18 de jan. de 2011

PARTE SEIS - GIRLS GIRLS GIRLS - Capítulo 1 - Tommy

fig. 1
Festa de lançamento do álbum Girls, Girls, Girls no Body Shop.

PARTE SEIS

>>GIRLS, GIRLS, GIRLS<<

Capítulo 1

Tommy

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Lembranças de como um bom amor floresceu em um noivado, agradecendo sem medida para o uso de um ato do antigo truque de fazer seu pretendente esperar, e esperar, e esperar

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“Oi,” eu disse.

“Oi,” ela respondeu.

“Prazer em conhecê-la.”

“Bom, tchau.”

“Tchau.”

Foi isso, cara. Foi tudo o que nós dissemos. Foi breve, foi embaraçoso, e isso mudou minha vida pra caralho. O lugar era o Forum Club, o evento era um show do REO Speedwagon, a garota era Heather Locklear, e o cara que nos apresentou foi meu contador, Chuck Shapiro.

Chuck, que tinha me levado ao show porque ele também era contador do REO Speedwagon, conheceu Heather porque seu irmão era seu dentista. É desse jeito que as coisas funcionam, por alinhamentos de milhões de acasos. Alguns chamam isso de sorte, mas eu acredito em destino. Eu tenho que acreditar. Eu cometi vários erros com essa garota, e ela continuou saindo comigo.

Eu pensei nela de novo uma semana depois quando eu estava navegando pela TV e vi um episódio de Dynasty com a Heather nele. Eu instantaneamente liguei para o Chuck e implorei pra ele seu número. Ele ligou para o seu irmão dentista e me retornou como um bom amigo.

Na outra tarde, eu respirei fundo, coloquei meus pés em cima do sofá, e liguei pra ela. A conversa foi embaraçosa como a nossa primeira. Minha TV estava no mudo, mas enquanto nós estávamos tendo aquela pequena e inconfortável conversa, eu vi seu rosto aparecer na tela no The Fall Guy. Eu aceitei isso como um sinal que nós pretendíamos ser.

“Ei, liguei a sua TV,” Eu disse a ela. “Você está no canal quatro.”

Ela ligou sua TV. “Hum,” ela me informou, “essa é Heather Thomas.”

Eu quis desligar na hora, pegar uma arma, e atirar na porra da minha cabeça. Deus deixa tudo perfeito para mim, e eu sempre arrumo um jeito de foder tudo.

Ela teve piedade de mim e sugeriu que nos encontrássemos de qualquer forma numa sexta-feira a noite. Eu nunca havia saído com alguém como a Heather antes. Ela não era o tipo de garota que eu poderia levar para a minha van como a Bullwinkle, ou fazer sexo grupal em uma Jacuzzi como a Honey. Ela era uma mulher de verdade, uma boa garota, e mais famosa do que eu – três coisas que eu nunca tinha experimentado em um encontro antes.

Eu estava nervoso pra caralho antes. Eu me arrumei na frente do espelho por horas, espremendo espinhas, penteando meu cabelo, excitado com o meu colarinho, passando colônia estrategicamente pelo meu corpo, e tendo certeza que todas as minhas tatuagens estavam cobertas. Eu cheguei cedo à casa que ela vivia com a irmã e fiquei perdendo tempo lá fora até dar sete horas em ponto. Eu me senti como um macaco treinado do caralho com a minha camisa formal e calças pretas. Eu apertei a campainha, fiquei nervoso, e uma garota que parecia com a Heather abriu a porta. Eu não sabia o que dizer porque eu não tinha certeza se era a Heather ou a irmã dela. Eu acenei timidamente, e entrei, e esperei ela dar algum um tipo de sinal que divulgasse sua identidade. Daí, no topo da escada, eu vi um vestido branco. Agora, aquela era Heather. Ela desceu lentamente, sem uma palavra, como em Gone With the Wind.

Ela olhou de um jeito tão sexy que eu queria correr até ela, atacá-la, e tirar as roupas dela. “Você está linda,” eu disse pra ela enquanto eu gentilmente pegava em seu braço. Sua irmã me observou cuidadosamente, e eu pude senti-la me medindo, determinando se eu era certo para Heather ou era apenas um palhaço.

Nós saímos para comer comida italiana, daí assistimos alguma comédia de merda porque eu pensei que isso era alguma coisa normal que as pessoas fazem em encontros. Nessa noite, nós conversamos sobre tudo. Ela tinha saído com vários caras ricos e irritantes e atores ruins como Scott Baio. Mas ela nunca tinha estado com um roqueiro. Eu posso dizer que isso era um ponto a meu favor depois ela pedir para ver minhas tatuagens. Ela era uma boa garota que fantasiava sobre um garoto mal, e eu sabia que mesmo com o meu colarinho engomado e minha colônia Drakkar Noir não podia disfarçar o fato que eu era um garoto mal.

