21 de mar. de 2011

Capítulo 1 - Mick (continuação)

Aos catorze anos, eu entrei pra minha primeira banda, a Jades, uma banda cover de Beatles com algumas próprias que poderiam muito bem terem sido música dos Beatles. Eu comecei no baixo, mas logo eles substituíram seu guitarrista. Nosso primeiro show foi no American Legion Hall em Westminster, e nós conseguimos doze dólares para dividir entre nós quatro. Nós nunca fomos chamados de volta, entanto: ou nós éramos pesados demais ou muito ruins.

Eu tinha um amigo chamado Joe Abbey, um samoano que nunca abriu mão da guitarra surf e podia tocar tão bem que ele faria você cair de joelhos. Eu queria pegar emprestado seu amplificador e seu pedal, mas ele disse que eles pertenciam a Garcia Brothers. Ele me deu o telefone deles, e foi onde tudo realmente começou.

Eu entrei na casa deles, e achei três deles – Tony, Johnny, e Paulie. Eles eram grandes e miseráveis e lideravam uma gangue chamada Garcia Brothers. Tony era um guitarrista que teria seus irmãos espancados se alguém falasse que eles eram melhores que ele, Paulie era um baterista alto que era infeliz porque ele se sentia como se ele devesse tocar guitarra, e Johnny era um baixista que tinha sido levado para a autoridade quando ele tinha dezesseis anos por espancar dois policiais. Eles também tocavam com um não-irmão, Paul, um tocador de gaita que parecia Jesus. Eles eram rígidos, e eles não tocavam surf rock ou Beatles. Eles tocavam blues. Blues elétrico e pesado.

Os vizinhos dele os odiavam, porque eles sabiam que os irmãos estavam usando drogas e brigando. Por alguma razão, eram sempre pessoas cegas, surdas, ou aleijadas em volta dos irmãos, e eu imagino que isso era evidência que um dos dois tinha um lado suave e compassivo ou estavam correndo de algum tipo de mistério defraudado. Às 9 da noite, numa noite, os policiais nos prenderam por causa de queixa de barulho, e eu reconheci o que eles chamavam de condicional de verão basicamente apenas por tocar minha guitarra. (Isso talvez seja o porquê agora eu tenho aversão aos vizinhos que fazem queixas do barulho.) Nós formamos uma banda pretensiosamente chamada Sounds of Soul, e tocamos em clubes para menores de idade perto do Orange Country como o Sandbox.

Na escola, eu não ligava para nada a não ser para a música. Eu era um dos três melhores guitarristas lá: o melhor era Chuck Frayer, que podia solar como ninguém que eu já havia visto, fazendo bends e deixando-as no ar para sempre. Ele acabou sendo recrutado para a marinha durante o Vietnam, e a última vez que eu o vi foi no The Gong Show. Ele estava tocando a harmônica em um terno que o fazia parecer que tinha duas cabeças. E você pode apostar os lucros da sua mãe que ele foi o gongo.

Outro guitarrista bom era Larry Hansen, que acabou com os Gatlin Brothers. E o terceiro era eu. Escola era pura tortura, e tudo o que eu conseguia pensar a respeito era ir para a casa para praticar. Em inglês, nosso professor, Mr. Hickock, queria que escrevêssemos um trabalho interpretativo em um poema. Todas as outras crianças escreveram sobre Robert Frost e Ralph Waldo Emerson, mas eu apareci com “Pressed Rat and Warthog” da Cream. Quando Mr. Hickock devolveu os papéis, ele tinha escrito no meu: “F – que é uma grande incompreensão.” No outro dia, nós tivemos uma prova, e eu respondi uma questão por chamar o professor de antiquado, odiador de música esnobe, escrevendo “que é uma grande incompreensão” sob isso. Eu entreguei o papel, e quando ele leu aquilo, ele me mandou pro diretor, que me deu suspensão – que era uma grande incompreensão, ele disse, porque eu deveria ser expulso. Eu não liguei. Eu só queria ser ensinado por pessoas que soubessem algo sobre música. Mas agora eu penso que eu deveria ter prestado mais atenção nas aulas de inglês, porque quando eu falo com as pessoas, eu me preocupo que eu fale de forma inculta ou use as palavras erradas.

