29 de abr. de 2010

(continuação 4) Capítulo 1 - Tommy

Meu professor, Sr. Walker, escrevia nossas notas em uma caderneta, fechava, e colocava em sua gaveta todo dia. Então, junto com outros dois garotos que estavam indo mal, eu tive um plano para roubar sua caderneta de notas quando ele saísse da classe para fumar cachimbo. Minha carteira estava na frente da sala, então quando ele fizesse uma pausa para fumar numa manhã, eu correria para sua mesa, eu me curvaria, pegaria, e puxaria a caderneta preta de notas da gaveta.

Eu fiz isso e voltei para minha cadeira logo quando ele voltou. Enquanto ele discutia To Kill a Mockingbird (Para matar um pásssaro-das-cem-línguas), eu passei a caderneta por trás de mim para Reggie, que levantou sua mão e pediu para ir ao banheiro. Eu o segui, assim como outro amigo. Encontramos-nos em um dos lavabos e colocamos a caderneta de notas no em cima da tampa de uma privada. Reggie acendeu o isqueiro e colocou fogo na caderneta. Nós éramos idiotas, cara: nós pensávamos que se a gente destruísse o livro, nossos F’s desapareceriam e Sr. Walker teria que nos passar de ano. Nós também éramos estúpidos porque nós pensávamos que três crianças no banheiro por dez minutos não deixaria alguma desconfiança.

Enquanto nós estávamos tentando nos apressar junto com a brilhante caderneta de diferentes beiradas, a porta do lavabo se abriu. Na entrada, estava o Sr. Walker, e seu rosto estava vermelho como carro de bombeiro. Tava tudo indo mal, cara. Enquanto nós assoprávamos a caderneta tentando acabar com o fogo, ele agarrou a gente pela porra das orelhas. Eu juro por Deus, meus pés não se encostaram ao chão o caminho todo até a diretoria. Na diretoria, tinha uma cadeira do lado da parede, e quando foi a minha vez de vê-lo ele me fez encarar isto e agüentar firme.

“Olhe para esse ponto na parede!” ele gritou.

“Que ponto?” eu perguntei, de repente, e as bofetadas vieram, uma atrás da outra, direto pra porra do meu traseiro. Ele bateu demais em mim, daí fui suspenso. Meus pais me deram uma bronca.

27 de abr. de 2010

(continuação 3) Capítulo 1 - Tommy

Enquanto eu escrevo aqui, com meu pai deitado no leito de morte, eu não sei como eu posso agradecê-lo. Eu estou observando ele morrer lentamente – ele provavelmente deixou um ano para trás – e quando ele olha pra mim, lágrimas borbulham de seus olhos. Eu quando eu olho pra ele – esse homem que não fez nada, mas me apoiou – eu não posso ajudar, mas chorar. Após me comprar esse tambor, ele confiou para mim para que eu pudesse comprar o resto da bateria sozinho. Ele me disse, “Eu não irei comprar isso para você porque você não irá dar valor nisso. Mas eu irei te ajudar e confiar para isso, então, se você estragar ou perder seus pagamentos, eu pegarei de volta.” Então ele me ajudou a construir um cômodo do caralho na garagem com isolamento, carpete, uma porta, com dupla parede de madeira, e à prova de som feita por caixas de ovos. Meus pais poderiam estacionar seus carros na entrada da garagem e eu poderia ter um quarto de ensaio à prova de som. E, então, quando eu tava preparado para meu primeiro carro, meu pai confiou de novo e fez um empréstimo. Ele nunca andou uma milha por mim, mas se eu caísse enquanto eu andava, ele me levantaria.

Agora que eu tinha meu próprio quarto de ensaio, toda criança na escola que já tinha tocado ou visto uma guitarra queria vir e tocar pra caralho, que normalmente significava tocar músicas do Led Zeppelin várias e várias vezes. Não eram muitos pais que deixavam seus filhos fazerem isso na suas casas. Meus velhos apenas impunham que não tinha música depois das 10 horas da noite, e eu respeitava. Por um tempo, pelo menos.

Música era a única coisa que eu considerava na escola: minha matéria favorita era música e design gráfico, onde eu fazia camisetas de rock n’ roll com meus amigos. Eu também gostava de vôlei. E isso não tinha nada a ver com música, mas tudo a ver com o rock n’ roll, se você entende o que eu digo.

