

"Oh meu verbo," Tia Thelma respirou, e ela correu para a árvore, levantou Frank, e tirou o laço do seu pescoço.

Eu tinha cinco anos. E eu não estava brincando. Eu nasci B.A.D. (*mau) – Bob Alan Deal. (*Negócios de Bob Alan). Pessoas que tiveram experiências quase-morte sempre dizem que eles entraram num túnel, e no final do túnel tinha uma luz. Eu gosto de pensar que quando você morre, você anda pelo túnel, e quando você chega a outra ponta, você é renascido. O túnel é o canal de nascimento, e a luz no final do túnel é a maternidade, onde sua nova vida te espera. Quando alguém tem uma experiência de quase-morte, quando eles vêem a luz, mas não andam até ela, lá tem uma mulher em algum lugar dando a luz a um bebê natimorto que era suposto a ter a alma dessa pessoa.

Eu costumo dizer para as pessoas que na outra vida eu era Buddy Holly, daí eu voltei como o Brian Jonas do Rolling Stones, e finalmente eu retornei para a terra como Mick Mars. Mas eu nunca falava sério. Isso não significa que eu rejeitei uma possibilidade de uma vida passada, mas eu me pergunto por que as pessoas sempre acreditam que foram uma figura famosa ou histórica, O que aconteceu com os limpadores de chaminés e donas de casa? Eles não foram reencarnados, também? Enquanto pra mim, eu fui avisado da minha vida passada por um velho hippie sábio conhecido como Midnight Gardener, que costumava ir a minha casa na Santa Monica Mountains e ficava no meu gramado toda noite a uma da manhã. O Mignight Gardener me disse que eu fui o Rei do Bórneo, um canibal, e um escravo que trabalhava nas grandes pirâmides do Egito. Eu acho que eu devo ter sido algum tipo de conquistador de mulheres e ladrão, porque nessa vida eu fui castigado por isso: mulheres e dinheiro não gostam de mim. De fato, o passado sempre pareceu sair da minha vida tarde.

Desde o momento que eu enforquei meu irmão, eu soube o que eu queria com essa vida. Porque mais tarde naquela semana, Tia Thelma levou Frank, Tim, e eu para o 4-H Fair no Hiers Park em Huntington, Indiana, onde nós morávamos. Ela comprou picolés para nós, e nós sentamos na grama para comê-los e assistir a um show. Eu era muito novo, eu nem sabia o que era um show. Eu vi um cara magro e alto usando um terno de cowboy laranja brilhante com strass e um chapéu branco – mais exagerado do que a roupa de cowboy que o Frank estava usando quando eu o linchei. O cara no palco se apresentou como Skeeter Bond, e ele começou a cantar. Tinha outros cowboys tocando guitarra e bateria atrás dele, fazendo muito barulho. Meu maxilar abriu, e eu esqueci completamente do meu picolé, que derreteu na minha roupa. Eu queria ser ele. Eu queria fazer música em um palco. Eu não me importava com o tipo de música. Música era música: era tudo bom, se era a música de cowboy do Skeeter Bond ou os discos do Elvis Presley da minha mãe.

Nesse Natal, meus irmãos e eu corremos pro andar debaixo de manhã para abrir nossos presentes. Tinham longas meias penduradas na lareira, e um deles tinha uma guitarra muito pequena com cordas que eram provavelmente elásticos. “Isso é meu!” eu gritei, e agarrei aquilo antes que alguém pegasse de mim. O Natal seguinte, quando eu tinha seis anos, minha mãe comprou uma guitarra do Mickey Mouse pra mim, que tinha orelhas de rato no braço e uma pequena alavanca que eu podia virar para fazer músicas Mouseketeer. Mas eu não estava interessado nas músicas Mouseketeer. Eu aprendi como apertar as cortas para que elas pudessem parecer mais com a guitarra aguda do Skeeter Bond, e descobri como tocar melodias de verdade nela.

Tinha um vagabundo legal nos seus vinte anos que morava perto, e eu o chamada de Sundance. Ele tinha uma guitarra velha chamada Blue Moon, e ele me ensinou minha primeira música de verdade na Blue Moon: “My Dog Has Fleas.” Às vezes eu queria saber se era música country ou se era meu desejo de verdade.

Finalmente, Sundance me ensinou como palhetar melodias, como a balada matadora “Hang Down Your Head Tom Dooley.” Eu gostava dessa melodia porque ela saltava da Blue Moon, e, embora eu não sabendo a terminologia na época, eu já estava preferindo tocar guitarra com mais ritmo, que parecia mais com algo que estava sendo tocado no fundo.