Quando eu voltei para a escola, um professor substituto de ciências me colocou pra fora por escrever acordes de guitarra no meu caderno ao invés de prestar atenção. Enquanto eu caminhava para fora da classe, eu virei para ele e gritei, “Eu sei onde você estaciona o seu carro! Eu sei onde você mora! É melhor você tomar cuidado!” Eu não acho que eu era aquele que assustava as pessoas – eu parecia o Duane Allman de cabelo vermelho com bigodinho. Mas o professor ficou tão assustado, que mandou policiais para minha casa.

Até então, eu estava morando em um chalé atrás da casa dos meus pais, o qual ficava ao lado de um riacho. Era um lugar que eu podia tocar minha guitarra a qualquer hora, ficar acordado até a hora que eu quisesse, e deixar amigos entrarem e beber um vinho. Quando os policiais viram o lugar, eles disseram que não era bom nem para um cachorro morar. Eles deram lição de moral nos meus pais e, apesar de eu ser permitido a voltar a escola, eu acho que eu parei de ir depois disso. Se escola até então fosse como as que temos hoje – com aulas de arte, apreciação musical, e computadores – eu teria ficado. Mas não tinha nada lá que me interessava.

PARTE SETE - ALGUNS DOS NOSSOS MELHORES AMIGOS SÃO TRAFICANTES DE DROGAS - Capítulo 1 - Mick


PARTE SETE

>>ALGUNS DOS NOSSOS MELHORES AMIGOS SÃO TRAFICANTES DE DROGAS<<

Capítulo 1

Mick

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Na qual o ex-trato de Bob Alan narra as travessuras da sua juventude há tempos atrás quando cowboys perambulavam pela terra e o controle de natalidade claramente ainda não tinha sido inventado.

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De volta aos meus tempos, cordas não eram feitas de arames. Era corda de verdade mais ou menos um quarto de uma polegada de extensão se você a abrisse. Era próximo ao barbante, na verdade, e nós usávamos isso para embrulhar o feno. Eu acho que nós também usávamos isso para enforcar meu irmão mais velho.

Meu irmão mais novo, Tim, e eu fizemos um laço de um pé e meio na corda e seguramos isso com um nó corrediço. Eu joguei o laço em cima do galho de um carvalho e amarramos a outra ponta da corda em volta do tronco. Tim achou uma caixa com cinco galões no galpão da minha avó e colocou isso abaixo da trava do nó corrediço. Eu chutei a caixa para longe dele, e nós observamos ele balançar.

Nós éramos os indianos: ele era o cowboy. Ele gritava e lutava enquanto ele se balançava no ar, e ele continuava tentando arrancar o nó a força com a sua mão. Quando nós ficamos entediados de ficar o vendo tentar respirar e gritar, Tim e eu entramos.

"Onde está Frank?" Tia Thelma perguntou. Tia Telma, que não devia ter mais do que cinco pés de altura, era a filha mais leal da minha avó e morou com ela até finalmente se casar com vinte e cinco anos.

"Ali fora." Tim apontou para o lado do jardim.

"Oh meu verbo," Tia Thelma respirou, e ela correu para a árvore, levantou Frank, e tirou o laço do seu pescoço.

Eu tinha cinco anos. E eu não estava brincando. Eu nasci B.A.D. (*mau) – Bob Alan Deal. (*Negócios de Bob Alan). Pessoas que tiveram experiências quase-morte sempre dizem que eles entraram num túnel, e no final do túnel tinha uma luz. Eu gosto de pensar que quando você morre, você anda pelo túnel, e quando você chega a outra ponta, você é renascido. O túnel é o canal de nascimento, e a luz no final do túnel é a maternidade, onde sua nova vida te espera. Quando alguém tem uma experiência de quase-morte, quando eles vêem a luz, mas não andam até ela, lá tem uma mulher em algum lugar dando a luz a um bebê natimorto que era suposto a ter a alma dessa pessoa.