Todo dia eu ia para minhas três aulas favoritas, daí faltava das outras aulas e tocava minha bateria a tarde toda enquanto meus pais estavam trabalhando. Antes que minha mãe chegasse em casa, eu dava uma volta, matava o tempo, e depois disso voltava como se eu tivesse voltado da escola. Esse era um bom plano até eu começar ir mal na oitava série.

26 de abr. de 2010

(continuação 2) Capítulo 1 - Tommy

Pessoas dizem que você não pode adivinhar seu futuro, que ninguém sabe o que a vida planeja para eles. Mas eu sei que isso é mentira. Não são apenas as tatuagens que viraram realidade para mim. É mais do que isso. Eu adivinhei meu futuro quando eu tinha três anos, e com um esforço infantil para fazer os mais altos e melhores barulhos, arrumei panelas e vasos no chão da cozinha e batia neles com colheres e facas. Meu amigo Gerald disse para mim que eu sabia dentro da alma o que eu queria. E no dia que eu comecei essa bagunça na cozinha da minha mãe foi o dia que eu mostrei isso. Mas eu não sabia isso naquela época. Eu era estúpido.

Quando o leiteiro veio tocando um acordeão, eu decidi que eu queria aprender squeezebox. Então eu abandonei a pequena bateria que meus pais tinham comprado para mim em troca de eu tirar todas as louças limpas deles do chão, e comecei a ter aulas de acordeão com a minha irmã. Quando um professor de dança passava pra incrementar as aulas, minha irmã e eu ficávamos super agitados e entramos num grupo de balé, que era bom porque eu podia dançar com garotas. Eu não ligava pra jogar basquete em um parque com outros garotos: eu apenas queria agarrar garotas.

Depois de dançar, eu fiquei animado com piano, mas isso acabou rápido por ser a porra de uma repetição, tocar escalas várias e várias vezes até eu querer matar pessoas, começando com o meu professor de piano. Daí, eu vi uma guitarra em uma loja de penhores e eu desenvolvi uma obsessão por guitarra. Meu acordeão era um elétrico Da Vince, e eu aumentava o volume até a distorção ficar suja e tocava “Smoke on the water” até minha mãe ficar louca e comprar aquela guitarra penhorada. Eu toquei até meu amplificador do acordeão ficar o mais alto possível, com as janelas abertas para que todo mundo no bairro soubesse que eu tinha a porra de uma guitarra. Eu poderia ter colocado tudo isso no quintal e tocar, então todos poderiam me ver. Eu não sei o porquê eu queria que as pessoas me notassem. Eu continuo deste jeito: eu faço as coisas porque eu amo, mas eu também quero reconhecimento. Isso me trouxe muita felicidade e me colocou em muitos problemas.

Felizmente, nenhum Testemunha de Jeová passou pela minha casa quando eu era criança, porque eu provavelmente estaria vendendo bíblias hoje. Ao invés disso, após observar caras no ensino médio em uma banda marchante batendo tambores em um jogo de futebol, eu voltei para a bateria que eu nunca deveria ter abandonado em primeiro lugar. Meu pai comprou para mim meu primeiro tambor profissional de Natal. Esse não era uma caixa de papelão, cara, nenhuma merda de latão ou uma panela. E se meu pai não tivesse feito eu sentar lá e ter feito minhas escalas no piano e aprendido sobre barras, batidas e medidas, eu nunca teria escolhido bateria tão rápido quanto eu escolhi.

24 de abr. de 2010

(continuação) Capítulo 1 - Tommy

Eu fui a um analista de sonhos recentemente e ele me disse que eu herdei essa tempestade da minha mãe. Sua vida era assim: tudo que era bom era cercado por uma tragédia. Seu nome era Vassilikki Papadimitriou, e ela era Miss Grécia nos anos 50. Meu pai, David Lee Thomas, era um sargento militar, e ele fez a proposta para minha mãe na porra da primeira vez que a viu. Eles se casaram dentro de cinco dias de encontro, como Pamela e eu fomos quase quarenta anos depois. Ele não falava uma palavra grega; ela não falava uma palavra em inglês. Eles desenhavam coisas para o outro quando eles queriam se comunicar, ou ela escrevia algo em grego e meu pai se esforçava para fazer sentido os estranhos caracteres usando um dicionário Grego-Inglês.

