24 de set. de 2010

Capítulo 2 - Tommy

Capítulo 2

Tommy

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Uma festa que terminou em acidente quando um remédio não-recomendado é oferecido por uma fonte que ficou seca.

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Era eu, Mick, Vince e os caras do Hanoi Rocks, que estavam na cidade nos divertindo. Estávamos bebendo pra caralho no Vince e matando o tempo. Nós provavelmente estávamos fazendo churrasco, bebendo, e ocasionalmente dormindo por uns bons três ou quatro dias quando finalmente acabou a bebida. Vince queria mostrar sua nova Pantera, então ele perguntou quem queria ir com ele comprar bebida. Razzle se ofereceu primeiro, e os dois desapareceram pela porta.

A loja de bebida era apenas alguns quarteirões longe, mas eles demoraram tempo pra caralho. Mick desapareceu, também, e ninguém sabia onde ele tinha ido. Mas esse era um típico comportamento desse ordinário. Nikki não apareceu na festa, então ninguém sabia onde ele estava.

“Cara,” eu disse para as esposas que estavam no sofá, “se Vince levou Razzle para tomar um drink, eles já deveriam ter voltado. A loja de licor é perto da esquina, então o que vocês estão fazendo?”

Foi quando nós começamos a nos preocupar que talvez eles pudessem ter batido ou sido parados por dinheiro. Eu não tinha pista. Então nós ouvimos ambulâncias passando pela casa, correndo pra esquina, e chiando alto. Eu fiquei sóbrio na hora. Eu acho que todo mundo ficou, porque não tinha dúvida sobre o porquê as ambulâncias estavam lá.

Nós saímos correndo da casa. A estrada se curvou para a esquerda, fazendo com que fosse impossível de ver na esquina. Nós andamos e andamos e andamos – parecia que era para sempre – vendo as luzes vermelhas piscando dos prédios próximos.

Quando nós viramos a esquina, tinha dois caminhões de bombeiro, ambulâncias, carros de polícia, e dezenas de pessoas de pijama paradas na esquina pasmas. Eu virei minha cabeça para ver o porquê eles estavam pasmos, e a primeira coisa que eu vi foi a Pantera vermelha. Estava esmagada – não de frente, mas de um pequeno ângulo – em outro carro, e o lado do passageiro tinha ruído como um acordeão. A estrada tava cheia de merda: vidro, metal, plástico, e, no meio de tudo aquilo, um high-top do Chuck Taylor. O sapato que Razzle sempre usava.

Na minha cabeça, embora, eu não conseguia ter noção de nada: porque o high-top do Razzle estava no meio da rua? Onde estava Vince? O que estava acontecendo? O que eu deveria estar fazendo, falando, pensando, berrando?

Daí eu o vi. Vince. Ele estava sentado na beirada da calçada, seus braços envoltos do seu tornozelo, balançando para trás e pra frente. Eu corri até ele, e enquanto eu corria, eu vi Razzle no canto do meu olho. Ele estava sendo levado por uma maca para a ambulância. Eu imaginei que ele estivesse bem, embora obviamente com a necessidade de um sério atendimento, considerando o estado do seu lado da Pantera.

Vince estava coberto de sangue, e apenas balançando e fazendo aquele estranho barulho que parecia vir de um doloroso lugar que eu não chamaria de um choro. Eu não sabia se ele estava com dor, em choque, ou apenas assustado. Eu tentei conversar com ele, mas um policial me tirou de lá. Ele algemou Vince e o colocou dentro do carro de polícia. Eu fui com Beth e os caras do Hanoi para o hospital.

Depois de duas horas e meia esperando em completo silêncio, um médico finalmente foi até a sala de espera. Suas luvas estavam com sangue, e sua máscara em volta do pescoço. Meus olhos se encheram de água como lentes de contato, até o terrível médico dizer estas palavras terríveis: “Seu companheiro Razzle não conseguiu agüentar.” E então a represa surgiu, e lágrimas ensoparam meu rosto.

13 de set. de 2010

PARTE CINCO - SAVE OUR SOULS - Capítulo 1 - Mick


fig. 1

PARTE CINCO

>>SAVE OUR SOULS<<

Capítulo 1

Mick

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Um homem com um coração inconsolável é guiado por trapaças, intoxicação, e auto-engano diretamente para uma cova úmida.

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Você já recebeu uma ligação da polícia ou segurança no seu senhorio por estar tocando muito alto? Como uma coisa tão bela pode deixá-los tão irritados? Se você está na sua casa tocando um bom álbum, e algum vizinho intrometido diz que ele não consegue ouvir sua TV, por que sua música tem que sofrer para que ele possa assistir sua TV? Eu digo, “Que falta de sorte para o vizinho.”