Nós voltamos para sua casa e bebemos champanhe, mas eu estava muito assustado para fazer um movimento. Eu não queria que ela pensasse depois que eu era apenas um garoto de uma noite ou que estava tentando transar com uma atriz famosa. Pela hora que eu fui embora aquela noite, nós fizemos milhões de planos juntos.

Nós lentamente começamos a sair mais – sair pra jantar, ver filme, ir a festas. No fim das contas eu comecei a passar a noite na casa dela. Mas ela não colocava pra fora, cara. Eu a deixava bêbada e tentava transar com ela de todas as maneiras que eu pude por semanas, mas ela não percorria o caminho todo. Essa é outra coisa que eu nunca tinha experimentado antes, e por causa disso, nós realmente ficamos íntimos e nos tornamos amigos. Ela tinha uma personalidade animada, um ótimo senso de humor, e amava brincadeiras do mesmo tanto que eu. Ela aparecia com flores para mim e eu aprendi a amar isso. Qualquer cara, que disser que ele não gosta de flores é inseguro da sua masculinidade.

Depois de um mês e meio, eu estava tão louco que eu não consegui mais agüentar. Nós finalmente transamos, e ela me fez esperar tanto que eu apreciei cada segundo, porque acreditei em mim, isso apenas permaneceu por segundos. Mas nós fizemos isso de novo e de novo nessa noite até nós termos certeza que estávamos apaixonados, porque quando você está com alguém que você não ama, uma vez é normalmente o suficiente.

Na outra manha, eu estava indo pra sua piscina de cueca quando seu pai parou na casa. Heather se assustou: ela pode ter sido famosa por ter feito uma puta sexualmente agressiva e dominadora na televisão, mas na vida real ela era hipócrita como eles vieram. Ela estava muito preocupada que seu pai, que era o reitor da UCLA Escola de Engenharia, reprovaria se ele visse todas minhas tatuagens. Eu me cobri com toalhas. Mas mesmo tendo uma parte pra fora, seu pai pareceu não se preocupar.

Depois de nós transarmos, a relação foi para outro nível por completo. Um dia, nós estávamos assistindo corrida de dirt-bike na TV que eu disse a ela que eu adoraria experimentar aquilo. No outro dia, tinha uma dirt bike do lado de fora da minha casa. Ninguém – homem ou mulher – tinha feito algo tão generoso para mim antes. Nós estávamos lentamente percebendo que nós queríamos ficar juntos por um longo, longo tempo, talvez até para sempre.

Quando eu a deixei para a turnê do Theatre of Pain, tocando “Home Sweet Home” toda noite, eu sentia alarmes tocando na minha cabeça. Aquilo era o que eu queria a minha vida inteira. Eu queria construir um lar, como meus pais. Eu sempre fui o magrelo alto, andando por L.A. procurando por uma imagem de um pai ou uma mãe. Talvez isso veio do medo que meu analista de sonhos disse que eu peguei da minha mãe: eu tinha medo de ficar sozinho, de não ter comunicação. Conforme a turnê do Theatre ia, mais eu sabia o que eu queria fazer.

Quando eu estava em casa de folga durante o Natal, Heather e eu estávamos dirigindo na Ventura em uma limusine. Eu parei e coloquei a minha cabeça pra fora do teto solar.

“Ei,” eu gritei para a Heather. “Venha aqui e veja isso.”

“O que?”

“Venha aqui!”

“Eu tenho que fazer isso?”

Lentamente, relutantemente, ela se levantou. Conforme a sua cabeça passava pela abertura, e seu corpo pressionado contra o meu, eu perguntei pra ela: “Você quer se casar comigo?”

“O que?” ela disse. “Aqui é alto demais. Eu não consigo te ouvir.”

“VOCÊ QUER SE CASAR COMIGO?”

“Sério?” ela olhou para mim ceticamente.

Eu alcancei meu bolso e puxei um anel de diamante. “Sério.”

“O que?”

“SÉRIO!”

Quando a turnê acabou, nós casamos em um pátio em Santa Barbara. Eu vesti um terno de couro branco e ela vestiu um vestido tomara que caia banco com luvas brancas que começavam no meio do seu braço, deixando seus ombros bronzeados e magros, delicado pescoço descobertos. Era o maior casamento que eu já tinha visto: quinhentos convidados, pára-quedistas caindo carregando grandes garrafas de champanhe, e pombos brancos que voavam no ar após nós dizermos nosso juramento. Rudy, um dos nossos técnicos, nos deu o melhor brinde: “Para Tommy e Heather,” ele disse, erguendo um copo de champanhe. “Talvez todas suas brigas estejam enterradas.” Daí ele pegou o copo de champanhe e esmagou na sua cabeça. Eu dei uma olhada nas mesas que a família de Heather estava sentada, e todos eles olharam como se eles tivessem tido outros pensamentos sobre o casamento.

