28 de jul. de 2010

(continuação 4) Capítulo 4 - Nikki

Nós achávamos que éramos as criaturas mais más na boa terra de Deus. Ninguém podia fazer isso mais difícil do que a gente e mais do que a gente, e sair dessa como a gente. Não tinha competição. Nós éramos os mais fodas, e as pessoas mais importantes achavam que nós éramos e mais eles forneciam o que nós precisávamos para ficarmos mais fodas ainda. As estações de rádio nos traziam as groupies; a gerência nos dava as drogas. Todo mundo que a gente encontrava tinha certeza que estávamos sempre fodidos e que iríamos nos foder ainda mais. Nós não achávamos nada sobre arrancar nossos pintos para fora e mijar no chão da estação de rádio durante uma entrevista, ou foder a apresentadora no ar se ela fosse um pouco decente. Nós pensávamos que nós tínhamos um elevado comportamento de animal para artistas. Mas daí nós conhecemos Ozzy.

Nós não estávamos tão animados quando a Elektra Records nos disse que eles tinham conseguido que abríssemos os shows do Ozzy na turnê Bark at the Moon. Nós tínhamos aberto algumas datas com o Kiss depois do Too Fast for Love, e não apenas eram dolorosamente chatos, mas Gene Simmons nos chutou da turnê por mau comportamento. (Imagine minha surpresa dezessete anos depois quando o homem de negócios Gene Simmons ligou enquanto eu escrevia esse capítulo, pedindo não apenas pelos direitos do filme The Dirt, mas também por exclusivos direitos do filme para a história do Mötley Crüe por toda a eternidade.)

Nós começamos a nos empolgar para a turnê do Ozzy na Long View Farm em Massachusetts, onde o Rolling Stones ensaiava. Nós ficávamos em palheiros e eu implorei para eles um onde o Keith Richards dormia, qual estava no celeiro. Nossos motoristas da limusine traziam para a gente muitas drogas e prostitutas da cidade que raramente nós podíamos manter nossos olhos abertos durante o ensaio. Tommy e eu mantemos um balde posicionado no meio de nós, se nós tivéssemos algo para jogar lá dentro. Uma tarde, nossa gerência e a gravadora veio para ver nosso progresso, ou falta disso, e eu continuei dormindo.

Mick, nosso cruel supervisor de controle de qualidade, se dirigiu até o microfone e anunciou para a massa reunida de pessoas de negócios e caixas automáticos, taxas diárias, e adiamentos: “Talvez nós pudéssemos tocar estas músicas para vocês se Nikki não ficasse a noite toda aplicando heroína.” Eu fiquei tão puto que eu joguei meu baixo no chão, fui até o microfone, e quebrei o pedestal na metade. Mick já estava na porta, mas eu o persegui pela viela rural, os dois de salto alto como duas putas em uma briga violenta.

fig.4

Mick com o Ozzy Osbourne


A turnê começou em Portland, Maine, e nós andávamos pela arena para achar Ozzy correndo durante a passagem de som. Ele vestia uma enorme jaqueta feita de pele de raposa e era enfeitada com libras de jóias de ouro. Ele estava no palco com Jack E. Lee na guitarra, Rudy Sarzo no baixo, e Carmine Appice na bateria. Essa não seria outra turnê do Kiss. Ozzy era uma estremecente, concentração de nervos e loucura, energia incompreensiva, que nos disse que quando ele estava no Black Sabbath ele tomau ácido todo dia durante um ano inteiro para ver o que aconteceria. Não há nada que Ozzy não tenha feito e, como resultado, não há nada que Ozzy possa se lembrar de que já fez.

Nós nos demos bem com ele no primeiro dia. Ele nos colocou debaixo da sua asa e nos deixou confortável para encarar vinte mil pessoas todas as noites, um encorajamento que nenhum de nós nunca teve. Depois do primeiro show, me deu uma sensação como na primeira vez que vendemos todos os ingressos no Whisky. Apenas aquilo era maior, melhor, e muito mais perto da linha de chegada, onde quer que fosse e qualquer coisa que fosse. O pequeno sonho que nós tínhamos juntos na Casa Mötley estava se tornando realidade. Nossos dias de matar baratas e foder por comida tinham acabado. Se o show no US Festival foi uma luz do que nós poderíamos nos tornar, então a turnê do Ozzy era um fósforo que deixou a banda toda em chamas. Sem isso, nós provavelmente seriamos uma dessas bandas de L.A. como London, estrelas que nunca se acenderam totalmente.