Música é censurada como é: você não pode dizer “merda” ou “mijar” ou “foder” ou “caralho” nas suas músicas se você quer que elas toquem na rádio e no Wal-Mart. Não é permitido. E se você quer seu clipe na TV, você não pode usar certas roupas e você não pode ter imagens de armas e pessoas mortas. Música é tão perigosa? Mais perigosa que a morte, assassinato, suicídio, e estupro que vemos na TV e nos filmes o tempo todo? Já escrevi uma música um pouco velha de amor sobre os mesmos temas, e ninguém irá tocá-la na rádio. E você não pode escutá-la na sua casa, porque ela é alta demais para os seus vizinhos. Essa coisa é tão poderosa, essa música, mas eu não tenho outro caminho. Pessoas é uma droga, música não.

Quando eu estava em Manhattan Beach com A Coisa, tudo o que eu queria fazer era ouvir música ou tocar minha guitarra, mas eu não pude, pois vizinhos intrometidos estavam tentando assistir assassinatos e sexo com adolescentes na televisão. De qualquer forma, eles nunca pareceram reclamar ou interferir quando A Coisa estava me amargurando e me batendo. Tudo bem. Talvez eles achassem que eu merecia isso por tocar minha música muito alto.

Eu fui ensinado quando criança nunca bater em uma mulher, mesmo se ela bater em você primeiro. Então quando A Coisa fazia suas pirraças, eu nunca bati nela de volta. De fato, eu me mudei com ela. Eu me sentia tão velho que eu não podia pensar que poderia ser possível para eu arranjar outra mulher bonita.

Eu nunca entendi as mulheres. Na turnê do Monsters of Rock na Suécia, um dos caras do AC/DC trouxe uma garota do bar do hotel. Ele estava muito bêbado e vomitou em cima dela. A segurança do hotel o levou para o quarto dele, mas ele voltou em quinze minutos, pagando por mais bebida. Depois de beber o suficiente para deixá-lo doentio de novo, ele chamou a garota para ir pro quarto com ele. Ela ainda estava manchada com seu vomito, mas ela aceitou. Quão nojento isso foi? Isso é pior do que o Ozzy cheirando formigas. O que há de errado com essas mulheres?

Vince e sua esposa, Beth, se mudaram para uma casa perto da Coisa e eu em Manhattan Beach. A Coisa era amiga da Beth e, juntas, as duas eram as garotas mais rígidas que você já viu. A Coisa era do tipo que bate primeiro e faz perguntas depois, e Beth era reclamona, muito sensível com limpeza e paranóica com germes. Eu não sei como Vince saiu dessa com toda a merda que ele fez. Ele ia pro Tropicana, uma boate de strip com um ring onde as mulheres lutavam no óleo, e ele voltava pra casa depois das duas da manhã. Quando Beth perguntava por que ele tava cheio de óleo, Vince apenas dizia, “Oh, eu estava na Benihana e a comida na mesa espirrou.” E era isso. Eu nunca fui nesses lugares. Não tinha interesse. Qual é a utilidade de ver se você não pode tocar?

Depois de retornar dos últimos Shout shows na Inglaterra, Vince deu uma festa na sua casa para celebrar o começo do nosso próximo álbum. Um dia ou dois na festa do Vince, A Coisa foi até nossa sala com suas mangas arregaçadas. Eu estava sentado no sofá, fodido como normal, e assistindo um episódio de Nova sobre teorias matemáticas. Eu tinha tomado dois tranqüilizantes e estava bebendo Jack e bellars. Bellar é uma coisa que eu e meu amigo Stick inventamos: era uma mistura de Kahlúa e brande, nomeado depois das moças no bar vierem conversar com a gente.

A Coisa me bateu do lado da minha cabeça e me mandou ir para o Vince e a Beth. Eu realmente não queria sair do sofá, mas eu percebi que ir era mais fácil do que ficar em casa o dia todo e brigando. Então nós fomos pro Vince e acabamos brigando. Aquilo era muito inútil. Não tinha como ganhar dela. E eu estava triste e cansado de ser abusado. Ela não era digna de problemas, especialmente quando sua amiga me disse que ela estava me gozando pelas minhas costas. Eu acho que ela achava que ele tinha mais dinheiro do que eu.

