16 de jun. de 2010

(continuação 4) Capítulo 5 - Nikki

Uma noite, Vince, Stephanie e eu estávamos indo pro Rainbow, usando narcóticos e comendo escargot, e vomitando debaixo da mesa a cada quinze minutos. Nós ficamos bêbados, a levamos de volta pra casa, e todo mundo acabou na cama do Vince. Isso não fazia meu tipo: Tommy e Vince sempre fodiam um monte de garotas juntos. Mas tendo um cara junto arruinava o momento pra mim. Eu não conseguiria acabar e depois ir pro meu quarto deixando os dois sozinhos. Essa foi a última vez eu vi Stephanie pelada, porque uma vez que você coloca uma garota rica com carro junto com Vince, está tudo acabado. Eles namoraram por meses depois disso e estavam quase pra casar quando Vince achou uma garota mais rica, Beth, com cabelo loiro e um carro melhor, um 240Z.

Eu não sei como nós conseguimos praticar esse tipo de incesto, festejando um próximo nível como uma banda, sendo que nem acreditávamos que um próximo nível existiria. Era apenas juntar pessoas em nossos shows e ter certeza que elas iriam embora falando da gente. Nós até ligamos para a Elvira uma noite, que concordou de nos apresentar se Coffman pagasse para ela quinhentos dólares e a buscasse em um carro de luxo. Quanto mais nós vivíamos juntos, melhores os shows se tornavam porque nós tínhamos mais tempo de inventar palhaçadas. Vince começou serrar as cabeças dos manequins. Blackie Lawless parou de se botar fogo porque estava cansado de queimar sua pele, então eu comecei a fazer isso, porque eu não estava nem ai pra porra da dor. Eu poderia engolir percevejos ou uma garrafa fodida se isso trouxesse mais pessoas pros nossos shows.




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Com a Elvira no backstage em Santa Monica Civic Center, New Year's Evil Show, 1982

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Nikki com a Lita Ford

A cada show, o cenário do nosso palco ficava cada vez melhor: Mick tinha uma dúzia de luzes que ele tinha comprado do Don Dokken e um sistema de auto-falantes que ele tinha roubado da sua banda antiga Top 40, White Horse. Nós tínhamos um lençol sujo e manchado de sangue que arrancamos da cama do Tommy e pintamos nosso nome com letras grandes e pretas. Inspirados pelo Queen, Tommy e Vince construíram um palco para a bateria três camadas acima do palco normal: uma estrutura dois por quatro pintada de branco com um tecido liso preto em cima, e com quinze pisca-pisca instalados e caveiras e baquetas. Isso pesava uma tonelada e era uma merda montar cada show. Nós também fizemos pequenas caixas de vidro plástico com luzes que nós poderíamos subir, fazer poses, e saltar. O show inteiro era uma mistura de tudo o que parecia legal e barato para nós. Nós pintamos as peles da bateria, colocamos candelabros por todo o palco, colocamos lenços em todos os lugares que podíamos, decoramos nossas guitarras com fitas coloridas, enrolávamos fios de telefone envolta de nós, e usávamos as músicas mais pesadas que nós conhecêssemos para animar a platéia antes dos nossos shows.

Quando nós vendíamos todos os ingressos dos shows no Whisky, eu ficava tão feliz que eu ligava pros meus avós e falava, “Vocês não vão acreditar nisso! Nós vendemos todos os ingressos de três noites no Whisky. Nós estamos conseguindo.”

“Conseguindo o que?” ele falava. “Ninguém nem sabe quem você é.”

E ele estava certo: nós estávamos vendendo todos os ingressos, mas nenhuma gravadora podia fazer um acordo com a gente. Eles nos diziam que nossos shows eram muito instáveis e não tinha jeito da nossa música tocar na rádio ou ficar no topo das paradas.

Heavy metal estava morto, eles sempre nos diziam; new wave era tudo o que importava. A não ser que nós parecêssemos com o Go-go’s ou o Knack, eles não estavam interessados. Nós não sabíamos sobre topo das paradas ou diretores de programas de rádio ou new wave. Tudo o que nós sabíamos era sobre pilhas de Marshalls de rock n’ roll explodindo nos nossos sacos e como cheirar, usar narcóticos, tranqüilizantes, e álcool que conseguíamos de graça.

A única razão que eu queria ter um contrato com a gravadora era pra eu poder impressionar as garotas e dizer para elas que eu tinha um. Então nós resolvemos esse problema e criamos a nossa própria empresa, Leathür Records. Nós marcamos hora no estúdio mais barato que achamos: sessenta dólares a hora num lugar super pequeno em um trecho horrível da Olympic Avenue. Mick gostou do lugar porque lá tinha uma placa do Trident e salas totalmente pequenas que ele disse que era bom um efeito natural ao som. Mick dispensou o engenheiro da casa e trouxe Michael Wagner, um alemão jovem, angelical que estava na banda Accept. Juntos, nós criamos Too Fast For Love em três dias embriagados. Nós não conseguíamos ninguém para divulgar o álbum, Coffman fazia isso, dirigindo por ai no seu carro Lincoln alugado, tentando convencer as lojas de discos pra fazer algumas cópias. Dentro de quatro meses, de qualquer forma, tínhamos um distribuidor (Greenworld) e tínhamos vendido vinte mil álbuns, que não estava mal para um disco que tinha sido gasto apenas seis mil dólares para fazer.

Nós celebramos o lançamento do álbum com uma festa no Troubadour, que era um dos meus clubes favoritos porque tinha um cara lá que eu realmente curtia espancar. Ele tinha cabelo comprido e nos idolatrava, mas ele era uma peste e sofria merecidamente para isso. Eu tinha acabado de empurrá-lo para cima do Tommy, que estava parado atrás dele, quando eu vi uma garota com o cabelo loiro claríssimo, bochechas rosadas, sombra de olho azul escuro, calças de couro justíssimas, um cinto punk, e botas pretas altas e justas.

Ela veio e disse, “Oi, eu sou a Lita. Lita Ford dos Runaways. Qual é o seu nome?”

“Rick,” eu disse.

“Sério?” ela disse.

“Sim, eu sou o Rick,” eu estava de saco cheio de mim mesmo, e tinha certeza que todos já sabiam o meu nome.

“Desculpa,” ela disse, “eu achei que você fosse outra pessoa.”

“Bom, você achou errado,” eu sorri desdenhosamente, com o nariz empinado como sempre.

“Isso é muito ruim Rick,” ela disse, “porque eu queria quebrar com você.”

“Você quem?” eu comecei a prestar atenção.

“Eu pensei que você era o Nikki.”

“Eu sou o Nikki, eu sou o Nikki!” eu praticamente babei como um cachorro em perseguição de um banquete.

Ela cortou o comprimido na metade e socou na minha boca, e foi isso.

Nós começamos a conversar e a sair juntos. Antes de encontrá-la, eu pensava em todas as mulheres como eu pensava da minha primeira namorada, Sarah Hopper, como pestes que são usadas como alternativas para masturbação. Mas Lita era música, e eu podia contar com ela. Ela era legal, normal e inteligente. No temporal que minha vida tinha se tornado, lá estava uma pessoa que eu poderia estar sempre junto, alguém que me manteria com os pés no chão.

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