Ela tentou seis vezes antes de mim ter um filho: cinco vezes ela abortou e, quando ela conseguiu na sexta vez, meu irmão morreu dentro de dias depois de seu nascimento. Por alguma razão, eles não eram supostos estarem aqui. Eu não sei como ela teve a coragem para tentar de novo. Mas quando ela ficou grávida pela sétima vez, ela rejeitava se levantar da cama por nove meses caso algo desse errado.

Logo depois de eu ter nascido, meus pais foram embora de Atenas e se mudaram para o subúrbio de Los Angeles chamado Covina. Foi difícil para minha mãe. Ela tentava ser uma modelo, e agora ela estava na América limpando a casa das pessoas como uma servente do caralho. Ela sempre esteve envergonhada com seu trabalho. Ela estava vivendo em outro país com um estranho que havia se tornado seu marido de repente. E ela não tinha família, amigos, dinheiro, e dificilmente falava uma palavra em inglês. Ela sentia muita falta de casa que ela nomeou minha irmã de Athena.

Meu pai trabalhava para o Departamento Rodoviário De Los Angeles, reparando caminhões e tratores. Minha mãe sempre desejou que ele conseguisse dinheiro suficiente para que ela abandonasse seu trabalho e contratasse uma empregada, mas ele nunca conseguiu.

O analista de sonhos disse que minha mãe passou muitos medos dia pós dia, de morar na América comigo, especialmente quando eu era novinho. Ela falava comigo em grego, e eu não entendia uma palavra do que ela dizia. Eu não tinha idéia porque eu podia entender todo mundo ao meu redor, mas eu não conseguia entender uma palavra do que minha mãe dizia. Experiências como essa, o analista disse, foram o papel principal para o medo e insegurança constantes que eu sentia como um adulto.

O analista de sonhos disse que minha mãe passou muitos medos dia pós dia, de morar na América comigo, especialmente quando eu era novinho. Ela falava comigo em grego, e eu não entendia uma palavra do que ela dizia. Eu não tinha idéia porque eu podia entender todo mundo ao meu redor, mas eu não conseguia entender uma palavra do que minha mãe dizia. Experiências como essa, o analista disse, foram o papel principal para o medo e insegurança constantes que eu sentia como um adulto.

Eu fui para uma sessão com o analista com uma camiseta curta de mangas, e ele olhou para as minhas tatuagens e deu um salto do caralho. Eu disse para ele sobre meus pais e como eles costumavam se comunicar quando eu era criança. Na próxima sessão, ele disse que pensou sobre minha família a semana toda e chegou a uma conclusão: “Quando jovem, você observou as pessoas desenharem e se comunicarem entre eles. Agora, você usa essas tatuagens como uma forma de comunicação”. Ele apontou que várias tatuagens eram símbolos de coisas que eu queria em minha vida, como a carpa, que eu tatuei antes de ter um tanque de carpas em minha casa. Eu também tenho um leopardo tatuado, e um dia desses eu vou ter a porra de um leopardo. Eu quero um em meu sofá apenas para assustar quando eu fizer uma turnê.

23 de abr. de 2010

PARTE TRÊS - TOAST OF THE TOWN - Capítulo 1 - Tommy


fig.1

PARTE TRÊS

>>TOAST OF THE TOWN<<

Capítulo 1

Tommy


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De uma fruta avermelhada que deixa um coração de um jovem garoto em chamas de desejo, as oportunidades educacionais oferecidas por uma mista turma de vôlei, e outras lembranças de um passado feliz.

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Caaaaaaaaaaaara. Porra, é. Finalmente. Quantos quartos será que Nikki conseguirá, cara? Porra. O cara tentou por a própria mãe na cadeia. Eu amo ele; nós estamos praticamente casados por vinte anos. Mas às vezes é uma junção estranha. Eu não sou assim. Eu sou um romântico sem esperança do caralho. Essa é uma parte de mim que muitas pessoas não sabem. Elas sabem tudo que tem para saber sobre outra parte de mim, mas não sabem nada a respeito do meu coração. Cara, isso é triste, mas é tudo bom. Tudo bom pra caralho.

Meu destino foi selado com minha primeira paixão com esta garotinha foda que morava na rua debaixo da minha em Covina. Eu costumava a perseguir por todo lugar. Eu a seguia por aí com a minha bicicleta e espionava em sua janela à noite como um pequeno espião. Tudo o que eu queria era beijá-la. Eu via meu pai e minha mãe se beijando, e parecia ser bem legal. Eu imaginei que estava pronto para experimentar isso.

