31 de mar. de 2010

PARTE 1 - A CASA MÖTLEY - Capítulo 1 - Vince

fig. 1


MÖTLEY CRÜE


PARTE UM


>> A CASA MÖTLEY <<

Capítulo 1

Vince


--

Em relação à primeira casa; onde Tommy foi pego com suas calças para baixo e suas bolas em um buraco, Nikki pegou fogo para o desagrado do tapete, Vince cobiçou narcóticos em David Lee Roth e Mick manteve uma justa e confusa distância.

--


Seu nome era Bullwinkle. Nós a chamávamos disso porque ela tinha um rosto como de um alce. Mas Tommy, mesmo que ele pudesse pegar qualquer garota que ele quisesse na Sunset Strip, não podia romper com ela. Ele a amava e queria casar com ela, ele sempre dizia para nós, porque ela podia espirrar sua goza por toda a sala.

Infelizmente, não era apenas goza que ela fazia voar pela casa. Eram louças, roupas, cadeiras, socos – basicamente qualquer coisa ao alcance do seu temperamento. Até então, e eu vivia em Compton, eu nunca tinha visto ninguém tornar isso tão violento. Uma palavra errada ou um olhar podia fazer com que ela tivesse um ataque de ciúmes. Uma noite, Tommy tentou mantê-la longe batendo a porta com tudo – a fechadura tinha sido quebrada há muito tempo por ser chutada repetidamente pela polícia – e ela agarrou um extintor e o jogou contra o vidro da janela para entrar. A polícia retornou mais tarde dessa noite e ameaçou Tommy com a arma enquanto Nikki e eu nos escondemos no banheiro. Eu não tenho certeza pelo que nós estávamos mais assustados: Bullwinkle ou pelos tiras.

Nós nunca consertamos a janela. Teria dado muito trabalho. Pessoas iam parar dentro da casa, localizada perto do Whisky A Go-Go, depois de horas de festa mesmo tendo a janela quebrada ou deformada, a porta da frente estragada, que só poderia ser fechada se nós dobrássemos um pedaço de cartolina e enfiássemos com força debaixo. Eu dividi um quarto com Tommy enquanto Nikki, aquele canalha, pegou o quarto grande para ele. Quando nos mudamos para a casa, nós combinamos de revesar e todo mês uma pessoa diferente poderia ficar com o quarto individual. Mas isso nunca aconteceu. Era trabalho demais.

Era 1981, e nós estávamos quebrados, com mil e sete libras que nosso gerente tinha dado para nós e poucas propriedades dizimadas em nosso nome. Na sala da frente tinha um sofá de couro e um estéreo que os pais de Tommy deram pra ele de natal. O teto era coberto com umas pequenas coisas redondas para abafar o som porque toda hora os vizinhos reclamavam por causa do barulho, nós poderíamos nos vingar com uma pancada no teto com um cabo de vassoura ou braços de guitarra. O tapete estava sujo de álcool, sangue e cigarros queimados, e as paredes estavam chamuscadas de preto.

O lugar estava infestado de vermes. Se nós quiséssemos ter usado o forno, nos teríamos que deixá-lo em alta por uns bons dez minutos para matar o ninho de baratas se rastejando lá dentro. Não podíamos pagar pesticidas, então para matar as baratas nas paredes nós tínhamos que espirrar spray de cabelo, acender um isqueiro perto do bico e queimar as desgraçadas. Claro, nos poderíamos pagar (ou dar ao luxo de roubar) coisas importantes como spray de cabelo, porque você tem que ter seu cabelo armado se você quiser tirar onda nos clubes.

A cozinha era menor que o banheiro, e apenas como apodrecimento. Na geladeira tinha geralmente um atum velho, cerveja, mortadelas Oscar Mayer, maionese vencida, e talvez uns cachorros quentes se fosse no começo da semana e nós tivéssemos roubado na loja de licor no andar de baixo ou os comprado com dinheiro economizado.

Normalmente, Big Bill, que ganhava 450 libras sendo ciclista e segurança do Troubadour (que morreu um ano depois de uma overdose de cocaína) poderia vir e comer todos os cachorros quentes. Seríamos muito assustadores se falássemos pra ele que era tudo o que a gente tinha.

Tinha um casal que morava descendo a rua e sentiu pena de nós, então vira e mexe eles traziam uma grande tigela de macarrão. Quando nós


fig.2


estávamos realmente pobres Nikki e eu saíamos com garotas que trabalhavam nos supermercados apenas para comer de graça. Mas nós sempre comprávamos nossa própria bebida. Isso era uma questão de orgulho.

Na pia da cozinha apodrecia as únicas louças que tínhamos: dois copos e um prato, que nós poderíamos enxaguar depois. Às vezes tinha casca de bolo suficiente no prato para raspar e que daria uma refeição completa, e Tommy não estava fazendo isso. Sempre que o lixo amontoava, nós abríamos uma pequena porta corrediça na cozinha e jogávamos para o quintal. De fato, o terraço teria sido um lugar legal, com uma churrasqueira e cadeiras, mas ao invés disso havia sacos de latas de cervejas e garrafas de bebidas empilhadas tão altas que nós tínhamos que esconder o lixo para impedir que isso caísse toda vez que abríssemos a porta. Os vizinhos reclamavam do cheiro e dos ratos que rodeavam o quintal todo, mas não tinha jeito de tocá-los, até que o Departamento De Saúde E Serviços De Los Angeles apareceu em nossa porta com papéis legais exigindo que limpássemos o desastre ambiental que tínhamos criado.

