8 de abr. de 2010

(continuação 4) Capítulo 1 - Nikki

Aqui, finalmente, era uma cidade que lentamente se tornava estranha e se deteriorava, uma cidade grande o suficiente para o meu consumo de droga, bebidas alcoólicas, e o meu estado obcecado pela música. Ramone escutava El Chicano, Chuck Mangione, Sly e Family Stone, e todos os tipos de jazz e funk espanhol, que, ao invés de fumar um bagulho em um boteco, ele tentaria me ensinar a tocar, uma guitarra acústica desafinada, faltando a corda lá.

Nós logo nos mudamos, lógico, para uma área próxima chamada Fort Bliss, um grande agrupamento de quatro pequenos apartamentos idênticos para pessoas desempregadas. No meu primeiro dia na escola, em vez de me baterem, minha classe me perguntava se eu estava em uma banda. Então eu disse pra eles que estava.

No meu primeiro dia na escola, em vez de me baterem, minha classe me perguntava se eu estava em uma banda. Então eu disse pra eles que estava.

Eu tinha que pegar dois ônibus para a escola e, para matar o tempo durante a meia hora esperando o segundo ônibus, eu parava em uma loja de instrumentos chamada West Music. Tinha uma linda Les Paul dourada presa na parede que tinha um tom limpo, rico. Quando eu a toquei, eu tentava imaginar que eu estava dividindo o palco com os Stooges, fazendo solos de guitarra escalando pelo teto como Iggy Pop agitando o microfone e o público agitando como eles fizeram naquela escola em Jerome. Na escola, fiz amizade com um roqueiro que se chamava Rick Van Zant, um cabeludo drogado, que tocava em uma banda e tinha uma guitarra Stratocaster e um amplificador Marshall no seu porão. Ele disse que precisava de um baixista, mas eu não tinha um baixo.

Então eu fui até a West Music numa tarde, com um case de guitarra que um amigo do Rick tinha me emprestado. Eu procurava por um formulário e, quando o garoto se virou para procurar um, eu coloquei uma guitarra dentro da case. Meu coração estava pulando pra fora da minha camiseta e eu dificilmente conseguia falar quando ele me deu o formulário. Enquanto eu examinava o formulário, eu notei que o preço da guitarra estava fora da case. Eu disse pra ele que eu voltaria e deixaria o formulário, e andei o mais normal que eu pude, acidentalmente batendo a guitarra pelas paredes, portas, e tambores quando eu fui embora.

Eu tinha minha primeira guitarra. Eu estava pronto para o rock, então eu corri para o porão do Rick.

“Você precisa de um baixista,” eu disse para ele. “Eu sou seu cara.”

“Você precisa de um baixo,” ele sorriu desdenhosamente.

“Lindo,” eu respondi lançando a case numa mesa, abri, e tirei meu mais novo bem.

“Isso é uma guitarra, seu idiota estúpido.”

“Eu sei,” Eu menti. “Eu irei tocar baixo na guitarra.”

“Você não pode fazer isso!”

Então em pouco tempo dei tchau para minha primeira guitarra e a vendi, usando o dinheiro para comprar um brilhante baixo Rickenbacker preto com um escudo branco. Todo dia eu tentava aprender os Stooges, Sparks (especialmente “This Town Ain’t Big Enough for Both of Us”), e Aerosmith. Eu queria muito entrar na banda de Rick, mas eles sabiam muito bem como eu sabia que eu não conseguia tocar uma merda. Além disso, eles eram roqueiros mais tradicionais que faziam grandes riffs, como Rithie Blackmore, Cream, e Alice Cooper (especialmente Muscle of Love). Um cara do outro lado da rua dele estava começando uma banda chamada Mary Jane’s, então eu tentei ensaiar com ele, mas eu estava sem esperança. Tudo que eu consegui fazer foi forçar uma nota por trinta segundos ou eu esperava que fosse a certa.

