12 de out. de 2010

Capítulo 4 - Nikki

Capítulo 4

Nikki

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Apesar de refletir a imortal charada, “O que você faz depois da orgia?” Nikki é informado por um mensageiro apócrifo que Vince tinha acabado de descobrir a resposta.

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Quando eu voltei para casa depois da turnê do Shout, eu não sabia o que fazer comigo. Nós estivemos na estrada durante treze meses, e nessa época eu tinha perdido minha namorada, nossa casa, e a maioria dos meus amigos. Eu estava dormindo em um colchão de merda e comendo fora de uma caixa de isopor. Eu me sentia solitário, depressivo, e louco. Essa não era a maneira que rock stars deveriam viver.

Então Robin Crosby, um fotografo chamado Neil Zlozower, e eu decidimos ir para Martinique. Essa era uma viagem bizarra porque eu estive em outra farra e eu estava incapacitando de fazer qualquer coisa por mim. Alguém me levou ao aeroporto e me colocou em um avião pra Miami, daí alguém me colocou em outro avião, daí alguém me levou até a alfândega, e a próxima coisa que eu soube era que eu estava em um bar numa piscina em uma ilha maravilhosa com mulheres sem blusa por toda parte. Essa era a coisa mais perto do paraíso que eu já tinha visto na minha vida.

Depois de uma semana me divertindo em Martinique, nós voamos pra Miami. Enquanto eu saia do avião, um homem alto com um blazer azul veio correndo até mim.

“Nikki, Nikki,” ele gritou. “Seu vocalista está morto.”

“O que?” eu perguntei.

“Vince morreu em uma batida de carro.”

Meus joelhos ficaram fracos, eu fiquei tonto, e desmaiei no chão. Essa não era uma parte do plano, isso não era pra ter acontecido. O que estava acontecendo? Eu não tinha lido nenhum jornal, assistido TV, ou falado com alguém enquanto eu estava longe. Eu fui até um telefone público e liguei pra gerência.

“Aconteceu um acidente,” Doc disse.

“Meu Deus, então é verdade!”

“É,” ele disse. “Vince está fodido pra caralho.”

“Ele está. Ele está morto, cara.”

“Do que você está falando?” Doc perguntou. Daí ele me contou a história: Razzle estava morto, Vince estava na reabilitação, e todo mundo estava depressivo, confuso, e chateado.

Eu peguei o próximo avião para Los Angeles e fui para o apartamento que eu dividia com o Robbin. Eu liguei pro Michael Monroe e Andy McCoy do Hanoi Rocks, e todos nós desaparecemos em uma amizade estranha e intensa combinada com morte, drogas, e autodestruição. Michael sentava o dia todo, penteando seu cabelo, fazendo maquiagem, e tirando sua maquiagem, e daí fazendo de novo.

“Você poderia ser um travesti,” eu disse a ele um dia depois de eu ter ido procurá-lo no banheiro no Rainbow, apenas para descobrir que ele estava usando o banheiro das mulheres.

“Não, cara,” ele respondeu enquanto ele esfregava base no seu rosto. “Eu apenas gosto do jeito que eu sou.”

“Mas isso não significa que você tem que usar o banheiro das mulheres.”

“Eu sempre uso o banheiro feminino,” ele me disse, “porque sempre que eu uso o banheiro dos homens, eu entro em uma briga porque alguém me chama de bicha por fazer maquiagem no espelho.”

Eu estava discordando em cheirar cocaína desde os dias que o Vince estava saindo com a Lovey e aparecendo nos shows com roupão. Mas com os caras do Hanoi Rocks, eu comecei a combinar isso com a minha heroína toda hora. Eu nem ligava pro Mick ou pro Vince. Eu não sabia o que fazer comigo: eu tinha realizado vários sonhos com o Shout at the Devil. Essa foi a orgia do sucesso, garotas, e drogas que sempre quis. Mas, agora, eu estava confrontado com um novo problema: O que fazer depois da orgia?

A única coisa que eu conseguia pensar para fazer depois da orgia era ter outra, maior ainda, então eu não teria que lidar com as conseqüências da outra. Vince estava nos jornais todos os dias, e eu estava tão drogado que eu perguntava, “Por que Vince está nos jornais?” E alguém falava, “É por causa da acusação de homicídio culposo.” E eu falava, “Ah é,” e aplicava de novo.

Vince era meu companheiro de banda, meu melhor amigo, meu irmão. Nós tínhamos acabado de finalizar a turnê mais bem sucedida que uma pequena banda teria a possibilidade de ter no começo de sua carreira; nós tínhamos experimentado as melhores horas juntos; nós tínhamos compartilhado tudo, da minha namorada para a esposa de Tommy para o serviço de quarto de groupies. E eu não tinha ligado pra ele, eu não tinha o visitado, e eu não tinha o apoiado de maneira alguma. Eu estava, como sempre, apenas interessado em me satisfazer. Por que eu não estava lá por ele? Qual era a razão? As drogas eram tão poderosas assim? Quando eu pensava sobre Vince, não era com dó; era com raiva, como se ele fosse o pior cara e o resto da banda fossem inocentes vitimas do seu delito. Mas todos nós usávamos drogas e dirigíamos bêbados. Isso poderia ter acontecido com qualquer um de nós.

Mas não aconteceu. Isso aconteceu com Vince. E ele estava na reabilitação contemplando sua vida e seu futuro enquanto tudo o que eu podia fazer era ficar em casa e contemplar o próximo tiro de cocaína que eu ia mandar para minhas veias. Tommy estava fora se divertindo no Rainbow com Bobby Blotzer do Ratt, Mick estava provavelmente sentado nos seus degraus da frente cuidando do soco no olho, e o Mötley Crüe estava morto no portão de entrada.


Fig. 2
Da esquerda: Nikki, Robbin Crosby e um guia em Martinique.

Um comentário:

  1. Agora eu finalmente consegui chegar a ponto de acompanhar tudo. x)
    Beijo, menina. E parabéns de novo! ;**

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