Eu estava tão agravado que sai da casa do Vince e fui para a praia. Minha cabeça ficava soando: “Faça você mesmo, faça você mesmo.” Eu não queria terminar tudo. Eu já estive em situações piores. Eu apenas queria paz e silêncio. Então eu caminhei até o oceano com uma bellar na minha mão. As ondas estavam frias e batiam nas minhas roupas, mais e mais, até elas derrubarem minha bebida da minha mão. Logo, meu cabelo estava molhado e grudado no meu pescoço. Daí eu perdi os sentidos.

4 de set. de 2010

(continuação 5) Capítulo 6 - Nikki

Naquela época, nós não pensávamos em drogas como um vício. Elas eram apenas algo que gostávamos de fazer toda hora para nos tirar do tédio. Nós não éramos viciados: nós éramos apenas usuários constantes.

Enquanto nós voamos de volta para casa, eu pensei sobre outro percurso. Alguns meses antes, depois de termos ganhado nosso disco de platina em Manhattan do Shout at the Devil, eu voei para Nantucket para conhecer algumas garotas. Eu tinha conhecido Demi Moore nas festas dos prêmios, e ela estava esperando para me receber enquanto o avião chegava. Ela estava trabalhando em um filme lá com Bobcat Goldthwait, que estava também na pista junto com vários outros atores e membros da equipe. Minha cabeça estava girando porque eu tinha ficado bêbado e drogado no vôo. Eu sai do avião pelo topo da escada dianteira que levava para o asfalto; eu tinha os prêmios na minha mão esquerda, uma garrafa de Jack na direita, e um pacotinho de cocaína esmagado no meu bolso de trás. Eu os imaginei olhando pra mim: eu parecia um rock star de verdade, como Johnny Thunders.

Quando desci na entrada, meu sapato escorregou na beirada do degrau de cima e eu perdi meu equilíbrio. Eu tentei me segurar no corrimão, mas só serviu para soltar a garrafa de Jack, que quebrou nos degraus debaixo. Eu a segui, caindo com a cabeça erguida, uma bagunça de vidros quebrados, álcool, e membros. Eu cheguei primeiro na pista, seguido pelo prêmio, cujo acertou minha cabeça.

Eu abri meus olhos para encontrar Demi, Bobcat, e seus amigos parados na minha frente, me ajudando e olhando pra mim desaprovadamente. Eles tinham estado onde eu estava. Esse dia foi a primeira vez que eu ouvi sobre AA. Quando Demi e Bobcat sugeriram que eu deveria saber mais sobre o programa, eu dei de ombros. Mas eu pude ver nos olhos deles e o jeito que eles sacudiram suas cabeças e olharam um pro outro: eles sabiam isso, eu seria um deles. Eu estava me divertindo sem pensar nas conseqüências porque, pra mim, conseqüências não existiam. Nós éramos Mötley Crüe, nós tínhamos um disco de platina, e éramos maiores que o New York Dolls em todo lugar. Nós éramos jovens, fodidos, e adorávamos isso. Palavras como conseqüências, responsabilidade, moralidade, e autocontrole não se aplicavam a nós. Ou nós achávamos.


(continuação 4) Capítulo 6 - Nikki

Quando o baterista do Maiden, Nick McBrain, estava preso na fronteira entre França e Alemanha por carregar haxixe, ninguém na banda se incomodou em nos avisar o local do crime, aonde nós sempre fomos os últimos a deixar porque nós estávamos festejando. Eu sempre achei que esse foi um ato intencional de vingança, porque quando nós finalmente chegamos à fronteira, policiais alfandegários e cachorros entraram no ônibus enquanto nós dávamos goles e engolíamos tudo o que nós achássemos. Quando eles foram mexer nas malas do Tommy, uma grande quantidade de haxixe caiu no chão. Ele ficou lá por alguns minutos, olhando como um idiota imundo, enquanto nós suávamos nervosos. Então, o oficial revistou a mala do Tommy, olhou no ônibus, e foi na direção do Vince. Ele pisou no haxixe, e enfiou no fundo do seu sapato como um pedaço de chiclete. Os oficiais me fizeram rançar a roupa, colocar meus braços contra a parede, e me curvar para que eles pudessem vasculhar o meu cu. Eu endureci meus músculos e tentei o máximo que eu pude cagar na mão deles. Eu fazia, fazia e fazia força, mas não consegui nenhum resultado.

Depois do acidente da fronteira, nós começamos a colocar escutas no camarim do Iron Maiden para descobrir, primeiro, se eram eles os responsáveis pelo mandato de busca e, segundo, quem era a porra daquela garota. Exceto Nicko, nenhum deles parecia gostar da gente. Na última noite da turnê, Bruce até chamou Mick para desafiá-lo em um duelo. Eu acho que ele achava que Mick tinha transado com aquela garota.