Se não fosse por Jesus ter nascido, eu nunca teria chegado a lugar nenhum na música. Porque foi em outro Natal, alguns anos mais tarde, que meu primo mais velho comprou pra mim uma guitarra Stella que ele tinha achado em uma casa de penhores por doze dólares.

Logo depois, meus pais deram à luz a sua primeira menina, Susan (ou Bird, como a chamávamos). Bird nasceu com um problema no pulmão, e para aumentar sua chance de sobrevivência, os médicos sugeriram que nós nos mudássemos para um clima mais árido, como Arizona e Califórnia. Então, dez de nós - eu, meus irmãos, meus pais, minha irmã, minha tia, meu tio e meus primos – nos enfiamos em um Ford 1959. Depois de três dias e meio de costas rígidas e privação de oxigênio, chegamos em Garden Grove, Califórnia. Foi como em The Grapes of Wrath, apenas Califórnia realmente viveu até a fantasia: Havia laranjeiras por toda parte. E a noite, nós pudemos ver os fogos de artifício saindo acima da Disneylândia. Mas na Califórnia, música country e Skeeter Bond eram palavras estrangeiras. Surf music era o que estava rolando – Dick Dale, the Ventures, the Surfaris.

Meu pai trabalhava na Menasha Container (que fazia caixas de papelão para uma das minhas companhias preferidas, Fender) e minha mãe passava camisetas nos finais de semana para um dinheiro extra – dois dólares por dia se ela tivesse sorte. Apesar eu ter outro irmão mais novo e uma irmã até então, ela continuava a guardar dinheiro suficiente para comprar uma guitarra elétrica St. George de quarenta e nove dólares. Agora eu podia tocar surf music que soava como ondas enroladas e barulhentas, como o Dick Dale tocava. Volume também era importante pra mim, mas meus pais não tinham dinheiro suficiente para comprar para mim um amplificador ou um estéreo. No lugar disso eu pegava o alto falante do fonógrafo da minha irmã, arrancava as cordas do braço, e fazia minha própria combinação de amplificador e estéreo para que eu pudesse tocar minhas músicas surf favoritas.

Meu pai, entretanto, acordou um dia e de repente decidiu se tornar ministro batista. Quando ele era criança, ele sofreu de uma doença debilitada que atacou suas pernas. Os médicos falaram que não tinha nada que eles poderiam fazer por ele a não ser rezar por piedade para Deus. Quando a doença se resolveu, isso deve ter plantado um despertar de Deus na cabeça do meu pai, que se excitou naquela manhã quando ele veio correndo na cozinha louco que ele tinha visto os erros dos seus jeitos e queria dedicar sua vida sendo ministro.

Apesar da descoberta da religião, meu pai nunca tentou me desencorajar de fazer música. Ele e minha mãe pensavam que a razão por eu ser tão obcecado era que meu cérebro foi frito quando eu tinha três anos. Eu peguei febre escarlate e fiquei com 106 graus de temperatura por três dias. Um médico foi até a casa da minha avó, quando eu estava na cama quase morto, e tirou todas minhas roupas, me cobriu com toalhas frias, e encheu minha cama com gelo. Daí ele abriu todas as portas e janelas na casa até o ar de inverno encher o quarto, e depois de uma hora, a febre abaixou. Eu estava doente demais, eles disseram, que talvez eu nunca tivesse me recuperado.

Surf music, para eles, era apenas outra doença. Mas logo depois veio uma doença mais contagiosa, os Beatles. Na noite anterior, surf rock estava arcaico e pop com vocal – melodias, harmônicos, e letras que você podia balançar a sua cabeça – era o que tava rolando. Eu decidi que eu tinha que cantar, também. Eu praticava todo dia durante um ano até eu estar pronto pra mostrar pra minha família. Eu os reuni no andar debaixo e cantei “Money” dos Beatles. O meu primo que tinha comprado minha primeira guitarra de verdade teve um ataque histérico. Ele disse que eu não conseguiria cantar uma música se ele me fizesse ficar quieto e colocasse fim nisso. Eu fiquei tão constrangido que eu nunca tentei cantar de novo – para o resto da minha vida.


4 de fev. de 2011

Capítulo 2 - Nikki (continuação)

Mas as vozes continuaram. “Eu irei matar vocês, eu irei matar vocês!” eu gritei pra eles. Eu abri a porta chutando, e vi que elas estavam vindo de um locutor de quatro pés de altura no canto. Eu carreguei outro pente de bala na arma e acertei o locutor com pontos ocos de bombardeio da .375 Magnum. Aquilo caiu pro lado. Mas as vozes continuaram: “Oi, esse é KLOS, e vocês estão falando com Doug...”

