29 de jun. de 2010

(continuação 3) Capítulo 1 - Tom Zutaut

RTB, como a gente o chamava, era um cara que tinha grande prazer em fazer a festa perfeita. De quinta-feira a noite até domingo, tinha uma parada infinita de pessoas interessantes, mulheres bonitas, álcool, e outras coisas de festa na sua casa. Este era o último sistema de trancas disponível nas colinas na Sunset Drive, das configurações do controle remoto na sua cama para o grosso carpete. O céu era o limite lá: vinte pessoas peladas dentro da Jacuzzi, comidas sendo engolidas dos copos das mulheres, e qualquer coisa que você, eu, ou Calígula possa imaginar. Mötley Crüe e RTB eram uma combinação perfeita.

Eu sempre me sentia de fora, como um garoto de Chicago que tinha de alguma forma sido transportado para esse glamuroso filme onde eu encontrava todos os meus rock stars favoritos – Elton John, Rod Steward, e os caras do Queen, Journey, e Chip Trick. Algumas festas eram tão loucas que RTB podia apertar estes botões e trancar todo mundo lá dentro. Desse jeito, se alguém quisesse ir embora, eles tinham que pedir permissão para um guarda que teria que ter certeza que eles não estariam bêbados para dirigir. RTB era um cara esperto. Ele sabia que se ele iria facilitar essa bagunça, ele precisava diminuir os acidentes que ele poderia ser responsável, e vendo o estado que alguns convidados estavam, ele provavelmente salvou muitas vidas.

Quando nós acabamos de mixar o Too Fast for Love, Coffman de repente decidiu mandar a banda para uma turnê no Canadá, mesmo não tendo nenhuma gravação para divulgar. Nós protestamos e dissemos para ele que ele estava sendo inútil, mas Coffman era determinado.

Nós nunca entendemos porque Coffman fez a banda fazer uma turnê no Canadá até a verdade vir mais tarde: ele tinha vendido uma parte da sua participação na banda para um cara Michigan chamado Bill Larson, que tinha herdado a herança de seus pais – mais ou menos vinte e cindo mil dólares – então ele poderia ter cinco por cento do contrato do Mötley Crüe. Ao invés do Coffman juntar o dinheiro, ele teve que mandar a banda para o sul para fazer uma turnê. Então a banda foi para o Canadá para embarcar em uma miserável, desastrosa viagem com um ajudante que eles nunca tinham ouvido falar ou encontrado antes. Lá tinha bombas, problemas de bordo, esmurradores, jogadores de hóquei viciados, quebradores de ossos (principalmente Coffman), e policiais parados do lado do palco para ter certeza que o público não mataria a banda.

Logo depois, Coffman desapareceu, junto com a Elektra e com o cara Michigan rico. Possivelmente ele voltaria porque a banda começou a fazer muitas perguntas sobre onde o dinheiro tinha ido – dinheiro que ele provavelmente achava que tinha merecido depois de hipotecar sua casa três vezes para pagar todos os aluguéis de carros e quartos de hotel e vai saber Deus o que mais que a banda tinha danificado. No fim das contas, a pessoa que mais se machucou foi Bill Larson, cujo pai morreu de um ataque no coração por causa de estresse. Larson processou, embora ninguém conseguisse achar Coffman para atender a intimação.

A partir do que eu ouvi, a esposa do Coffman tinha se divorciado dele, seus filhos pararam de falar com ele, e ele se tornou cristão de novo.


26 de jun. de 2010

(continuação 2) Capítulo 1 - Tom Zutaut

Quando ele não apareceu após vários minutos, Mick me pediu para ir ver o que tinha acontecido. Eu sempre pensei sobre o Coffman como se ele fosse de acordo com as regras que servia como uma babá para essa banda louca, então eu fiquei em choque quando eu o encontrei arrancando um telefone público da parede do banheiro. Eu o peguei e mandei alguém da imprensa da Elektra ficar de olho na banda e botar ordem enquanto eu levava Coffman para casa no meu carro batido.

