6 de abr. de 2010

(continuação 2) Capítulo 1 - Nikki

Mudamos-nos para o meio do deserto em Anthony, New Mexico, porque meus avós pensavam que poderiam ganhar mais

fig. 4 Relatório de notas do Nikki da sexta série, Anthony, New Mexico, Gasden School District
















fig. 5 Pai do Nikki, Frank Ferrana

mais dinheiro com uma fazenda de porcos. Nós criávamos galinhas e coelho como porcos também. Meu trabalho era pegar cada coelho, o segurar pelas suas pernas de trás, pegar uma vara, e esmagar na parte de trás da cabeça dele. Seu corpo convulsionava em minhas mãos, sangue gotejava do seu nariz, e eu ficava lá pensando, “Ele era apenas meu amigo. Estou matando meus amigos”. Mas na mesma hora eu soube que os matar era o meu papel na família; isso foi o que eu tive que fazer para me tornar um homem.

A escola era noventa minutos de ônibus em uma estrada sem asfalto e um constante balanço. Quando nós chegávamos, as outras crianças que sentavam no fundão do ônibus me empurravam pro chão e ficavam em cima de mim até eu dar meu dinheiro do lanche. Depois de sete vezes, eu jurei que isso não iria mais acontecer.

Na outra manha, eu trouxe uma lancheira de metal do Apollo 13 e a enchi com pedras no ponto de ônibus. Logo que nós chegamos, eu sai correndo do ônibus e, como de costume, eles me pegaram. Mas nessa hora, eu comecei a girar, quebrando narizes, amassando cabeças, e espalhando sangue por todo lado até que a lancheira quebrou aberta no rosto de um idiota inato.

Eles nunca me foderam denovo – e eu me senti poderoso. Ao invés de me encolher perto das outras crianças, eu apenas pensava “Não fique comigo, porque eu irei te foder”. E eu falava: “se alguém me empurrar, eu irei encher de porrada”. Eu estava louco, e todos começaram a fazer isso e manter tal distância. Ao invés de atirar pedras quando eu estava sozinho, eu comecei a andar pelas estradas de terra com a minha arma BB, roubando todas as coisas animadas e inanimadas. Minha única amiga era uma velha dama que vivia em um trailer próximo, totalmente sozinha no meio do deserto. Ela sentava em seu sofá desbotado estampado com flores e bebia vodka enquanto eu alimentava o peixinho-dourado.

Depois de um ano vivendo em Anthony, meus avós decidiram que criar porcos não era o caminho para a riqueza que eles achavam que era. Quando eles me disseram que iríamos voltar para El Paso – um quarteirão da outra casa – eu fiquei cheio de alegria. Eu poderia ver meu amigo Victor de novo.

Mas eu não era mais o mesmo – eu era cruel e destrutivo - e Victor tinha encontrado novos amigos. Eu passava por sua casa no mínimo duas vezes por dia, sentindo cada vez mais meu isolamento me irritando, antes da caminhada pela escola para ser atacado com equipamentos de esporte pelo Distrito de Gasden Júnior que eu odiava. Eu comecei a roubar livros e roupas dos armários das pessoas e entrava na loja principal, Piggly Wiggly’s, e roubava doces e colocava Hot Wheels nos sacos de pipoca de dez centavos esperando que as pessoas pudessem engasgar. De Natal, meu avô vendeu a maioria dos seus bens - incluindo seu rádio e seu único terno – apenas para me comprar uma faca, e eu retribui seu sacrifício usando isso para golpear pneus. Vingança, ódio a si mesmo, e aborrecimento abriram caminho para a delinqüência juvenil para mim. E eu escolhi seguir isto até o fim.

Meus avós eventualmente se mudaram para Idaho, para um milharal com 60m² em Twin Falls. Nós morávamos perto de um buraco de silagem, que é onde o excesso de palha e resíduos que sobram após a colheita são despejadas, misturadas com produtos químicos, cobertas com plástico e deixadas apodrecer na terra, até eles federem o bastante para dar de comida para vacas. Eu vivia uma vida como de Huckleberry Finn nesse verão – pescando no riacho, andando pela estrada de ferro, esmagando dinheiro debaixo dos trens, e fazendo montes de feno.

Muitas manhãs, eu corria pela casa, fingindo que eu tinha uma moto, então eu me trancava no quarto e ouvia a rádio. Uma noite, o DJ tocou “Big Bad John”, do Jimmy Dean e eu perdi minha cabeça. Aquilo cortou o tédio como uma foice. A música tinha estilo e atitude: isso era legal. “Eu encontrei” eu pensei. “Isso era o que eu estava procurando”. Eu liguei tantas vezes para a rádio pedindo “Big Bad John” que o DJ disse para eu parar de ligar.

Quando a escola começou, era como Anthony novamente. As crianças me atormentavam e eu tinha que recorrer aos socos para elas pararem. Eles tiravam sarro do meu cabelo, do meu rosto, dos meus sapatos, das minhas roupas – nada de elogios. Eu me sentia um quebra cabeça com um pedaço faltando, e eu não podia compreender o que aquele pedaço era ou onde eu poderia encontrá-lo. Então eu entrei para o time de futebol porque violência era a única coisa que me dava poder diante aos outros. Eu fiquei na primeira linha, e joguei no ataque e na defesa. Eu cresci como um final defensivo onde eu pudia bater nos zagueiros. Eu amava machucar esses filhos da puta. Eu estava psicótico. Eu tive muito trabalho no campo, eu gostaria de arrancar meu capacete e esmagar outras crianças com ele, como se fosse minha lancheira do Apollo 13 em Anthony. Meu avô sempre me diz, “Você toca rock como você jogava futebol”.


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