6 de dez. de 2010

Capítulo 8 - Nikki

Capítulo 8

Nikki

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Uma mensagem que avisa os leitores mais influenciáveis a respeito de uso incontrolável de narcóticos. Particularmente na presença de revólveres, magistrados, e recipientes de lixo grande o suficiente para acomodar corpos humanos.

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No dia que a sentença do Vince proferiu, eu estava em casa com a Nicole. Quando eu atendi ao telefone, tinha uma agulha no meu braço. Nós tínhamos sidos agendados em uma turnê na Europa com o Cheap Trick em dois meses, e eu tinha isolado tanto o Vince que eu não me importava quantos anos ele ficaria sentenciado, desde que isso não fodesse a turnê, porque Cheap Trick sempre foi uma grande influência e agora eles iriam ser nossa banda de abertura. Quando eu ouvi dizer que eram apenas trinta dias, apesar de tudo, meu coração se derreteu e meus olhos encheram de água. Ele iria ficar bem, e a banda iria continuar sã e salva, mesmo que nós não merecêssemos isso. Daí eu injetei e cochilei.

Heroína era o meu segredo e de Nicole, e por causa disso ninguém na banda imaginava o quão ruim eu estava ficando. Eu nunca disse pro nosso empresário ou pros seguranças que eu estava injetando: eu sempre pegava heroína sozinho. E mesmo eu ainda não tivesse ficado patético, eu estava lentamente chegando lá. A ironia disso tudo foi que mais tarde eu soube que nosso contador tinha originalmente me colocado com Nicole porque ele pensou que a influência dessa limpa, prazerosa garota poderia me por na linha. Ele subestimou muito bem meus poderes, ou falta disso. Eu aprendi isso quando nós fomos pro Japão.

Eu não levei nenhuma droga comigo, imaginando que poderia ser um bom modo de parar, mas no fim da viagem de avião, eu comecei a ficar doentio. No hotel, eu comecei a suar, meu nariz estava escorrendo, minha temperatura abaixando, e meu corpo começou a se sacudir. Eu nunca senti nada como isso antes quando não usava drogas. Eu sempre penei que eu era mais forte do que qualquer droga, que eu era muito inteligente para ser dependente ou algo assim, que apenas idiotas sem força de vontade ficavam viciados. Mas no meu quarto de hotel, eu cheguei à conclusão que ou eu estava errado ou eu era um idiota. Eu peguei meu pequeno toca-fitas da minha bolsa e coloquei o primeiro álbum da Lone Justice, que tinha acabado de ser lançado. Eu o ouvi repetidas vezes durante vinte e quatro horas enquanto eu fiquei deitado acordado, muito mal pra dormir.

Depois de dois dias passando mal sem drogas, eu percebi que eu era de fato um viciado. A banda tinha mudado de um demônio contente, divertido pra algum tipo de criatura nômade amarga, com a pele grossa e calejada. Nós estávamos cansados, nós nunca tínhamos parado em anos, e eu tinha me tornado grosseiro e medíocre.

Mas eu estava em um país onde fãs me davam pequenos bonecos, faziam desenhos pra mim, diziam que amavam meu cabelo, e vinham até mim chorando. Através da minha doença, eu podia perceber que pela primeira vez, eu estava tendo um pouco do amor que eu tinha procurado por um tempo na música. E em troca eu aterrorizei o país, destruindo tudo no meu caminho, e bebendo tudo que eu podia para apagar tudo. Eu estava com medo, do amor, do vício, e nojo de mim mesmo.

Um comentário:

  1. Otimo trabalho!!! Esse livro merece uma tradução, parabéns pela iniciativa

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