Enquanto estávamos indo para o norte na La Cienega, ele continuou tentando arrancar a maçaneta da porta do carro. Apenas quando nós chegamos ao centro da Santa Monica Boulevard, ele abriu a porta e rolou do carro para o meio do cruzamento. Eu olhei para trás e o vi entre as faixas de trânsito, arrastando sua barriga como um soldado em um rifle. Carros passavam por ele, buzinando e berrando, e pareceu que alguns segundos antes alguém poderia esmagá-lo. Eu parei o carro, corri, e o peguei. Ele começou se girar para mim e me amaldiçoar como se eu fosse um soldado vietnamita do norte tentando capturá-lo como um prisioneiro da guerra. Eu pensei que ele poderia me matar, mas através de um surto de adrenalina eu consegui levar ele de volta pro carro e para o seu quarto de hotel.

Na hora que eu voltei pro restaurante, a festa se mudou para outro lugar. Uma semana depois os nomes no contrato foram finalmente assinados, e a banda insistiu em fazer a gravadora pagar por outra festa. Então eu juntei nossa companhia de carros e levei a banda para Benihana na La Cienega. Isso começou com uma janta gentil, com o chefe de cozinha mostrando seus truques com sua faca. A banda comeu um pouco e bebeu muito. Vince, claro, estava bebendo o mais forte. Eu percebi que seu copo de margarita estava quebrado, então ele pediu outro. Quando eu olhei pra ele de novo, o novo copo estava quebrado e ele estava insistindo para substituírem. A garçonete perplexa trouxe pra ele de novo outro drink, examinando o copo cuidadosamente para ter certeza que não havia lascas ou cacos. Logo depois que ela saiu de perto, Vince colocou o copo na sua boca e o mordeu, despedaçando a beirada do copo. “Esse cara é maluco,” eu pensei. “Ele pode cortar sua língua ou rasgar sua boca em pedaços.”

Vince levantou, fez um sinal pra garçonete, e a acusou de ter dado um copo quebrado pra ele de propósito. Ela jurou que o estava tudo certo com o copo quando ela deu isso a ele. Daí ela se virou para mim para dar uma satisfação. Eu não queria meter ela ou o Vince em problemas: “Talvez a máquina de lavar louça esteja quebrada,” eu me expressei fracamente.

Então ela trouxe outra margarita pra ele e voltou para balcão com o gerente espionando Vince. Sem saber que ela estava observando, Vince afundou seus dentes do copo de novo. Instantaneamente, o gerente veio e tentou nos tirar do restaurante enquanto a garçonete ligava para a polícia. Eu rapidamente fechei a conta e terminei com a festa.

Várias noites eram como essa com a banda: ou alguma coisa estava pronta pra ser quebrada ou alguém iria desmaiar. Nada era fácil com eles. O diretor da A&R na Elektra, Kenny Buttice, estava furioso que eu tinha passado por cima dele e ido pedir permissão do Joe Smith para contratar a banda. Então ele fez tudo o que ele pode para dificultar minha vida. Nós estávamos relançando o álbum Too Fast for Love que eles tinham lançado, mas Buttice convenceu a empresa que a qualidade não estava boa para o modelo padrão de uma rádio e o único jeito que conseguir isso era remixando.

Eu era contra isso e a banda estava nervosa, mas se remixássemos o álbum faria a banda ser uma prioridade na Elektra, nós estaríamos dispostos a tocar adiante. Quando eles escolheram Roy Thomas Baker para revisar a gravação, eu praticamente molhei minhas calças. Aqui eu estava, com vinte anos, encontrando o excêntrico rebelde Britânico que tinha produzido Queen, Foreigner, os Cras, Journey, e todas essas outras gravações do caralho. E durante seu último minuto mixando, escalando, e produzindo uns truques longe do charme do álbum original do Mötley, eu aprendi muito observando ele trabalhar e ouvindo suas histórias. Depois de a banda ter passado o dia no estúdio, ele normalmente os convidava para ir a sua casa, onde eles ficavam cheirando cocaína do seu piano Plexiglas enquanto ele contava a eles sobre a época que Freddie Mercury compôs “Bohemian Rhapsody” naquele piano enquanto ele recebia um boquete.