Eu aprendi em minha vida que se você perseguir algo por tempo suficiente, logo isso começará perseguir você. Após um tempo, minha vizinha começou me seguir por todo lugar, e nós ficamos loucos um pelo outro. Uma hora, nós de alguma forma acabamos atrás de um monte de arbustos, numa área gramada sombreada que ninguém poderia ver. Os pequenos arbustos tinham pequenos e brilhantes grãos vermelhos nascendo deles. Eles eram da cor de seus lábios. Sem nada em pensamento, eu colhi um grão de um dos arbustos e segurei isso entre nossas bocas. Daí, nós envolvemos nossos lábios envolta do grão e beijamos pela primeira vez. Eu me senti super romântico e mágico: eu pensei que se nós beijássemos com esse pequeno grão vermelho entre nós, nós de alguma forma nos tornaríamos alguma outra coisa. Talvez ela se tornaria uma princesa e eu um cavaleiro que a levaria embora de Covina no meu cavalo branco. Nós galopearíamos para meu castelo com os vizinhos olhando, se perguntando quem seriam essa bela princesa e esse belo príncipe. E nós viveríamos felizes para sempre depois. Ao menos que alguém comesse ou destruísse o grão mágico. Se isso acontecesse, nós retornaríamos para Covina e seríamos apenas duas crianças ridículas novamente. Isso é como tudo sempre foi em minha vida: sempre há uma tempestade de emboscada distante, esperando para foder tudo de bom e perfeito.



21 de abr. de 2010

Capítulo 4 - Mick

Capítulo 4

Mick


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Uma valiosa lição moral é aprendida a respeito do julgamento que as pessoas fazem a partir de fatores de aparência incluindo, mas não somente o peso e acnes na forma de frango frito.

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Eu tinha dúvidas sobre um monte de coisas e formava minhas próprias opiniões. Eles são apenas como válidos cientistas de foguete ou alguma coisa a mais. Quem diz que você tem que acreditar em alguma coisa porque você leu isso em um livro ou viu figuras? Quem é esse que diz, “Esse é o jeito que isso é”? Quando todo mundo acredita na mesma coisa, eles se tornam robotizados. Pessoas têm um cérebro: eles podem compreender coisas por eles mesmos, do mesmo jeito que os óvnis voam.

Quando eu estava no primário nos anos 50, na altura da Guerra Fria, nós tínhamos ensinamentos sobre como se proteger (*chamado duck and cover). Eles nos falavam que se a bomba de hidrogênio explodisse, tudo que nós tínhamos que fazer era entrar debaixo de nossas mesas e colocar nossas mãos sobre nossas cabeças. Hoje isso parece ridículo, mas isso fazia um perfeito sentido naquela época para as supostas pessoas inteligentes e informadas que nós chamamos de professores. Eu lembro de escrever em grandes letras no meu caderno as palavras duck and cover, com aspas em volta delas e um enorme ponto de interrogação. Que piada. Essa pequena tartaruga era uma merda.

Eu costumava guardar pilhas de cadernos e folhas de papel com coisas que eu escrevia desde que eu era criança. Ao longo do tempo, muitas coisas que eu escrevia se tornaram realidade. Em 1976, quando minha banda Top 40 White Horse estava nas suas últimas etapas e pronta para ser lançada, nós estávamos ensaiando na sala de estar da casa que nós todos morávamos quando o baixista andou e disse “Bom, isso certamente é uma mistura que está parecendo um grupo (motley-looking crew).” Depois do ensaio, eu subi para o meu quarto e escrevi essas palavras no meu notebook – Motley Crew, e sob isso, em grandes letras, Mottley Cru – e disse pra mim mesmo que eu teria uma banda chamada Mottley Cru. Eu queria White Horse, que era atualmente uma boa banda, para começar tocar originais e se tornar Mottley Cru. “Por que não tentar originais? Nós estamos famintos de qualquer jeito,” eu disse pra eles. Eles responderam fazendo uma votação para me colocar fora da banda. Então, eu fui embora com tudo: o assistente de publicidade, as luzes, a van.