Finalmente, do lado de um show para maiores de dezoito anos que eu estava tentando entrar, eu conheci um cara chamado Gaylord, um punk que tinha seu próprio apartamento e banda, a Vidiots. Todo dia depois da escola, eu ia pra casa dele e bebia até desmaiar, ouvindo New York Dolls, MC5, e Blue Cheer. Lá sempre tinha uma dúzia de glamorosos New York Dolls – parecendo garotas e rapazes lá, usando unhas lixadas e sombra de olho. Eles nos chamavam de Whiz Kids, não porque nós tomávamos muita anfetamina – e nós tomávamos – mas porque éramos exibidos, como David Bowie, que o seu álbum Young Americans tinha acabado de ser lançado. Como nos anos 60 na Inglaterra, nós vendíamos drogas para comprar roupas. Eu praticamente me mudei para casa de Gaylord e parei de ir para casa. Eu fazia drogas toda hora – baseado, mescalina, ácido, crack – e logo um punk inocente Whiz Kid vendia droga para eles.

Eu comecei namorar uma garota chamada Mary. Todo mundo costumava chamá-la de Horsehead, mas eu gostava dela por uma única razão: ela gostava de mim. Eu estava muito feliz que uma garota atualmente falava comigo. Depois de umas semanas de drogas e rock n’ roll, eu estava legal, mas ainda patético. Eu tinha pintado o dedo – e as unhas, rasgando roupas punks, maquiagem de olho, e um baixo que eu carregava pra todo lugar, mesmo eu ainda não conseguindo tocar e não estando em uma banda.

Nós saíamos e éramos ridicularizados por todos os lugares que nós passávamos. Na escola, eu entrava em brigas porque um grupo de pretos miúdos começou me chamar de Alice Bowie e bloqueavam o corredor para que eu não passasse. No caminho de casa depois da escola, eu comecei a roubar casas. Eu batia na porta quando eu passava e, se ninguém respondesse dois dias seguidos na próxima tarde eu esmagava a porta dos fundos e pegava tudo o que eu podia esconder debaixo da minha jaqueta. Eu chegava em casa depois da escola com rádios, TVs, lâmpadas, álbuns de foto, vibradores, tudo o que eu pudesse encontrar. Nas nossas idéias eu saquearia o subsolo de cada apartamento e quebrava as lavadoras com uma alavanca procurando por alojamentos. Eu estava furioso o tempo todo– parcialmente porque as drogas estavam fodendo com meus modos, parcialmente porque eu magoei minha mãe, e parcialmente porque esses eram as coisas punks que eu tinha que fazer.

Quase todos os dias eu vendia drogas, roubava merdas, entrava em brigas, e fritava em ácidos. Eu ia pra casa e deitava no sofá e assistia o Don Kirshner Rock Concert até eu cansar. Minha mãe não sabia o que estava acontecendo: Eu era gay? Heterossexual? Um serial killer? Um artista? Um garoto? Um homem? Um extraterrestre? O que? Para dizer a verdade, eu não sabia o que.

Toda hora que eu colocava o pé em casa, nós começávamos uma discussão. Ela não gostava do que eu estava me tornando, e eu não gostava do que ela sempre foi. Então, um dia, aconteceu: eu não consegui mais agüentar aquilo. Nas ruas eu era livre e independente, mas em casa eu era tratado como se fosse criança. Eu não queria mais ser uma criança. Eu queria ser deixado sozinho. Então eu destruí o lugar, eu me bati e liguei para a policia. Isso basicamente funcionou, porque eu fiquei livre dela depois.

Eu passei essa noite com meu amigo Rob Hemphill, um fanático por Aerosmith que pensava que era o Steven Tyler. Para ele, Tyler era o punk que Mick Jagger nunca iria ser. Depois que seus pais me expulsaram, eu dormi no carro de Rick Van Zant. Eu tentei acordar antes de seus pais, mas freqüentemente eles saiam de casa para o trabalho e me encontravam dormindo no banco de trás. Na terceira vez que me pegaram, eles ligaram pra minha mãe.

“O que está acontecendo com o seu filho?” A senhora Van Zant perguntou. “Ele está dormindo no meu carro”.

“Ele está agindo por si mesmo, ’’ minha mãe disse, e desligou.


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