Eu costumo dizer para as pessoas que na outra vida eu era Buddy Holly, daí eu voltei como o Brian Jonas do Rolling Stones, e finalmente eu retornei para a terra como Mick Mars. Mas eu nunca falava sério. Isso não significa que eu rejeitei uma possibilidade de uma vida passada, mas eu me pergunto por que as pessoas sempre acreditam que foram uma figura famosa ou histórica, O que aconteceu com os limpadores de chaminés e donas de casa? Eles não foram reencarnados, também? Enquanto pra mim, eu fui avisado da minha vida passada por um velho hippie sábio conhecido como Midnight Gardener, que costumava ir a minha casa na Santa Monica Mountains e ficava no meu gramado toda noite a uma da manhã. O Mignight Gardener me disse que eu fui o Rei do Bórneo, um canibal, e um escravo que trabalhava nas grandes pirâmides do Egito. Eu acho que eu devo ter sido algum tipo de conquistador de mulheres e ladrão, porque nessa vida eu fui castigado por isso: mulheres e dinheiro não gostam de mim. De fato, o passado sempre pareceu sair da minha vida tarde.

Desde o momento que eu enforquei meu irmão, eu soube o que eu queria com essa vida. Porque mais tarde naquela semana, Tia Thelma levou Frank, Tim, e eu para o 4-H Fair no Hiers Park em Huntington, Indiana, onde nós morávamos. Ela comprou picolés para nós, e nós sentamos na grama para comê-los e assistir a um show. Eu era muito novo, eu nem sabia o que era um show. Eu vi um cara magro e alto usando um terno de cowboy laranja brilhante com strass e um chapéu branco – mais exagerado do que a roupa de cowboy que o Frank estava usando quando eu o linchei. O cara no palco se apresentou como Skeeter Bond, e ele começou a cantar. Tinha outros cowboys tocando guitarra e bateria atrás dele, fazendo muito barulho. Meu maxilar abriu, e eu esqueci completamente do meu picolé, que derreteu na minha roupa. Eu queria ser ele. Eu queria fazer música em um palco. Eu não me importava com o tipo de música. Música era música: era tudo bom, se era a música de cowboy do Skeeter Bond ou os discos do Elvis Presley da minha mãe.

Nesse Natal, meus irmãos e eu corremos pro andar debaixo de manhã para abrir nossos presentes. Tinham longas meias penduradas na lareira, e um deles tinha uma guitarra muito pequena com cordas que eram provavelmente elásticos. “Isso é meu!” eu gritei, e agarrei aquilo antes que alguém pegasse de mim. O Natal seguinte, quando eu tinha seis anos, minha mãe comprou uma guitarra do Mickey Mouse pra mim, que tinha orelhas de rato no braço e uma pequena alavanca que eu podia virar para fazer músicas Mouseketeer. Mas eu não estava interessado nas músicas Mouseketeer. Eu aprendi como apertar as cortas para que elas pudessem parecer mais com a guitarra aguda do Skeeter Bond, e descobri como tocar melodias de verdade nela.

Tinha um vagabundo legal nos seus vinte anos que morava perto, e eu o chamada de Sundance. Ele tinha uma guitarra velha chamada Blue Moon, e ele me ensinou minha primeira música de verdade na Blue Moon: “My Dog Has Fleas.” Às vezes eu queria saber se era música country ou se era meu desejo de verdade.

Finalmente, Sundance me ensinou como palhetar melodias, como a balada matadora “Hang Down Your Head Tom Dooley.” Eu gostava dessa melodia porque ela saltava da Blue Moon, e, embora eu não sabendo a terminologia na época, eu já estava preferindo tocar guitarra com mais ritmo, que parecia mais com algo que estava sendo tocado no fundo.