Eu coloquei um anúncio nos classificados do The Recycler, que tava escrito: “Guitarrista extraterrestre disponível para qualquer outro alienígena que quer dominar o mundo.” Eu estava me chamando Zorky Charlemange nessa época, então eu usei esse nome no papel e recebi algumas ligações realmente bizarras, mas de ninguém que parecia ser sábio. Eu acabei em uma banda Top 40 chamada Vendetta, que me deu dinheiro suficiente para comprar um Marshall e uma Les Paul. Eu comprei outro Marshall e outra Les Paul quando eu retornei de uma turnê do Alaska, e coloquei outro anúncio no The Recycler. Normalmente as pessoas iriam escrever um anúncio que começava com ‘um’, como “um honrado guitarrista procurando uma banda, ’’ assim mesmo eles podiam estar no topo da escuta. Eu não ligava, porque eu sabia que meu anúncio dispararia não importava onde ele estivesse. Tava escrito: “Guitarrista barulhento, rude e agressivo disponível.”

Um garoto com um bigode de Hitler de Sparks respondeu. Mas eu disse que eu não gostava de sua música e eu estaria desperdiçando seu tempo e o meu se eu experimentasse por ele. Eu pensei que ele tinha me respeitado por isso. Alguma banda cafona na Redondo Beach que passou a ser Poison ou Warrant ou algum outro nome que arruinava os anos 80 me chamou porque tinham me visto tocar no Píer 52. Eu não os retornei. Para citar Andy Warhol, “Todo mundo tem 15 minutos de fama.” Para me citar, “Eu gostaria que eles não tivessem.”

Eu acho que o Nikki finalmente achou o anúncio e ligou. Nós conversamos por um pequeno tempo e combinamos um dia para nos encontrar. Eu amontoei minha guitarra e o Marshall em um minúsculo Mazda que pertenceu ao meu amigo Stick e dirigi para o norte de Hollywood. Nikki e eu dissemos oi como dois estranhos: nenhum de nós nos lembrávamos de termos nos visto antes. Ele tinha mudado seu nome e seu cabelo estava super armado, preto, e caindo sobre seu rosto; eu não teria sido capaz de reconhecê-lo se ele fosse meu próprio pai. Isso levou outra semana ou duas antes dele perguntar, “Hey, não era você aquele cara estranho que foi na loja de licor um dia e...” eu não podia acreditar: ele realmente cresceu por dentro.

Nikki disse que ele tinha deixado sua banda antiga, London, porque tinha muitas pessoas tentando levar a banda para várias direções diferentes. Agora ele estava tentando juntar seu próprio projeto e realizar sua própria visão. Eu fingi que concordei, mas eu sabia que ele era jovem e ingênuo musicalmente, e eu podia influenciá-lo para evoluir do meu jeito. Nesse ensaio, nós tocamos um pouco das músicas que o Nikki tinha escrito – “Stick to your Guns,” “Toast of the Town,” “Public Enemy #1.” Eles tinham um mariquinha, cujo nome eu não irei mencionar, tocando guitarra. A primeira coisa que eu fiz quando eu fiquei sabendo foi dizer, “Ele não irá fazer isso.” Então eles me disseram que se eu o quisesse fora, eu teria que dizer pra ele. Esse foi o primeiro dia e eles já me mandaram fazer o serviço sujo.

Também tinha um pequeno garoto esquelético lá, com um enorme crescimento em seu queixo que parecia um Chicken McNugget. Ele disse que ele tinha sido empurrado ou caiu dos degraus na Gazzari’s na noite anterior e rebentou seu lábio. Eu não sei o que era aquilo, mas parecia um segundo queixo permanente. O garoto disse que tocava bateria, embora ele parecesse novo demais e esquelético para ser bom. Mas quando ele começou tocar, ele não era covarde. Ele batia forte. Seu nome era Tommy.

E, pensando sobre isso, não foi Nikki que achou o anúncio no The Recycler. Foi Tommy. Ele ligou. Ele deixou a mensagem. Ele fez isso acontecer. E cara, ele podia tocar.


19 de abr. de 2010

(continuação 5) Capítulo 3 - Nikki

Eu estava muito ansioso que eu liguei pro meu tio na Capitol e pedi, “Eu quero ter contato com Brian Connolly da Sweet!”

“O que?!” ele perguntou, duvidoso.

“Eu tenho essa banda incrível, sabe, e eu quero mandar para ele algumas imagens.”

Eu mandei para Connolly as fotos e, como favor pro meu tio, ele concordou em aceitar minha ligação na próxima semana. Eu passei o dia todo em casa, planejando o que eu iria dizer na minha cabeça. Eu peguei o telefone e comecei a discar, então começou a chamar.