21 de jun. de 2010

(continuação) Capítulo 1 - Tom Zutaut

Antes de eu ficar seriamente com o Mötley Crüe, eu queria ter certeza se eu não estava passando dos limites na Elektra. Eu perguntei no A&R Departament se eu poderia assinar a banda, e eles riram na minha cara. Mas eu fui persistente. Eu coloquei uma pasta com todas as cartas do A&R Departament rejeitando todas as bandas que eu tinha trazido para eles que continuaram a ter hits em outras gravadoras. Ao urgir de meu chefe no departamento de vendas, eu apresentei as cartas para Joe Smith, o presidente da Elektra, que, para minha surpresa, se mostrou a altura das circunstâncias. “Ok, vá em frente cara,” ele disse para mim. “Você pensa que pode fazer isso? Tudo bem. Então vamos assinar essa banda e ver o quão bom você realmente é.”

Eu era o alvo de riso de Hollywood por contratar esses caras. A música que era popular na época era New Wave Britânico – Haircut 100, A Flock of Seagulls, Dexy’s Midnight Runners. Garotos atualizados curtiam Elvis Costello, The Clash, e outras bandas indo atrás do fim do movimento punk. Todos continuaram rindo de mim por tentar assinar uma banda de metal. Eles vinham até mim no trabalho e diziam, “O que você está pensando? Isso não irá tocar na rádio. Você não pode reinventar Kiss.” Mas eu acreditava na Mötley Crüe. Você não precisa de ouvidos para ser um bom explorador; você precisa de olhos.

Então, na minha minúscula conta de departamento de vendas, eu comecei a entreter e recepcionar o Crüe, que eu penso que só apareceu pela comida grátis. Durante cada refeição, Tommy se mexia loucamente – como no palco, ele não conseguia ficar quieto; Mick se tornava mais demoníaco a cada drink, até ele começar alucinar e ver Purple People Eater; e Vince normalmente metia na garçonete no banheiro. Nikki era o único que se encontrava sério: ele tinha traçado cada passo do futuro da banda em sua cabeça. Ele sabia que a galera estava cansada de new wave, que eles estavam furiosos pelo punk ter se acabado, e que eles estavam extremamente chateados com Fleetwood Mac e Foreigner e Light FM Pop. Ele queria expandir esses quinhentos garotos no Whisky em uma revolução do Rock n’ Roll que o Mötley Crüe estava iniciando. E ele fez isso. Mas não sem dificuldades.

Quando nós estávamos finalmente prontos para fazer um acordo, a Virgin Records apareceu com dinheiro para gastar. Eles se encontraram com a banda e levaram uma pasta cheia com dez mil dólares em dinheiro para enfiar na cara deles. Virgins naquela época não tinha uma gravadora ou uma distribuidora na América. Eles operavam na Inglaterra e eles usavam isso para tentar seduzir o Mötley Crüe, falando pra eles que eles podiam ser como os Beatles, os Rolling Stones, e Led Zeppelin e pararem a América por conseguir ser conhecidos na Inglaterra primeiro. Eu acho que isso foi um desejo e tanto para a banda – isso e o afrodisíaco dez mil dólares em dinheiro antecipado do acordo de mil dólares.

No fim, mesmo a Virgin oferecendo mais ou menos vinte e cindo mil dólares a mais do que a gente, a banda decidiu que seria mais inteligente para uma banda de rock de Los Angeles fazer um contrato com uma gravadora de rock de Los Angeles (nenhum de nós sabia que a Elektra logo seria transferida para Manhattan). Depois de nós termos criticado nossos pontos finais e aceitarmos fazer o acordo, Coffman, a banda, algumas pessoas da equipe da Elektra e eu celebramos na Casa Cugat, um restaurante mexicano comprado pelo rei rumba Xavier Cugat. Mötley Crüe não precisou de muito para começar uma festa depois disso, então as coisas foram totalmente rápidas.

A coisa estranha, embora, era que eu esperava loucas palhaçadas da banda, não do seu irritado gerente. De qualquer forma, ele ficou tão bêbado que ele começou a falar vietnamita como se ele fosse um soldado do Vietnã. Ele se convenceu que lá tinha vietcongues escondidos atrás das mesas e depósitos de munições na cozinha. Ele engoliu outra dose, daí correu para o banheiro.