Se não fosse por Jesus ter nascido, eu nunca teria chegado a lugar nenhum na música. Porque foi em outro Natal, alguns anos mais tarde, que meu primo mais velho comprou pra mim uma guitarra Stella que ele tinha achado em uma casa de penhores por doze dólares.

Logo depois, meus pais deram à luz a sua primeira menina, Susan (ou Bird, como a chamávamos). Bird nasceu com um problema no pulmão, e para aumentar sua chance de sobrevivência, os médicos sugeriram que nós nos mudássemos para um clima mais árido, como Arizona e Califórnia. Então, dez de nós - eu, meus irmãos, meus pais, minha irmã, minha tia, meu tio e meus primos – nos enfiamos em um Ford 1959. Depois de três dias e meio de costas rígidas e privação de oxigênio, chegamos em Garden Grove, Califórnia. Foi como em The Grapes of Wrath, apenas Califórnia realmente viveu até a fantasia: Havia laranjeiras por toda parte. E a noite, nós pudemos ver os fogos de artifício saindo acima da Disneylândia. Mas na Califórnia, música country e Skeeter Bond eram palavras estrangeiras. Surf music era o que estava rolando – Dick Dale, the Ventures, the Surfaris.

Meu pai trabalhava na Menasha Container (que fazia caixas de papelão para uma das minhas companhias preferidas, Fender) e minha mãe passava camisetas nos finais de semana para um dinheiro extra – dois dólares por dia se ela tivesse sorte. Apesar eu ter outro irmão mais novo e uma irmã até então, ela continuava a guardar dinheiro suficiente para comprar uma guitarra elétrica St. George de quarenta e nove dólares. Agora eu podia tocar surf music que soava como ondas enroladas e barulhentas, como o Dick Dale tocava. Volume também era importante pra mim, mas meus pais não tinham dinheiro suficiente para comprar para mim um amplificador ou um estéreo. No lugar disso eu pegava o alto falante do fonógrafo da minha irmã, arrancava as cordas do braço, e fazia minha própria combinação de amplificador e estéreo para que eu pudesse tocar minhas músicas surf favoritas.

Meu pai, entretanto, acordou um dia e de repente decidiu se tornar ministro batista. Quando ele era criança, ele sofreu de uma doença debilitada que atacou suas pernas. Os médicos falaram que não tinha nada que eles poderiam fazer por ele a não ser rezar por piedade para Deus. Quando a doença se resolveu, isso deve ter plantado um despertar de Deus na cabeça do meu pai, que se excitou naquela manhã quando ele veio correndo na cozinha louco que ele tinha visto os erros dos seus jeitos e queria dedicar sua vida sendo ministro.

Apesar da descoberta da religião, meu pai nunca tentou me desencorajar de fazer música. Ele e minha mãe pensavam que a razão por eu ser tão obcecado era que meu cérebro foi frito quando eu tinha três anos. Eu peguei febre escarlate e fiquei com 106 graus de temperatura por três dias. Um médico foi até a casa da minha avó, quando eu estava na cama quase morto, e tirou todas minhas roupas, me cobriu com toalhas frias, e encheu minha cama com gelo. Daí ele abriu todas as portas e janelas na casa até o ar de inverno encher o quarto, e depois de uma hora, a febre abaixou. Eu estava doente demais, eles disseram, que talvez eu nunca tivesse me recuperado.

Surf music, para eles, era apenas outra doença. Mas logo depois veio uma doença mais contagiosa, os Beatles. Na noite anterior, surf rock estava arcaico e pop com vocal – melodias, harmônicos, e letras que você podia balançar a sua cabeça – era o que tava rolando. Eu decidi que eu tinha que cantar, também. Eu praticava todo dia durante um ano até eu estar pronto pra mostrar pra minha família. Eu os reuni no andar debaixo e cantei “Money” dos Beatles. O meu primo que tinha comprado minha primeira guitarra de verdade teve um ataque histérico. Ele disse que eu não conseguiria cantar uma música se ele me fizesse ficar quieto e colocasse fim nisso. Eu fiquei tão constrangido que eu nunca tentei cantar de novo – para o resto da minha vida.