Finalmente, eu tive coragem. Logo que ele atendeu, eu estava indo diretamente para meu discurso sobre London e como nós estávamos no caminho para a grande hora e como nós iríamos usar seus conselhos ou seu apoio ou qualquer tipo de instrução que ele provavelmente teria. Talvez nós pudéssemos fazer uma turnê juntos um dia.

“Você está pronto, colega?” ele perguntou.

Eu estava pronto.

“Eu peguei suas fotos e sua música,” ele continuou. “E eu vejo o que você está tentando fazer. Mas eu não posso te ajudar.”

“Cara, eu penso que nós seremos a maior banda em Los Angeles, e eu penso que isso pode ser bom para nós-”

Ele me cortou: “Sim, bem, eu já ouvi isso antes, colega. Meu conselho seria que você continuasse seu trabalho do dia. Esse tipo de música nunca conseguiria isso.”

Eu estava destruído. Ele foi do meu ídolo para meu inimigo: um amargo rock star sentado em um trono de merda em sua mansão em Londres.

“Bom,” eu disse, “Me desculpe de fazer você se sentir dessa maneira.” E eu desliguei o telefone fiquei o encarando por meia hora, sem a certeza se eu iria rir ou chorar.

No final, isso apenas me deu mais motivação para fazer sucesso e fazer Brian Connolly se arrepender que ele tinha me insultado. Nosso diretor era David Forest, um demônio exibicionista que fazia a Starwood funcionar junto com Eddie Nash, que mais tarde foi acusado do assassinato de John Holmes (quando a estrela pornô estava envolvida na fatal batalha de quatro pessoas na casa de um comerciante de drogas em Laurel Canyon). Forest, caridoso, deu para mim e para Dane Rage empregos no clube limpando e fazendo carpintaria à tarde. Nós trabalhávamos então à noite nós poderíamos tocar com a London e derrubar confetes e fazer bagunça, e no dia seguinte nós seriamos pagos e limparíamos.

Foi até Forest dizer eu que estava expondo a decadência do L.A. com a mistura do rock e do disco. Eu sentei no escritório com ele e pessoas como Bebe Buell e Todd Rundgren, que podia envenenar minha mente impressionávelmente com histórias de overdoses de Steven Tyler e Mick Jagger indo pros bastidores enquanto groupies ficavam por aí adormecendo com heroína. Ou eu poderia ver heróis locais como Rodney Bingenheimer e Kim Fowley festejando. Eu tinha todos os runs com coca de graça que eu queria, além de eu aprender sobre todas as drogas que seus nomes foram apenas ouvidos antes. Drogas de verdade. E eu as amava.

Eu era novo e bonito e tinha cabelo comprido. Eu me apoiava contra a parede na Starwood de escarpim e calças super apertadas com meu cabelo nos meus olhos e nariz empinado. Quanto mais eu me preocupava, eu tinha feito isso. Eu podia dormir até que eu tivesse que levantar e fazer alguma coisa pra ganhar dinheiro, como telemarketing ou vender drogas porta por porta ou trabalhar na Starwood. De noite eu ia para a Starwood e bebia e brigava e comia garotas no banheiro. Eu realmente achava que eu tinha me tornado meus heróis: Johnny Thunders e Iggy Pop.

Agora que eu olho pra trás, eu me dou conta o tanto que eu era ingênuo e inocente. Não tinha jatos ou estádios liquidados, não tinha mansões ou Ferraris. Não tinha overdoses ou orgias com braços de guitarras enfiados na bunda das garotas. Eu tinha me tornado apenas um pequeno garoto convencido em um clube que, como muitos outros antes e depois dele, pensava que uma picada dolorida e narinas ardentes significavam que era o rei do mundo.

17 de abr. de 2010

(continuação 4) Capítulo 3 - Nikki

Angie me convenceu de mudar com um grupo de músicos atrás de uma floricultura do outro lado da Hollywood High School. Eles eram rock stars por todo lugar na casa: dormiam na banheira, nos degraus da frente, atrás das almofadas dos sofás. E de algum modo um deles queimou todo lugar uma tarde. Eu retornei da loja de discos e achei a casa em chamas, cercada por estudantes curiosos da escola. Com o meu baixo na mão – eu sempre carregava isso comigo caso alguém na casa roubasse ele – eu corri para dentro pra ver se eu poderia resgatar mais alguma coisa minha. Eu notei que ainda tinha um piano que tinha sido alugado por um cara que tinha deixado a cidade para visitar seus pais, então eu o arrastei para fora da casa, pelas esquinas, e por todo o caminho até a loja de música na Highland Avenue, onde eu o vendi por cem dólares.