19 de jun. de 2010

PARTE 4 - SHOUT AT THE DEVIL - Capítulo 1 - Tom Zutaut

PARTE 4

>>SHOUT AT THE DEVIL<<

Capítulo 1

Tom Zutaut

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Um salário ganho com um emprego na Elektra Records embarcou em uma aventura na qual a descoberta que é feita é um grupo da reputação mais doentia que um empresário pode ter ou a postura mais duvidosa.

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Eu penso que a única razão pela qual eu tive sucesso foi por causa do meu entusiasmo. Eu sempre fui além do que qualquer pessoa estivesse fazendo para conseguir alguma coisa que eu queria. Como quando eu era um DJ na estação de rádio da minha escola do ensino médio em Park Forest, Illinois, eu ouvi sobre uma conferência numa rádio na Loyola University e me inscrevi. Eu estava lá e eu descobri que eu poderia pegar fitas de graça. Nossa estação de rádio da escola esteve funcionando por anos, e jamais imaginaram que eles não tinham que comprar os álbuns deles.

Meu primeiro emprego fora da escola foi em uma sala em que cartas e outros tipos de correspondência são classificadas e preparadas para a entrega na filial de distribuição da Chicago WEA, um emprego que eu só consegui porque eu impressionei alguém na empresa enquanto eu estava no telefone pedindo por fitas grátis do Cars.

Por fim, esse mesmo entusiasmo fez com que eu ganhasse uma promoção para Los Angeles, onde eu trabalhei como assistente no departamento de vendas na Elektra Records, que na época tinha artistas como Jackson Browne, Queen, The Eagles, Linda Ronstadt, e Twennynine com Lenny White.

Eu penso que se eu não tivesse sido empreendedor, eu nunca teria passado por cima nessa quinta-feira à noite na Sunset Boulevard. Era a tardezinha, e eu estava cruzando a Sunset esperando conseguir algo para comer em um Café chamado Bem Frank’s, que sempre estava cheio de jovens roqueiros sendo servidos por uma garçonete de 17 anos que esteve trabalhando lá desde os dias de Lana Thurner de Hollywood, quando eu notei centenas de garotos tentando entrar em um show no Whisky. Eu olhei para o toldo para ver quem estava tocando, e estava escrito “Mötley Crüe esgotado.” Esse mesmo entusiasmo e obsessão que me levou para a convenção na Loyola bateram em mim, me encorajando para passar por cima enquanto meu estômago estava roncando de fome. Na janela da frente de uma loja de fitas na esquina, Licorice Pizza, eu vi uma tela enorme em exposição mostrando um grande quatro com quatro imitadores glam, vestidos de couro, refugiados hermafroditas do New York Dolls. Eu logo percebi que eles tinham lançado um álbum com a sua própria empresa, Leathür. Para uma banda que ainda não tinha nem uma gravação, fazer esse tipo de histeria no Whisky era muito raro. Eu tinha que vê-los.

Eu andei até a porta da frente, tirei meu cartão da Elektra Records, e blefei, dizendo para eles que eu era um A&R da empresa. Eu sempre tentava usar a empresa para assinar as bandas que eu curtia, mas eles nunca me ouviam. Eu preparei para eles “I Love Rock and Roll,” da Joan Jett, que eu achei no lado B de um disco europeu; “Tainted Love,” de Soft Cell; a Human League; e até os Go-Go’s. E eles permitiram todas elas. Eu estava muito envergonhado de esfregar isso na cara deles, enfim. Eu me sentia sortudo por estar trabalhando em uma gravadora em Los Angeles com vinte anos.

Dentro do clube, quinhentos adolescentes – a capacidade do clube – estavam ficando frenéticos por causa dessa banda Mötley Crüe. E eles pareciam legais. Nikki estava tão cheio de energia que parecia que ele parecia que ele estava na rua matando alguém se ele não estivesse tocando baixo. Ele bate nas cordas tão forte que continua rachando a pele de seus dedos. Assistindo ele estrangular essa coisa, com sangue voando de seus dedos, as cordas pareciam navalhas.