No fim da turnê da Europa, nós soávamos terríveis. Vince estava ficando muito louco toda noite que nem médico ou medicações poderiam fazê-lo ficar bom no palco. Nosso último show na Europa, no Dominion Theatre em Londres, foi o nosso pior. Nós estávamos ridículos porque nosso estilo estava começando a envolver a penumbra de Road Warrior para mais colorido, adaptações falsas de bobos da corte. Para o show, eu estava usando roupas verde-escuro, pintei o meu baixo da mesma cor, e coloquei meus moccasins. Eu parecia um duende gigante. Devia ter um açougue lá perto ou algo parecido porque, durante o show, fãs tacavam ossos de pernas e cabeças de animais e lingüiças estranhas na gente. Nós levamos isso como elogios até o técnico de bateria do Tommy, Clyde Duncan, cair no chão. Nós olhamos, e ele tinha uma flecha enfiada nas suas costas. Tommy, com uma mão, tirou a flecha enquanto tocava.

Minutos depois disso, a máquina de gelo seco explodiu. Um forte cheiro de algo parecido com suco de cachorros quente se espalhou pelo palco e grudou na minha roupa, e uma úmida poça se formou em volta do meu pé. A equipe, eu suponho, estava derramando molho de cachorro quente no palco como uma piada de fim de turnê. Eu achei que essa foi uma boa brincadeira, mas quando eu olhei para o Tommy, ele parecia impressionado. Sua bateria estava cercada de água, e eu suponho que eles derramaram molho de cachorro quente nele, também.

Depois de Vince resmungar durante nossa última música, eu fui andando pela água no palco para achar Tommy. Ele estava inclinado sobre o Clyde e o cheiro de cachorros quente estava insuportável. Eu cheguei mais perto e descobri que o cheio era a pele queimada de Clyde. E máquina de gelo seco tinha explodido na sua cara, fritando sua pele como kosher (*comida judaica) fervente e espalhando água por todo o palco, que se inclinou pra frente. Clyde ainda estava agonizando quando nós voltamos para a America mais tarde. Felizmente, nós tínhamos muitos remédios para dor.


(continuação 3) Capítulo 6 - Nikki

Na Alemanha, nós ficamos loucos com Claude Schnell, o tecladista do Dio, no seu quarto de hotel. Quando nós corremos do quarto para pegar alguma coisa, nós decidimos foder com ele. Nós pegamos as duas camas minúsculas européias no quarto e as jogamos, pedaço por pedaço, pela janela, seguidas pelas cadeiras, mesa, televisão, e cômoda. Dois Mercedes- Benzes novinhos estavam estacionamos abaixo do quarto, e cada pedaço de móvel caíram diretamente neles. De repente, a polícia alemã estava batendo na porta do Claude com rottweilers. Sua banda inteira teve que fazer as malas e sair do hotel, que baniu Dio por anos, enquanto nós continuávamos lá culpados. Eu posso não ter gostado do álbum Intermission deles, mas eu sempre dei crédito ao Dio por não ter dito sobre nós.

Na Suíça, depois da turnê do Iron Maiden, nós não estávamos com muita sorte. Tommy e Vince compraram bombas e soltaram uma no quarto deles. Uma bola gigante de fogo acertou a parede, antes de deixar o colchão do Tommy em chamas. Ele e Vince estavam tão entretidos que eles correram para achar Doc para mostrar pra ele a cama em chamas. Mas quando eles voltaram para o quarto com ele, eles descobriram que eles tinham trancado suas chaves pro lado de dentro. Naquele momento que a empregada os deixou entrarem, tinha fumaça saindo pela porta. Por alguma razão, eles não nos expulsaram do hotel até o dia seguinte, quando nós usamos bolas gigantes de metal anexadas nas chaves para quebrar o vidro da janela dos elevadores. Nós estávamos totalmente entediados com a Europa.

Adicionando um elemento extra de grande tensão para a turnê do Maiden, foi o fato de que a misteriosa garota do banheiro ficava vadiando atrás do Bruce o tempo todo. Toda hora que eu via o Bruce, ele me oferecia aulas de esgrima, porque ele fazia esgrima. Eu ficava rejeitando, embora, porque eu tinha certeza que ele iria usar as aulas de esgrima como uma desculpa por acidentalmente me apunhalar até a morte por ter transado com ela.