Angie me deixou mudar com ela em Beachwood Canyon, onde eu vadiava por aí o dia inteiro ouvindo seus discos e pintando meu cabelo de cores diferentes enquanto ela conseguia dinheiro para nós trabalhando como secretária. Eu nunca pensei sobre o piano de novo até seis meses depois, quando dois policiais pararam e bateram na porta, procurando por um cara chamado Frank Ferrana que tinha roubado um piano. Eu disse pra eles que eu não conhecia ninguém com esse nome.

Quando Lizzie e eu não estávamos tentando montar nossa própria banda juntos, eu ia junto com Angie para Redondo Beach, onde ela ensaiava com sua banda. Eu os odiava porque eles curtiam Rush e tinham um monte de pedais de guitarra e falavam sobre hammer-ons e, o mais escandaloso de tudo, era que tinham cabelo enrolado. Se tivesse uma característica genética que automaticamente desqualificasse um homem de estar pronto para o rock, seria cabelo enrolado. Ninguém legal tem cabelo enrolado; pessoas como Richard Simmons, o cara da Greatest American Hero, e o cantor da REO Speedwagon tem cachos. As únicas exceções são Ian Hunter da Mott the Hoople, que seu cabelo é mais emaranhado do que ondulado, e Slash, mas seu cabelo é crespo e é legal.

Para mulheres, o equivalente de cabelo enrolado é ser estrábico. Se tivesse uma característica genética em mulheres que influenciavam elas a me odiarem, era ser estrábico. Eu sempre falhei com mulheres estrábicas, uma com quem aconteceu foi a companheira de quarto de Angie. Uma noite eu fiquei bêbado e tentei subir na sua cama, e ela disse para Angie tudo sobre isso no outro dia. Eu tentei convencer Angie que eu pensei que era ela na cama, mas ela me conhecia muito bem e me colocou pra fora da casa. Eu me mudei para uma favela infestada de drogas e prostitutas, e me concentrei em ficar em minha própria cama e ter minha banda junto com Lizzie.

Nós achamos um colar de cachorro de bronze gigantesco de um baterista chamado Dane Rage, um tecladista chamado John St. John, que carregava um órgão gigante de show pra show, e um cantor chamado Michael White, cuja pretensão de fama era que ele tinha gravado alguma coisa para um álbum tributo ao Led Zeppelin. Que, ali, deveria ter me avisado que não era o cara que eu estava procurando. A propósito, ele tinha cabelo enrolado. E era meio estrábico.

Nós vadiávamos por Hollywood de saltos alto e camiseta sem manga e tudo mais que nós pudéssemos exibir para chocar os fãs do Rush e dinossauros Led Zeppelin. Era 1979 e, quanto mais nós nos preocupávamos, o rock n’ roll morria. Nós curtíamos Mott the Hoople, New York Dolls, Sex Pistols, nós curtíamos tudo que ninguém mais curtia. Nas nossas mentes alcoólicas, nós éramos a banda mais fodida eternamente, e nossa confiança (e alcoolismo) atraia groupies fanáticas depois de uns shows na Starwood. Nós nos chamávamos London, mas o que nós realmente éramos era Mötley Crüe antes de Mötley Crüe.

A não ser por Michael White. Tudo que eu desprezava, ele adorava. Se eu gostava de Stones, ele gostava de Beatles. Se eu gostava de manteiga de amendoim cremosa, ele gostava com pedaços. Então nós o demitimos por ter cabelo enrolado, colocamos um anuncio no The Recycler, e encontramos Nigel Benjamin, que era um roqueiro de verdade em nossas mentes não apenas por que ele tinha cabelo liso, mas porque ele tocava na Mott the Hoople como substituto de Ian Hunter. Ele escrevia boas letras de músicas, e quando ele subiu no microfone ele gemeu. Ele realmente podia cantar, como ninguém que esteve na banda antes. Nós tínhamos um tecladista insano que tinha seu próprio Hammond, um baterista com uma grande pegada do Norte, e um vocalista britânico. Nós estávamos em chamas.