8 de nov. de 2010

Capítulo 6 - Nikki (continuação)

Desde o acidente do Vince, nós quatro começamos nos isolar e ter vidas separadas. Especialmente Vince. Quando nós saímos pra turnê do Theatre of Pain, ele ficou de fora. Por alguma razão, nós continuávamos o vendo como o garoto mau e o isolando. Ele estava com problemas, mas nós não. Então se eu o visse com uma cerveja depois do show, eu brigava com ele. Por um lado, ele merecia isso, porque se ele fosse pego, o juiz poderia crucificá-lo no julgamento. Mas por outro lado, lá estava eu o repreendendo por beber uma cerveja enquanto eu tinha uma garrafa de Jack na minha mão e uma seringa na minha bota direita.

Então enquanto todo mundo estava ocupado mantendo Vince longe da bebida, ninguém imaginava que eu estava progressivamente ficando pior. Numa noite antes nós supostamente gravarmos o clipe da “Home Sweet Home” em uma pausa da turnê no Texas, eu peguei Vince no bar do hotel e disse pro Fred Saunders, nosso segurança, para mandá-lo para o quarto dele com uma garota. Enquanto isso, eu tinha um pouco de cocaína que eu queria misturar com alguma coisa. Então eu disse pro Fred que eu precisava de algumas pílulas. Ele voltou com quatro pílulas gigantes azuis na sua mão, e avisou, “Não use mais do que uma disso aqui. Elas irão te apagar.”

Eu o agradeci e peguei uma stripper loira com uma bota de cowboy até a coxa, calças jeans Jordache apertadas, e grandes tetas falsas saindo do seu top vermelho. Nós fomos pro meu quarto, e eu engoli um quinto de whiskey, e cheirei e injetei o máximo de cocaína que eu pude, e engoli as quatro pílulas em um gole. Eu apenas ofereci a ela umas migalhas do que restava de cocaína, porque eu não me importava. Eu estava usando para encher tudo à vista no meu sistema, porque eu tinha descoberto que minha forma favorita de entretenimento era misturar tudo e ver o que aconteceria com o meu corpo.

Nessa noite em particular, meu corpo alcançou esse objetivo. Conforme tomei as pílulas, minha cabeça começou a queimar, e eu senti um louco choque de energia me rasgando. Imagens da minha mãe e do meu pai flutuavam na frente dos meus olhos. Eu tinha esquecido tudo a respeito do meu pai desde quando eu tinha mudado meu nome, mas agora todo o solitário ressentimento e raiva que eu nunca tinha confrontado com ele voltou. Minha mente sempre foi como um trem, correndo adiante cheio de velocidade toda hora e parando por nada. Mas de repente isso descarrilou. Eu saltei em cima da mesa, e comecei a arrancar meu cabelo, gritando. “Não sou eu! Eu não sou o Nikki! Eu sou outra pessoa!”

A loira talvez achou que ela viria pro meu quarto pensando que ela iria transar com Nikki Sixx, mas agora ela tinha um Frank Ferrana louco para lidar, um nerd do ensino médio que tinha surgido aterrorizando na pele de um rock star. A loira pegou a lista do hotel e ligou pro Fred. Ele correu pro quarto e me tirou de cima da mesa. Eu cai no chão e comecei a ter convulsões enquanto uma espuma branca começou a vazar da minha boca. Fred tentou fazer com que eu mordesse o rolo de papel higiênico, mas eu comecei a gritar. Meio berro, e de repente eu desmaiei.

Quando eu acordei de manhã, eu estava calmo, mas eu realmente fiquei melhor. Uma limusine me levou até a gravação do vídeo e alguém me colocou as roupas completamente glam do Theatre of Pain. A gravação iria ser meio dia no palco, e enquanto eu esperava, eu fiquei andando por debaixo do palco. Eu encontrei um cara lá embaixo, e nós tivemos uma longa conversa sobre família e música e morte. Quando chegou a hora da gravação, eu estava chateado por ter sido interrompido.

“Nikki,” disse Loser, meu técnico do baixo. “Com quem você está falando?”

“Estou conversando. Deixe-me sozinho.”

“Nikki, não tem ninguém aí.”

“Deixe-me sozinho!”

“Calma, cara. Você está fora de si.”

Nós gravamos algumas cenas no backstage, beijando pôsteres de meninas como Heather Thomas que nós colocávamos na parede em cada cidade, daí fomos pro palco. Eu me senti como se eu tivesse usado ácido ou estimulante na mesma hora, e continuava bebendo whiskey para tentar me matar. Meus olhos estavam tão fodidos que eu não conseguia ver nada e tive que usar óculos de sol para o vídeo. Eu mal podia andar, então eles alinharam duas dúzias de pessoas na frente do palco para ter certeza que eu não iria cair.

Eu tinha que admirar Vince porque ele nunca me disse uma palavra maliciosa sobre o quanto eu estava fodido. Mas isso porque provavelmente ele mesmo tinha descoberto a alegria das pílulas. Ele tomava uma pílula em silêncio, na dele, e escapava das pressões de estar em uma turnê com a gente, de discursar em escolas do ensino médio em toda cidade, de falar com terapeutas sobre o acidente toda hora, de não poder beber, e de não saber semana pós semana se ele iria estar em turnê ou na cadeia.

Nós pensávamos em nós como um exército ou uma gangue. Isso porque, pra turnê, nós compramos um avião privado e o pintamos de preto com um pinto gigante e bolas na cauda, então toda hora que nós aterrizávamos parecia que estávamos vindo para foder a cidade. Mas ao invés de agirmos como invasores, nós começamos a nos tornar comandantes rivais. Cada um de nós atraiamos diferentes soldados depois de cada show. Os drogados e maconheiros e garotos que gostavam de falar “cara” saiam com o Tommy, que estavam interessados na sua fase de se vestir tipo Sisters of Mercy e Boy George; os nerds de guitarra corriam pro Mick; os drogados me pegavam pra uma longa conversa sobre livros ou discos; e Vince se isolava na sua concha. Ele pegava uma garota, e voltava pro ônibus ou pro seu quarto de hotel e fazia isso.

Talvez isso o fizesse se sentir salvo. Ele não podia confiar mais na gente porque nós o abandonamos, mas ele tinha achado uma garota, e ela deveria amá-lo com seu corpo inteiro e coração naquela noite, e ele estava em uma situação que era familiar, que ele podia controlar, e que o manteria distraído. Sem pensar nisso, Tommy, Mick, e eu desenhamos uma linha e colocamos Vince do outro lado. E conforme nós continuávamos nos divertindo enquanto o fazíamos ficar sóbrio, mais grossa essa linha ficava, até a terra rachar e Vince ficar sozinho em um pequena rachadura de pedra, separado do resto de nós por um abismo que todas as pílulas, garotas, e terapeutas no mundo não podiam atravessar.

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