Vince era o vocalista mais bonito e mais carismático que eu já tinha visto: as pernas das mulheres ficavam abertas enquanto ele cantava. Ele era exatamente o oposto do guitarrista: olhar para ele era como ver Satã reencarnado, embora ele se mostrasse o mais agradável do grupo (quando ele não estava bêbado). Tommy parecia um garoto super excitado, mas ao mesmo tempo parecia o único naturalmente nascido músico na banda. Ele era baterista de alta qualidade, um ótimo showman, e constantemente em movimento. Ele parecia o elemento que uniu tudo.

Depois do show, eu encontrei o gerente deles e disse para ele que eu queria levar a banda para um encontro com a Elektra. Para minha surpresa, ele me ignorou completamente. Ele me disse pra falar para a Greenworld, um pequeno local que estava distribuindo o álbum deles. Por coincidência, tinha uma exposição de música na cidade e Greenworld tinha uma barraca lá. Eu falei com um cara chamado Allan Niven, que me colocou em contato com o gerente esquisito da banda, um contratante de edifícios super sério chamado Allan Coffman.


17 de jun. de 2010

(continuação 5) Capítulo 5 - Nikki

Uma noite, Lita, Vince, Beth, e eu estávamos saindo do Rainbow quando um ciclista começou a puxar as garotas e perguntar a elas se elas queriam transar. Os ciclistas declararam guerra com os roqueiros depois disso. Nós o observamos por um minuto, daí fomos até ele. Nós estávamos de bom humor, então nós não batemos nele. Nós pedimos para ele parar. Ele nos olhou e nos mandou irmos nos foder.

Eu estava usando uma corrente em volta da minha cintura, amarrada com um pedaço de couro e uma fivela. Eu arranquei a corrente da minha cintura e comecei a balançar no ar, tentando acertar cabeças. De repente, mais duas pessoas entraram na briga. Um deles, uma besta cabeluda, me agrediu como um touro, me deixou sem condições e me tacou para os arbustos. Eu tentei pegar minha corrente no chão, e ele agarrou minha mão com sua luva de couro, socou na sua boca, e mordeu até o osso. Eu gritei e, num surto de adrenalina, peguei a corrente e comecei chicoteá-lo no rosto com ela.

De repente, ele me puxou, pegou uma arma e disse, “Você está detido, filho da puta.” Naquela confusão, eu não tinha percebido que as duas pessoas que entraram na briga eram dois policiais secretos. Eles me bateram sete vezes no rosto com seus cassetetes, quebrando um dos ossos da minha bochecha e deixando meu olho roxo. Depois eles me algemaram e me enfiaram no seu carro. Do banco de trás, eu vi Vince sair correndo como um frango glam, provavelmente porque ele tinha acabado de ser preso no Troubadour por bater em uma menina que não gostava da roupa U.S. Marines que ele estava vestindo.

“Punk canalha,” o grande policial berrou pra mim. “Bater em um policial. Que merda você pensa que está fazendo?”

O carro freou em um beco. Ele pegou meus dois cotovelos com uma mão e me tirou do carro, e me jogou no chão. Daí ele e o seu parceiro começaram a chutar meu estômago e meu rosto. Quando eu me curvei sob meu estômago para tentar me proteger dos golpes, eles me rolaram de lado para poderem me chutar onde machucasse mais.

Eu fui para a cadeia naquela noite com a maquiagem toda borrada, unhas lixadas, e sangue. Eles me acusaram de agressão com arma em um policial. Eu passei duas noites lá com os policiais me ameaçando de ficar preso cinco anos sem liberdade condicional. (O policial, de qualquer forma, acabou fazendo uma acusação rápida por causa de um escândalo que dúzias de pessoas acusaram os policiais de assediá-los e bater neles na Sunset Strip).

Lita penhorou seu valioso Firebird Trns Am por milhares de dólares para pagar minha fiança. Nós andamos três quilômetros da cadeia voltando para a casa do Mötley para encontrar a banda em tempo para um show no Whisky naquela noite. Depois disso, acompanhado pelo som da namorada do Tommy, Bullwinkle esmagando todas as coisas de valor da casa, eu peguei um papel de anotações com linhas amarelas e descontei minha raiva:


A starspangled fight

Heard a steel-belted scream

Sinners in delight

Another sidewalk’s bloody dream

I heard the sirens whine

My blood turned to freeze

See the red in my eyes

Finished with you, you’ll make my disease.