Ozzy dificilmente passava a noite no seu ônibus de turnê: ele sempre estava no nosso. Ele passava pela porta com uma bolsinha cheira de cocaína, cantando, “Eu sou o homem cocaína, fazendo toda a cocaína que eu posso, eu posso,” e nós cheiramos a cocaína a noite toda, até o ônibus parar e nós estivéssemos na próxima cidade.

Em um dos casos, a cidade era Lakeland, Florida. Nós saímos do ônibus no calor do sol do meio-dia e fomos direto para o bar, que era separado da piscina por uma janela de vidro. Ozzy arrancou suas calças e socou uma nota de um dólar no seu cu, daí entrou no bar, oferecendo o dólar para cada casal lá dentro. Quando uma velha começou xingar ele, Ozzy agarrou a bolsa dela e saiu correndo. Ele voltou para a piscina vestindo nada a não ser um vestidinho que ele tinha achado na bolsa. Nós estávamos rindo muito, embora nós não tivéssemos certeza se suas palhaçadas eram uma evidência de um terrível sendo de humor ou um severo caso de esquizofrenia. Mais e mais, eu acreditava no último.

Nós estávamos saindo, nós com camisetas e couro, e Ozzy no vestido, quando de repente Ozzy me cutucou. “Hey, amigo, eu to vendo uma carreira.”

“Cara,” eu disse pra ele, “nós estamos sem cocaína. Talvez eu possa mandar o motorista ir buscar um pouco.”

“Dê-me o canudo,” ele disse, destemido.

“Mas, cara, não tem cocaína.”

“Dê-me o canudo. Eu tenho uma carreira.”

Eu dei o canudo pra ele, e ele foi até a calçada para quebrar e se curvou. Eu vi uma longa fileira de formigas, marchando para um pequeno abrigo de areia onde a calçada se juntava com a sujeira. E enquanto eu pensava, “Não, ele não vai fazer isso,” ele fez. Ele colocou o canudo no seu nariz e, com seu cu branco pelado aparecendo por baixo do vestido como uma fatia de melão, mandou a fileira inteira de formigas pelo seu nariz com uma única, monstruosa cheirada.

Ele ficou de pé, levantou sua cabeça, e deduziu com uma fungada poderosa com a narina direita que provavelmente tinha mandado uma formiga perdida ou duas para sua garganta. Daí ele levantou seu vestido, pegou seu pinto, e mijou na calçada. Sem olhar para o seu grande público – todo mundo da turnê estava observando ele enquanto a velha e famílias na piscina estavam tentando não fazer isso – ele se ajoelhou, deixando o vestido encharcado na poça, e lambeu isso. Ele não apenas encostou sua língua, ele lambeu um monte, vagarosamente, e completamente, como um gato. Daí, ele levantou e, com os olhos e a boca cheios de urina, olhou diretamente para mim. “Faça isso, Sixx.”

Eu engoli e suei. Mas isso era uma pressão amiga que eu não podia recusar. E também, ele tinha feito muito pelo Mötley Crüe. E, se nós queríamos manter nossa reputação como a banda de rock mais cretina, eu não podia desistir, não com todo mundo olhando. Eu abri minha calça e coloquei meu pinto pra fora de um jeito que dava para todos no bar e na piscina verem. “Eu não me importo,” eu pensei para me assegurar enquanto eu estava mijando. “Eu irei lamber meu mijo. Quem se importa? Isso veio do meu corpo de qualquer forma.”

Mas, enquanto eu estava me curvando para terminar o que eu tinha começado, Ozzy se tacou e me tirou de lá. Lá estava ele, de quatro nos meus pés, lambendo meu mijo. Eu estendi minha mão: “Você venceu,” eu disse. E ele disse: a partir desse momento, nós sempre saberemos que em qualquer lugar que nós estivermos, qualquer coisa que estejamos fazendo, tem alguém que é mais doente e mais nojento do que nós somos.

Mas, diferente de nós, Ozzy tinha um bloqueio, um limite, uma consciência, um breque. E esse bloqueio veio na forma de uma pequena mulher britânica, rústica, rechonchuda cujo nome deixa lábios tremendo e joelhos batendo: Sharon Osbourne, uma grosseira e disciplinadora como nenhuma outra que tínhamos conhecido, uma mulher cuja presença pode em um instante nos fazer ter nossos medos de infância de autoridade de volta.

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