Em comparação nosso banheiro fez com que a cozinha se parecesse perfeitamente limpa. Nos nove ou alguns meses que moramos lá, nós nunca limpamos o banheiro. Tommy e eu continuávamos adolescentes: nós não sabíamos como. Havia tampões (*absorvente tipo OB) no chuveiro das garotas da noite passada, e na pia e no espelho havia cabelos do Nikki que tinham caído por causa da tintura. Nós não podíamos arcar com isso – ou nós éramos muito preguiçosos para arcarmos – papel higiênico, então tínhamos meia com mancha de merda, flyers de banda, e páginas de revistas espalhadas pelo chão. Atrás da porta tinha um pôster do Slim Whitman. Eu não tenho certeza do por que.

No quarto que eu e Tommy dividíamos era o da esquerda do corredor, cheio de garrafas vazias e roupas sujas. Cada um de nós dormia em um colchão no chão enrolado em um lençol velho branco que tinha ficado com cor de barata espremida. Mas nós pensávamos que éramos bem agradáveis porque nós tínhamos um espelho na porta do nosso closet. Ou nos éramos. Uma noite, David Lee Roth veio e sentou no chão cheio de porra, mantendo tudo do jeito dele quando a porta saiu da dobradiça e lhe acertou na parte de trás da sua cabeça. Dave parou seu monólogo durante meio segundo, e então continuou. Ele não parecia estar consciente que algo fora do normal tinha acontecido – e ele não perdeu uma parte da sua droga.

Nikki tinha uma TV em seu quarto, e um conjunto de portas que abriam para a sala de estar. Mas ele as mantinha fechadas por algum motivo. Ele sentava lá no chão, escrevia “Shout at the devil’’ enquanto todo mundo estava festejando em volta dele. Todas as noites depois que nós tivéssemos tocado no Whisky, metade da multidão voltaria para nossa casa e bebia e cheirava, usava heroína, Percodan, tranqüilizantes, e qualquer coisa que podíamos conseguir de graça. Eu era o único que aplicava por que uma mimada-rica, bi sexual, que dava para três de uma vez, proprietária de um 280Z, loira, chamada Lovey tinha me ensinado como injetar cocaína.

Lá poderia ter punks remanescentes como 45 Grave e os idiotas que iam à nossas festas do renascido metal como Ratt e W.A.S.P. bêbados no quintal e na rua. Garotas poderiam chegar de mala e cuia. Uma estava escalando a janela quando outra estava vindo da porta. Eu e Tommy tínhamos nossa janela, e Nikki tinha a dele. Tudo que precisávamos dizer era “Alguém está aqui. Você precisa ir embora”. E iam – embora às vezes, iam tão longe como o quarto do outro lado do corredor.

Uma mina ruiva que costumava ir lá era tão obesa que não conseguia escalar até a janela. Mas ela tinha um Jaguar XJS, que era o carro favorito de Tommy. Ele queria dirigir aquele carro mais do que tudo. Finalmente, ela disse pra ele que se ele a comesse, ela o deixaria dirigir o Jaguar. Nessa noite, Nikki e eu estávamos andando na casa procurando Tommy quando vimos sua calça esparramada pelo chão, e uma grande massa pelada em cima dele descendo e subindo. Nós apenas passamos por cima dele, pegamos um rum com coca, e sentamos no nosso dizimado sofá para assistir o espetáculo: eles pareciam um Volkswagen vermelho com quatro pneus fincados no traseiro e ficando mais chato a cada segundo. No segundo que Tommy acabou, ele abotoou sua calça e olhou para nós.

“Eu tenho que ir cara” ele sorriu radiantemente, orgulhoso. “Eu estou indo dirigir o carro dela’’

Então, ele tava fora – passando pela crosta da sala de estar, saindo pela porta da frente engordurada, passando pelos blocos de brasa, e dentro do carro, contente com ele mesmo. Essa não seria a última vez que encontraríamos esses dois abraçados na barganha.

Nós vivemos nesse chiqueiro muito tempo como crianças que ficam no útero antes de vazar com as garotas que nós encontrávamos. O tempo inteiro que ficamos lá, tudo o que nós queríamos era um contrato. Mas nós sempre acabávamos com bebida alcoólica, drogas, garotas, sujeira e mandatos judiciais. Mick, que estava morando com a sua namorada em Manhattan Beach, continuava nos falando que não tinha como conseguirmos um contrato. Mas eu acho que ele estava errado. Esse lugar fez com que o Mötley Crüe nascesse, e como um pacote de cachorros raivosos, nós abandonamos a puta, a deixamos com muito impulso, a testosterona estava em alta para divulgar um milhão de embriões bastardos de banda de metal.




30 de mar. de 2010

Introdução




NEW YORK TIMES BESTSELLER

THE DIRT

MÖTLEY CRÜE (1980) com Neil Strauss

Confissões da banda de rock mais notada do mundo

Tommy Lee, Mick Mars, Vince Neil e Nick Sixx





Dedicado para nossas esposas e filhos na esperança que eles possam nos perdoar pelo que nós fizemos.







CONTEÚDO

THE DIRT


PARTE 1

A casa Mötley 1


PARTE 2

Born too loose

(Nascido frouxo demais) 9


PARTE 3

Toast of the Town 43


PARTE 4

Shout at the devil 81


PARTE 5

Save our souls 123


PARTE 6

Girls, Girls, Girls 159


PARTE 7

Alguns dos nossos melhores amigos

eram traficantes de drogas 173


PARTE 8

Alguns dos nossos melhores amigos

eram traficantes de drogas 209


PARTE 9

Don’t go away mad 241


PARTE 10

Without you 285


PARTE 11

As armas, as mulheres, o ego 333


PARTE 12

O fim de Hollywood 399

Agradecimentos 429


A história aqui apresentada será contada por mais de uma caneta, como a historia de um crime contra as leis é contada em um tribunal por mais de uma testemunha.

- Wilkie Collins

“The woman in White” 1860 (A mulher em branco)