Não, essa última linha não estava certa. Assim que eu risquei isso, a porta se soltou da dobradiça, e Tommy caiu no chão, sua cabeça abriu e Bullwinkle subiu em cima dele como um alce raivoso.

“Seu sangue está vindo em minha direção,” eu rabisquei debaixo da linha.

Melhor, mas não perfeito.

Na outra manhã, um advogado veio com um aviso de expulsão. Nós estávamos na casa por nove meses, bebendo, brigando, fodendo, ensaiando, e festejando constantemente e nós estávamos todos doentes e cansados. Nós precisávamos nos proteger um pouco. Então eu me mudei com Lita para Coldwater Canyon no norte de Hollywood. Vince se mudou para o apartamento de Beth. E Tommy se mudou com a Bullwinkle. Eu não sabia onde Mick estava: talvez nós o deixamos pendurado em algum dos nossos closets. Nós nunca nos preocupamos em checar.


16 de jun. de 2010

(continuação 4) Capítulo 5 - Nikki

Uma noite, Vince, Stephanie e eu estávamos indo pro Rainbow, usando narcóticos e comendo escargot, e vomitando debaixo da mesa a cada quinze minutos. Nós ficamos bêbados, a levamos de volta pra casa, e todo mundo acabou na cama do Vince. Isso não fazia meu tipo: Tommy e Vince sempre fodiam um monte de garotas juntos. Mas tendo um cara junto arruinava o momento pra mim. Eu não conseguiria acabar e depois ir pro meu quarto deixando os dois sozinhos. Essa foi a última vez eu vi Stephanie pelada, porque uma vez que você coloca uma garota rica com carro junto com Vince, está tudo acabado. Eles namoraram por meses depois disso e estavam quase pra casar quando Vince achou uma garota mais rica, Beth, com cabelo loiro e um carro melhor, um 240Z.

Eu não sei como nós conseguimos praticar esse tipo de incesto, festejando um próximo nível como uma banda, sendo que nem acreditávamos que um próximo nível existiria. Era apenas juntar pessoas em nossos shows e ter certeza que elas iriam embora falando da gente. Nós até ligamos para a Elvira uma noite, que concordou de nos apresentar se Coffman pagasse para ela quinhentos dólares e a buscasse em um carro de luxo. Quanto mais nós vivíamos juntos, melhores os shows se tornavam porque nós tínhamos mais tempo de inventar palhaçadas. Vince começou serrar as cabeças dos manequins. Blackie Lawless parou de se botar fogo porque estava cansado de queimar sua pele, então eu comecei a fazer isso, porque eu não estava nem ai pra porra da dor. Eu poderia engolir percevejos ou uma garrafa fodida se isso trouxesse mais pessoas pros nossos shows.




fig.12
Com a Elvira no backstage em Santa Monica Civic Center, New Year's Evil Show, 1982

fig.13
Nikki com a Lita Ford

A cada show, o cenário do nosso palco ficava cada vez melhor: Mick tinha uma dúzia de luzes que ele tinha comprado do Don Dokken e um sistema de auto-falantes que ele tinha roubado da sua banda antiga Top 40, White Horse. Nós tínhamos um lençol sujo e manchado de sangue que arrancamos da cama do Tommy e pintamos nosso nome com letras grandes e pretas. Inspirados pelo Queen, Tommy e Vince construíram um palco para a bateria três camadas acima do palco normal: uma estrutura dois por quatro pintada de branco com um tecido liso preto em cima, e com quinze pisca-pisca instalados e caveiras e baquetas. Isso pesava uma tonelada e era uma merda montar cada show. Nós também fizemos pequenas caixas de vidro plástico com luzes que nós poderíamos subir, fazer poses, e saltar. O show inteiro era uma mistura de tudo o que parecia legal e barato para nós. Nós pintamos as peles da bateria, colocamos candelabros por todo o palco, colocamos lenços em todos os lugares que podíamos, decoramos nossas guitarras com fitas coloridas, enrolávamos fios de telefone envolta de nós, e usávamos as músicas mais pesadas que nós conhecêssemos para animar a platéia antes dos nossos shows.