Foi um dos melhores dias da minha vida. Todos os meus amigos estavam lá, incluindo metade da Sunset Strip. Parecia que todo mundo estava em grandes bandas agora: Ratt, Quiet Riot, Autograph, Night Ranger. O único problema nessa tarde foi Nikki. Eu pedi pra ele ser meu padrinho, e ele fez uma bagunça. Ele estava magro; ele suava constantemente; e sua pele estava completamente amarela, cara. Ele sempre pedia perdão para ir ao banheiro, e daí ele retornava e começava a cochilar no meio da cerimônia. Como um padrinho, ela estava tão drogado de heroína que ele estava sendo inútil. Eu não acreditava que ele estava injetando no meu próprio casamento.


fig 2.
Tommy e Heather Locklear

3 de jan. de 2011

Capítulo 10 - Tommy

Capítulo 10

Tommy

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Uma lembrança de tola curiosidade concluída com apreciação dos espíritos mutantes e humor dos nossos heróis enquanto eles continuavam sua nobre busca.

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Nikki, nosso segurança Fred Saundersm, e eu, ficamos por dois dias direto bebendo, cheirando, e comendo cogumelos. Nós estávamos em algum lugar do Texas. A janela estava aberta e o vendo estava fazendo uma sombra agitada pelo lugar. Daí, de repente, veio um som. Chugachugchugchug chugachugchugchug. Um trem estava passando, cara. E Nikki olhou pra mim. Eu olhei pro Nikki. E nós não precisamos falar nada: nós estávamos numa estranha drogada estação e nossas mentes estavam em total sincronização.

“Vamos embora,” nós dissemos um pro outro – não alto, mas telepaticamente.

Fred leu nossas mentes, e gritou, “Não, não, não!” Mas nós o deixamos na porra da poeira. Nós corremos pelo corredor e entramos no elevador, fazendo o nosso melhor pra deixar Fred em choque porque ele nunca deveria deixar isso acontecer. Nós corremos pelo saguão e enquanto isso, aparando o gramado da frente do hotel. Nós continuamos correndo, o mais rápido que podíamos, até nossos pulmões se sentirem como se eles fossem desmoronar. Fred estava duas centenas de jardas atrás de nós, gritando “Não, seus filhos da puta! Não!”

Mas nós continuamos correndo até nós vermos o trem, se movendo fazendo barulho pelos trilhos na frente de nós, rápido como uma puta. Eu o alcancei até eu estar correndo do lado dele.

“Vamos lá, Nikki! Vamos lá!” eu gritei. Ele ainda estava ofegando atrás de mim. Eu agarrei um pequeno apoio de metal perto da traseira de algum dos vagões e o trem puxou meus pés. Eu balancei minhas botas para um degrau na traseira do vagão, e eu estava livre.

Nikki estava quase alcançando. “Vamos lá, cara. Vamos lá.” Eu gritei. Ele mergulhou e pegou a ponta do degrau que eu estava. O trem estava o arrastando, com seu corpo torcido e seu pé batendo na sujeira. Eu agarrei seus braços e o puxei pra onde eu estava.

“Meu deus, cara! Isso é o melhor!” nós gritamos telepaticamente um pro outro. “Nós acabamos de saltar no nosso primeiro trem!”

E, então, nós vimos Fred e o hotel sumindo pela distância, a emoção tinha acabado. Nós não tínhamos idéia de onde nós estávamos, pra onde estávamos indo, e não tínhamos dinheiro. O trem estava pegando velocidade, se movendo cada vez mais rápido. Nós olhamos um pro outro, aterrorizados. Nós tínhamos que sair daquela coisa. Isso não parecia ter a mínima intenção de parar logo. Nós não podíamos fazer isso: nós tínhamos um show no outro dia.

“Ok. Um, dois, três,” nós pensamos um pro outro. E no três, nós dois saltamos, caindo nas pedras no chão, que deixou machucados, arranhões, e vergões em vários lugares no nosso corpo. Nós seguimos os trilhos de trem de volta pra casa, finalmente chegando ao hotel enquanto o sol nascia.

Antes da turnê do Theatre of Pain, nós nunca deveríamos ter deixado. Nós tínhamos que ter deixado o trem nos levar para o fim do mundo se pudesse. Nós nunca procurávamos pensar sobre alguma coisa antes de fazermos. Nós apenas pensamos sobre isso quando: (A) era tarde demais, ou (B) alguém se machucava.

Mas não era mais assim depois do acidente do Vince. Alguma coisa tinha mudado. Claro, nós continuamos nos divertindo, ficando loucos, fodidos, e socando nossos pintos em tudo. Mas não era a mesma coisa: Foder levava à casamento, casamento à divorcio, divorcio levava à pensão alimentícia, pensão alimentícia levava à pobreza. Tudo estava diferente depois do acidente: nós ficamos conscientes sobre nossa mortalidade – como seres humanos e como uma banda.