Eu me virei, e todo mundo caiu fora da minha sala enquanto eu acabava com o pobre locutor até, finalmente, as vozes pararem. Eu acho que a Vanity deve ter, em um momento de lucidez, descoberto como desligar o rádio.

Nossa relação era uma das mais estranhas, mais autodestrutivas que eu já tive. Nós farreávamos juntod por uma semana, e então não nos víamos por três semanas. Ou, enquanto fumávamos crack, ela me ensinava o quanto a Coca-Cola era ruim para o meu estômago. Uma tarde quando eu estava na casa dela, uma dúzia de rosas de Prince chegaram com uma nota escrita: “Deixe-o. Me responda.” Na hora, eu me deixei enganar, mas agora eu acho que ela estava apenas me manipulando. Prince provavelmente nunca mandou nenhuma flor.

Outras vezes, eu tava no apartamento dela, e ela me mandou ir tomar suco de laranja. Quando eu voltei, os seguranças não me deixaram entrar.

“Mas eu estava aqui agora pouco,” eu disse, completamente confuso.

“Desculpe, senhor, ordens diretas. Você não pode entrar.”

“Que mer...”

“Se eu fosse você, eu iria pra qualquer outro lugar. Eu não sei tudo o que acontece nesse apartamento, mas eu não quero saber.”

Um dos seus vizinhos por fim me disse que ela tinha um vendedor esperando por ela na esquina, que levava pra ela pedras de cocaína para quebrar logo que eu saia. Ela escondia isso de mim não porque ela estava envergonhada do tamanho do seu habito, mas porque ela estava preocupada que eu usasse tudo.

Uma noite, Vanity pediu para eu casar com ela. Eu disse sim apenas porque eu estava drogado, a idéia era surreal, e isso era mais fácil do que falar não. A relação se baseava apenas em drogas e diversão, não amor ou sexo ou até mesmo amizade. Mas quando ela estava drogada em uma entrevista, ela dizia pra imprensa que nós estávamos noivos. Tommy estava em uma casa multimilionária em Hollywood, e lá estava eu preso na cidade do rock. Sem saber isso sempre parecia que ele estava olhando de cima para a gente – porque nós merecíamos isso.

Enquanto eu estava saindo com a Vanity, nossos empresários começaram a tentar colocar a banda de volta na comunicação para gravar um álbum. Nessa altura, eu não estava apenas fazendo freebasing, eu estava usando heroína de novo. Eu usava botas de cowboy do lado de fora de calças justas, e os lados das botas estavam constantemente cheio de seringas e blocos de alcatrão. Eu não queria estar injetando mais, e eu coloquei muito esforço em tentar ficar direito. Mas eu não conseguia ajudar isso. Quando eu decidi continuar na metadona para retroceder, isso apenas piorou e logo eu estava viciado em heroína e metadona. Toda manhã, antes de ir para o estúdio, eu dirigia para a clinica de metadona no meu novíssimo Corvette e ficava na fila com todos os outros drogados para pegar injeção. Daí eu dirigia para o estúdio e passar metade de cada dia dando pausas para ir ao banheiro. Às vezes Vanity passava por lá e me embaraçava por dar lições de moral na banda por causa dos perigos das bebidas gasosas e o ato de acender incensos que cheiravam a merda de cavalo.

Lita Ford estava trabalhando em um disco no estúdio na próxima porta, e quando ela me viu, ela não conseguia acreditar em quanto eu estava deteriorado. “Você estava pronto para enfrentar o mundo,” ela me disse, “mas agora você parece como se você estivesse deixando o mundo te levar para baixo.”

E apesar de eu não conseguir escrever uma música para o disco do Mötley, eu consegui escrever uma música com ela para o álbum dela, titulada de maneira correta “Falling In and Out of Love.”