Quando nós vendíamos todos os ingressos dos shows no Whisky, eu ficava tão feliz que eu ligava pros meus avós e falava, “Vocês não vão acreditar nisso! Nós vendemos todos os ingressos de três noites no Whisky. Nós estamos conseguindo.”

“Conseguindo o que?” ele falava. “Ninguém nem sabe quem você é.”

E ele estava certo: nós estávamos vendendo todos os ingressos, mas nenhuma gravadora podia fazer um acordo com a gente. Eles nos diziam que nossos shows eram muito instáveis e não tinha jeito da nossa música tocar na rádio ou ficar no topo das paradas.

Heavy metal estava morto, eles sempre nos diziam; new wave era tudo o que importava. A não ser que nós parecêssemos com o Go-go’s ou o Knack, eles não estavam interessados. Nós não sabíamos sobre topo das paradas ou diretores de programas de rádio ou new wave. Tudo o que nós sabíamos era sobre pilhas de Marshalls de rock n’ roll explodindo nos nossos sacos e como cheirar, usar narcóticos, tranqüilizantes, e álcool que conseguíamos de graça.

A única razão que eu queria ter um contrato com a gravadora era pra eu poder impressionar as garotas e dizer para elas que eu tinha um. Então nós resolvemos esse problema e criamos a nossa própria empresa, Leathür Records. Nós marcamos hora no estúdio mais barato que achamos: sessenta dólares a hora num lugar super pequeno em um trecho horrível da Olympic Avenue. Mick gostou do lugar porque lá tinha uma placa do Trident e salas totalmente pequenas que ele disse que era bom um efeito natural ao som. Mick dispensou o engenheiro da casa e trouxe Michael Wagner, um alemão jovem, angelical que estava na banda Accept. Juntos, nós criamos Too Fast For Love em três dias embriagados. Nós não conseguíamos ninguém para divulgar o álbum, Coffman fazia isso, dirigindo por ai no seu carro Lincoln alugado, tentando convencer as lojas de discos pra fazer algumas cópias. Dentro de quatro meses, de qualquer forma, tínhamos um distribuidor (Greenworld) e tínhamos vendido vinte mil álbuns, que não estava mal para um disco que tinha sido gasto apenas seis mil dólares para fazer.

Nós celebramos o lançamento do álbum com uma festa no Troubadour, que era um dos meus clubes favoritos porque tinha um cara lá que eu realmente curtia espancar. Ele tinha cabelo comprido e nos idolatrava, mas ele era uma peste e sofria merecidamente para isso. Eu tinha acabado de empurrá-lo para cima do Tommy, que estava parado atrás dele, quando eu vi uma garota com o cabelo loiro claríssimo, bochechas rosadas, sombra de olho azul escuro, calças de couro justíssimas, um cinto punk, e botas pretas altas e justas.

Ela veio e disse, “Oi, eu sou a Lita. Lita Ford dos Runaways. Qual é o seu nome?”

“Rick,” eu disse.

“Sério?” ela disse.

“Sim, eu sou o Rick,” eu estava de saco cheio de mim mesmo, e tinha certeza que todos já sabiam o meu nome.

“Desculpa,” ela disse, “eu achei que você fosse outra pessoa.”

“Bom, você achou errado,” eu sorri desdenhosamente, com o nariz empinado como sempre.

“Isso é muito ruim Rick,” ela disse, “porque eu queria quebrar com você.”

“Você quem?” eu comecei a prestar atenção.

“Eu pensei que você era o Nikki.”

“Eu sou o Nikki, eu sou o Nikki!” eu praticamente babei como um cachorro em perseguição de um banquete.

Ela cortou o comprimido na metade e socou na minha boca, e foi isso.

Nós começamos a conversar e a sair juntos. Antes de encontrá-la, eu pensava em todas as mulheres como eu pensava da minha primeira namorada, Sarah Hopper, como pestes que são usadas como alternativas para masturbação. Mas Lita era música, e eu podia contar com ela. Ela era legal, normal e inteligente. No temporal que minha vida tinha se tornado, lá estava uma pessoa que eu poderia estar sempre junto, alguém que me manteria com os pés no chão.