29 de out. de 2010

Capítulo 5 - Mick

Capítulo 5

Mick

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Da amargura de uma descoberta de Mick que ele tinha voltado de uma úmida sepultura enquanto um amigo tinha deixado sua vida em seu lugar.

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Eu tinha certeza que eu estava morto. Eu acordei na praia, e o céu e o mar estavam com um tom preto. Tinha uma luz brilhante vindo de longe, e eu estava andando em direção a ela. Era o vidro da janela da casa do Vince. Eu olhei para dentro pra ver Beth, Tommy, Andy, e algumas outras pessoas na sala de estar. Mas eles não estavam se divertindo. Eles estavam sentados em silêncio, parecendo que estavam tristes, como se alguma coisa terrível tivesse acontecido. Quando eles falavam, parecia que eles estavam sussurrando. Tinha lágrimas nos olhos de Beth e do Tommy. Eu imaginei que eles estivessem chorando por minha causa: que eu tinha me afogado na água e eles tinham descoberto meu corpo. Eu era apenas uma alma ou um fantasma ou algum tipo de espírito, preso na Terra em limbo por punição da minha vida ou do meu suicídio. Mas onde estava A Coisa? Por que ela não estava lá chorando com eles? Depois de tudo, primeiramente eu tinha me tacado na água para chamar a atenção dela. Talvez ela estivesse com o meu corpo no necrotério.

Desde que eu era um fantasma, objetos materiais não poderiam continuar no meu caminho. Então eu tentei andar através da janela de vidro pra entrar na sala pra ouvir o que Tommy e Beth estavam dizendo sobre mim. Foi ai que eu realmente me machuquei. O barulho do meu corpo colidindo através da janela chocou todo mundo na casa de volta pra vida. Eles correram até a janela e olharam em pânico, apenas pra me achar deitado de costas na areia.

“Por onde você esteve, cara?” Tommy exclamou quando ele me viu.

Eu soube que estava vivo depois disso.

Quando eles me disseram sobre o acidente, Beth disse que um monte de gente pensou que eu estivesse no carro: Razzle tinha ficado tão desfigurado que ele ficou parecido comigo. Isso não teria feito diferença, porque estava acabado pro Mötley Crüe, até o ponto que eu fiquei preocupado. Eu costumava ser um vagabundo, e eu sempre voltava a vadiar e a me espatifar no sofá.

Quando eu fui pra casa, eu estava agitado. Eu apenas pensei, “Álcool é uma merda,” e daí eu comecei a beber mais ainda do que eu já tinha bebido. A Coisa logo deixou a casa. Eu comprei um BMW 320i; e uma noite eu estava em casa conversando com o baterista do White Horse sobre o quão fodida minha relação estava. Ele queria ver o BMW, então eu abri as cortinas para mostrar pra ele, e o carro não estava lá. Eu liguei pra polícia e disse a eles que minha namorada tinha roubado meu carro. “Ok,” eles me disseram. “Nós sairemos e vamos procurá-la. E se nós a vermos com o carro, nós atiraremos nela, ok?”

“Não importa,” eu disse.

“Ela irá voltar, não se preocupe,” o policial disse e desligou.

Mas ela nunca voltou. Eu sempre fui fiel com qualquer pessoa que eu estivesse namorando, porque se você trair sua esposa ou namorada, você começa a acreditar que ela está fazendo a mesma coisa com você e isso dá medo e desconfiança e eventualmente destrói o relacionamento. Mas as mulheres que eu namorei e casei nem sempre se sentiam da mesma maneira: elas transavam com qualquer pessoa que elas queriam e voltavam pra casa e diziam, “Oi, amor, o que está acontecendo?” Eu não sei como uma pessoa consegue fazer isso com uma pessoa que elas supostamente estariam amando, então elas faziam isso comigo, e eu supunha que elas não estavam me amando mais. E foi isso que aconteceu com A Coisa. Eu achei meu carro do lado de fora da casa de um boxeador profissional. Quando eu a confrontei, ela disse, “Vá se foder. Eu estou com ele. Ele é muito mais novo.” Embora ela nunca tenha dito isso, eu senti que ela pensava que ele era melhor que eu, que ele poderia ter mais dinheiro. Eu sempre dizia pra ela que em anos eu teria muitos milhões.

“Boa sorte com a sua pobreza,” eu disse a ela, convencido, embora dentro eu estava confuso como uma puta na igreja. Eu fui pra casa, paguei o último mês de aluguel, e disse pro empresário que eu estava me mudando e A Coisa estava responsável pela casa agora.

Eu me sentia velho, cansado, e imprestável: muito velho pra conseguir outra namorada nova e bonita, e muito velho pra achar outra banda como o Mötley Crüe. Demais para uma mulher jovem, milhões, e estádios de shows. Eu poderia viajar pelo país, tocando na rua por dinheiro como Robert Johnson – eu apenas mudei meu modo de pensar. Então eu mudei pra um apartamento na Marina Del Rey e comecei fazer uma lavagem cerebral em mim com álcool. Toda noite antes de eu ir pra cama, eu me sentia ficando mais inchado, como um porco suado e nojento. E não me ocorreu de visitar Vince na reabilitação. Eu não estava bravo com ele, mas eu estava chateado. Mesmo eu sabendo que não foi culpa dele, eu não conseguia esquecê-lo.



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