Enquanto nós estávamos chegando a algum lugar lentamente com o nosso álbum, meu avô e tia Sharon ficavam ligando. Minha avó estava ficando doente, e eles queriam que eu fosse visitá-la. Mas eu estava tão drogado, que eu ficava ignorando as ligações – até ser tarde demais. Meu avô ligou chorando numa tarde e me deu instruções para o funeral dela, que era estar lá o próximo sábado. Eu prometi a ele que eu iria estar lá. Quando o sábado chegou, eu estava acordado fazia dois dias diretos. Eu cheirei um pouco de cocaína para me dar energia suficiente para por um pé na frente do outro, engatinhado fora do sofá, começado a me vestir, e remexendo tentando achar o endereço por uma hora. Então eu mudei minhas roupas três vezes, e fiquei rodeando procurando a chave do carro e me preocupando em como eu iria achar o local do funeral antes de eu decidir que isso era complicado e eu não conseguiria fazer meu papel em grupo. Eu sentei de volta no meu sofá, usei um pouco de freebasing, e liguei a TV.

Eu sentado lá, sabendo que enquanto eu assistia Gilligan’s Island, o resto da minha família estava no funeral dela, e a culpa começou a cair. Ela era a mulher que tinha me suportado quando minha mãe não conseguiu, a mulher que tinha me levado do outro lado do país do Texas para Idaho como se eu fosse seu próprio filho. Sem sua boa vontade para me entender toda hora, se ela estivesse vivendo em um posto de gasolina ou em uma fazenda de porcos, eu provavelmente nunca estaria sentado em uma casa de rock star gigante injetando. Eu estaria fazendo isso debaixo de uma ponte em Seattle.

No outro dia, eu resolvi ficar limpo para poder escrever alguma música para o álbum, e talvez até ligar para o meu avô e implorar para ele esquecer minha auto-centralidade. A primeira música que eu escrevi foi “Nona,” que era o nome da minha avó. Tom Zutaut passou pela minha casa e ouviu – “Nona, I’m out of my head without you” – e as lágrimas escorreram de seus olhos. Eu freqüentemente tenho pesadelos sobre a doença da minha avó e do funeral, porque não estar lá para ela e pro meu avô é uma das coisas que eu mais me arrependo sobre minha vida.

Tom não estava mais trabalhando na Elektra. Ele tinha mudado pra Geffen e tinha assinado o Guns n’ Roses. Ele queria que eu produzisse o álbum deles e visse se eu conseguiria tornar o punk-metal que eles estavam tocando na época um pouco mais comercial, limite melódico sem sacrificar a credibilidade. Eles eram apenas uma banda punk, ele me disse, mas eles eram capazes de ser a melhor banda de rock n’ roll no mundo se alguém pudesse ajudá-los a achar a melodia para levá-los a isso. Eu estava com muita agonia tentando diminuir minha entrada de drogas para considerar a idéia, mas a confidencia de Tom me motivou para escrever para o meu próprio álbum. Eu comprei um velho livro do Bernard Falk de 1937 chamado Five Years Dead, que inspirou a música de mesmo nome, e ajudou a colocar meu cérebro pra funcionar. Eu sabia que minha janela de sobriedade poderia ser curta, então eu tinha que trabalhar rapidamente.

Como o Theatre of Pain, Girls, Girls, Girls poderia ter sido um álbum fenomenal, mas nós estávamos envolvidos demais em nossas próprias besteiras para colocar qualquer esforço nisso. Você realmente pode ouvir a distância que cresceu entre nós em nosso desempenho. Se nós não tivéssemos conseguido forçar mais duas músicas para fora de nós (a música titulo e "Wild Side"), o álbum teria sido o fim das nossas carreiras.

No estúdio, nós estávamos misturando nossas músicas com algo que nós nunca tínhamos combinado com elas antes: culpa, negação, e segredo. E essas três palavras são a diferença entre um viciado e um hedonista. Tommy estava na Heatherlândia, que não era apenas um lugar de paraíso, mas também de disciplina, onde ele tinha que esconder o uso de drogas dela. Por causa disso, ele estava se tornando estressado destruído. Vince estava tentando ficar sóbrio, mas falhou miseravelmente, se distraindo com sua própria infelicidade com garotas e lutadoras na lama; Mick estava fazendo algo em nossas costas, apesar de nenhum de nós termos idéia do que era. Nos meses antes de nós retornarmos pro estúdio, nós estávamos ocupados demais lutando com os nossos demônios que nós completamente esquecemos-nos de Mick. Quando nós o vimos de novo, ele parecia que alguém tinha costurado sua cabeça junto com o corpo de um samoano lutador: seus braços e pescoços estavam tão inchados que nós ficamos preocupados que ele não conseguisse mais alcançar o braço da sua guitarra. Ele sempre pareceu velho demais para festejar conosco, que ele tinha feito seu uso se drogas enquanto era adolescente, mas algo estava acontecendo. E ele não estava falando para nós o que.

fig. 3 Nona, avó do Nikki